sábado, 16 de maio de 2015

[1510] Ainda o livro "Cartas de Cabo Verde", de Luiz de Saldanha Oliveira e Souza (1947)

"(...) Estes pensamentos ocorrem-nos enquanto contemplamos a vastíssima baía de S. Vicente, semi-circular, limitada do lado Este pelo Pico da Vigia e do lado oeste pelo Monte da Cara. Neste, o recorte da cumeada faz lembrar perfil de rosto humano, e por tal semelhança lhe deram a sua denominação. Alguns vêem naquele contorno o perfil de Washington. Não sei em que se fundamentam, nem consigo descobrir a que propósito surge tal comparação. 

Aquele recorte não evocará antes o perfil dalgum gigante Adamastor, derrubado pelo valor e audácia dos antigos portugueses? Ou porventura e por isso muitos lhe chamam o Monte da Cara do Infante, não estará ali um dos da ínclita geração, algum dos altos infantes, o próprio D. Henrique, a guardar estas paragens?

Juiz rigoroso e implacável, o Infante navegador mantem-se além, vigilante, no decurso dos séculos, a exigir contas aos vindouros, do uso que fizeram das terras, descobertas com tanto esforço e risco, e dos progressos que nelas realizaram ou deviam ter promovido.

Já não é preciso hoje derrubar Adamastores, ou devassar o Mar Tenebroso; mas há o imperioso dever de levantar este Arquipélago, da situação por vezes tão precária em que se encontra e auxiliá-lo a adquirir o grau de prosperidade que os seus habitantes merecem, pela sua constante e fiel dedicação à pátria e pelo seu esforço e frequentemente penoso labor. (...)"

1 comentário:

  1. Gostei desta
    "Já não é preciso hoje derrubar Adamastores, ou devassar o Mar Tenebroso; mas há o imperioso dever de levantar este Arquipélago, da situação por vezes tão precária em que se encontra e auxiliá-lo a adquirir o grau de prosperidade que os seus habitantes merecem, pela sua constante e fiel dedicação à pátria e pelo seu esforço e frequentemente penoso labor. (...)"
    Foi o que disse Adriano Moreira nos anos 60.
    A questão Cabo Verde foi muito mal tratada pelos políticos de Lisboa, tendo deixado perpetuar arrastar uma situação de vazio político no arquipélago que depois uns lobinhos maus conseguiram abocanhar em 3 meses, após o caos criado pelo vazio do poder em Lisboa no 25 de Abril de 1974. Bastava décadas antes encontrar soluções políticas internas dinamizar a elite social dar mais poder económico maior investimento no arquipélago. Mas Portugal estava fechado politicamente, em guerra e tinha Angola para se cuidar. O leite estava derramado e não adianta chorar. É só uma observação

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