sexta-feira, 27 de novembro de 2015

[1736] Dia 10 de Dezembro, Joaquim Saial apresenta o "Diário de Hein Semke - A Voz Interior" na Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

Em breve, mais informações. Por agora, deixamos aqui excertos de trabalhos que realizámos sobre o escultor alemão que adoptou Portugal por segunda pátria. Exposição no Centro de Arte Moderna, ver AQUI LANÇAMENTO ADIADO PARA JANEIRO OU FEVEREIRO, POR MOTIVOS DE MELHORIA DA TRADUÇÃO DO ALEMÃO PARA PORTUGUÊS - Iremos dando notícias

Diário de Notícias, 6.Maio.1989

Revista Artes Plásticas, Março-Abril.1991

"Livro da Árvore", Edição ACARTE, Fundação Calouste Gulbenkian, Junho.1995

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

[1733] Mais um barco afundado, mais um ataque alemão em águas das ilhas cabo-verdianas

Ocorrência 8 - O afundamento do "Lahore"

(ver sete anteriores ocorrências, em posts já lançados do Praia de Bote; clique na etiqueta Ocorrência, mesmo no final deste post)

Luís Filipe Morazzo
A Batalha do Atlântico foi um confronto marítimo que marcou a Segunda Guerra Mundial, travado no Atlântico entre as potências europeias do Eixo (Alemanha e Itália) e os Aliados. Inicialmente, os Aliados Reino Unido e França exerceram um bloqueio naval contra a Alemanha Nazi, com os eventos decorrentes da queda da França, a marinha britânica estendeu tal bloqueio à Itália fascista. A partir de 1941, as potências europeias do Eixo através de suas frotas de submarinos, progressivamente iniciaram tentativas seguidas de bloquear as rotas navais aliadas no Atlântico; visando impedir a chegada de suprimentos ao Reino Unido, especialmente (a carne da Argentina e o petróleo da Venezuela), à União Soviética, a chegada de tropas americanas no Teatro Europeu de Operações, bem como a utilização do Atlântico como rota de abastecimento para os Aliados nos Teatros de Operações da Ásia, e do Pacífico.

O Lahore
Durante os primeiros anos da Batalha do Atlântico, por motivos acima explicados, os Aliados pouco ou nada puderam fazer para conter a ameaça submarina nazi, mesmo com seus navios navegando em comboios. Karl Doenitz (Comandante da Kriegsmarine marinha alemã) também orientou seus capitães a fazerem uso da tática de "matilhas" (em alemão, Rudeltaktik): um comandante de submarino que localizasse um comboio aliado transmitia, por rádio, a sua rota a submarinos vizinhos, que se reuniam para atacar, à noite, o malfadado comboio de diferentes direcções e infligir-lhe pesadas perdas. Por conseguinte, um número assustador de navios mercantes e de combate foi posto a pique por hábeis comandantes alemães. Tanto que, por momentos, o ritmo no qual os navios aliados eram afundados superava a capacidade dos estaleiros em substituí-los

A acção que temos vindo a seguir envolvendo o comboio SL-67, é um bom exemplo da terrível tática de “matilhas”, utilizada por grande parte dos comandantes de submarinos alemães, que continuavam a obedecer escrupulosamente à ordem do seu chefe Nesta acção como temos vindo a acompanhar, destacou-se Wilhelm Schulz, comandante do U-124, só à sua conta acrescentou mais quatro marcas no periscópio do seu submarino, correspondentes aos sucessos representados pelos quatro navios afundados, durante o decorrer desta campanha.

Depois de termos abordado os dois primeiros ataques, respetivamente contra os navios Narrana e Harmodius, o foco aponta agora para o grande cargueiro Lahore, torpedeado quase em simultâneo com os anteriores, na medida em que, todos foram vítimas do mesmo lançamento de uma rajada de seis torpedos, efetuado entre as 5h47 e as 6h08, do dia 8 de Março, a NNE das ilhas de Cabo Verde.

O Lahore era um robusto cargueiro de 5304 toneladas de deslocamento bruto, construído em 1920, em Sunderland e pertencia a um grupo de quatro navios gémeos, todos encomendados pelo famosíssimo armador inglês, Peninsular & Oriental Steam Navigation Co. a fim de reforçar as ligações entre os portos da Grã-Bretanha com os das colónias do império, em particular os que ficavam mais a oriente, onde se destacava a Índia.


A carga a bordo era composta em especial por grandes partidas de madeira e chá, além de várias tonelada de correio e minério de ferro. Após o torpedeamento parte desta carga de madeira incendiou-se, obrigando a tripulação a abandonar o navio no dia seguinte. Todos os 82 tripulantes foram salvos pelo contratorpedeiro da escolta HMS Forrester que os transportou de seguida até Gibraltar.

sábado, 14 de novembro de 2015

[1732] Mais um texto sobre navios afundados nas águas de Cabo Verde na II Guerra Mundial

Ocorrência 7 - O primeiro grande erro de Hitler

(ver seis anteriores ocorrências, em posts já lançados do Praia de Bote; clique na etiqueta Ocorrência, mesmo no final deste post)

Luís Filipe Morazzo
Desde o início das hostilidades, os alemães estavam cientes de que o domínio aliado dos mares era uma potencial ameaça aos seus planos de guerra. Para comandar a frota de U-boats alemães, Hitler nomeou Karl Doenitz – que já possuía experiência como submarinista na Primeira Guerra Mundial, portanto compreendia as necessidades dos marinheiros e o potencial do submarino como arma de guerra. Mas a avidez do Führer por iniciar o conflito apanhou Doenitz de surpresa: ele contava com mais alguns anos de paz, até que pudesse dispor de uma frota com poder de fogo para ameaçar o comércio entre britânicos e norte-americanos. Em Setembro de 1939, início da Segunda Guerra Mundial, o almirante comandava “apenas” 57 submarinos – bem menos do que as 300 embarcações necessárias e pedidas há muito, para que um bloqueio contra a Grã-Bretanha fosse realmente efectivo. Embora no decorrer da guerra a construção de submarinos tivesse sido incrementada, chegou tarde demais para poder asfixiar o intenso tráfico marítimo, em redor das ilhas britânicas.

O Nardana
Continuando a seguir a saga do comboio SL-67, e em particular a ação desenvolvida por Wilhelm Schulz, o famoso comandante do U-124, vamos poder observar que entre as 5h47 e as 6h08 do dia 8 de Março de 1941, disparou uma salva de seis torpedos na direção do comboio SL-67, quando este se encontrava a navegar a NNE das ilhas de Cabo Verde, com rumo às ilhas britânicas. Em consequência deste ataque, quatro navios foram gravemente atingidos, tendo de seguida naufragado com graves perdas entre as suas tripulações, cerca de 70 homens. 

Deste grupo de quatro navios, já vimos os casos do Tielbank e do Harmodius, segue-se a terceira vítima a cair perante a acção dos torpedos do U-124, tratou-se do grande cargueiro Nardana, construído em 1919, com um deslocamento bruto de 8000 toneladas, comprimento de 142m, podendo atingir os 14 nós de velocidade, era propriedade de um dos maiores e conceituados armadores de sempre, a Bitish India Steam Navigation Co. Ltd. Empresa fundada em 1856, em 1922 a sua frota era composta por mais de 160 navios que praticavam rotas tão variadas como Inglaterra para a India, Austrália, Japão, Kenya, Tanganica, Africa do Sul e a partir da India perfaziam a cobertura integral do resto do grande império britânico, como Paquistão, Ceilão, Singapura, Java, Tailândia, Malásia, Golfo Pérsico.

O Nardana, após o seu torpedeamento, devido ao pesado carregamento que trazia a bordo, composto por 5500 toneladas de linhaça e 2500 toneladas de gusa de ferro e noz de palma, afundou-se rapidamente, levando para as profundezas do oceano, 19 membros de uma tripulação composta por 127 elementos.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

[1731] Ulil, na projecto

A capa do livro poderá ser assim ou apresentar-se algo diferente, mas no essencial terá este aspecto. 

E ele irá conter, em princípio, quatro capítulos: Gente das ilhas (e outra que tal) / Coisas de Cabo Verde / São Vicente, aquele país / América, América! Quanto ao título, está completamente definido.  

Até à saída, nada mais revelaremos sobre o book - que está a dar mais trabalho que todos os anteriores juntos. E que ainda demorará a ver a luz do dia... mas lá chegaremos.



terça-feira, 10 de novembro de 2015

[1730] Lançamento de nova edição do livro "Lisbon Blues", de José Luís Tavares, hoje, na Associação Caboverdiana de Lisboa


Ana Cordeiro, Germano Almeida e JLT 
José Luís Hopffer Almada, JLT, António Cabrita (apresentador) e o editor da Abysmo, João Paulo Cotrim
Durante a sessão de autógrafos

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

[1728] O afundamento do "Harmodius"

Ocorrência 6 - O afundamento do Harmodius

(ver cinco anteriores ocorrências, em posts já lançados do Praia de Bote; clique na etiqueta Ocorrência, mesmo no final deste post)

Luís Filipe Morazzo
A minha investigação continua na esteira do comboio naval SL-67, um dos 28 156 comboios organizados durante o decurso da segunda guerra mundial. Este sistema de organizar a navegação dos navios mercantes agrupados em comboios foi experimentado pela primeira vez no decurso da primeira guerra mundial, com resultados extremamente positivos. Ficou provado no decurso das duas guerras, que as perdas em navios mercantes a navegar isoladamente, foram em média, três a quatro vezes superiores, aquelas registadas no sistema de comboios. 

Este esquema de navegação organizada em comboio permitia que um grande número de navios mercantes pudesse usufruir da mesma cortina de defesa, providenciada por um grupo de navios de escolta, relativamente reduzido, mas que podia ser reforçada consoante a importância do número e do tipo da carga dos navios mercantes. Desta forma não só se otimizava os meios de defesa, que não abundavam, como se aumentava substancialmente as possibilidades de defesa, a um grande numero de navios mercantes em simultâneo.

O Harmodius
Os comboios navais eram todos referenciados por um código inicial, como exemplo, temos o nosso já conhecido, SL-67, onde na sigla SL o (S) dizia respeito à origem, Atlântico Sul (Freetown) e o (L), destino do comboio (Liverpool, Londres). Quanto ao número 67, era o resultado da ordem cronológica

Por sua vez todos os navios a navegar dentro de um comboio, eram identificados com um número, como exemplo, (112), em que o 11 dizia respeito ao número da coluna (sentido esquerda – direita) e o 2 ao número da linha onde o navio se encontrava posicionado (sentido frente – retaguarda do comboio).

Regressando de novo ao comboio SL-67 vamos encontra-lo ainda a navegar algures a NNE das ilhas de Cabo Verde, embora já desfalcado de um dos seus membros, o cargueiro inglês Tielbank, vítima de um torpedo lançado pelo U-124, na madrugada do dia 8-3-41, como aliás vimos na crónica anterior.

Ainda não tinha passado uma hora após este primeiro ataque, já se ouvia uma nova explosão em pleno coração do comboio, desta vez tratava-se do Harmodius, cargueiro inglês de 5.229 toneladas brutas, construído em 1919, com um carregamento pleno de 4000 toneladas de carga geral e 2000 toneladas de ferro gusa, pertencia ao armador Houston Line Ltd. 

Como foi mencionado na crónica anterior, este comboio foi vítima de um ataque combinado de vários submarinos, nomeadamente o U-105, o U-106 e o famoso U-124. Foi precisamente o U-105, que torpedeou o Harmodius, outro submarino da temível classe (IXB) comandado por um outro ás da Kriesgmarine, Georg Schewe, mais um herói alemão que sobreviveu à guerra com um curriculum invejável, condecorado com as cruzes de ferro de 1.ª e 2.ª classe, com 340 dias de navegação em 10 patrulhas, e com um score total de 16 navios inimigos destruídos assinalados no seu diário de bordo.

Infelizmente, o torpedeamento do Harmodius custou a vida a 14 membros da sua tripulação, tendo os restantes 61 tripulantes, entre os quais se encontrava o seu capitão Robert James Parry, sido salvos pelos contratorpedeiros Faulknor e Forrester que os transportaram de seguida até Gibraltar, onde chegaram a 16 de Março. 

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

[1726] Um pedacim d'vida d'um home d'tabóque: Marcelo Leitão (ver posts anteriores)

De como se pode reconstruir em parte a identidade de uma figura a partir de três notícias de jornal e de dois depoimentos de quem a conheceu. Mais coisa, menos coisa, chama-se a isto "investigação"

Zito Azevedo

Ou me engano muito ou este Leitão era o da Fábrica de... Tabacos (Smart e Falcões), que morava ao lado dos antigos CTT do Mindelo... Era um gentleman, sempre impecável no seu fato cinzento e óculos de aros dourados, moreninho, casado com uma senhora... loura!

Se estiver enganado, alguém me ajude: a memória já não é o que era!Salvo erro, o campo de jogos da Dja de Sal chama-se Marcelo Leitão... [Nota do Pd'B: de facto, o estádio de futebol de Espargos tem o nome de Marcelo Leitão] Não sei se será o mesmo!


Adriano Miranda Lima

Conheci muito bem o senhor Marcelo Leitão, dono da fábrica de tabaco local, que andava sempre de fato completo, com gravata e lencinho de bolso. E vou contar uma história. Quando fiz o sexto ano de liceu, quis arranjar um trabalhinho de férias para arranjar uns trocos para o cinema e uns drops e chocolates. Então um tio meu disse que o Marcelo Leitão, que lhe devia uns favores, estava a precisar de alguém para fazer uns "overtimes" no escritório dele (talvez arquivar papéis e coisa do género). Falou com o dono da Fábrica e lá fui apresentar-me a ele. Mandou-me entrar e sentar à secretária. Qual não foi o meu espanto, pôs-se a ditar-me umas palavras (pretensamente difíceis) para eu escrever numa folha de papel, digamos que uma espécie de teste. Recordo-me bem de que uma das palavras era "administração do concelho" e outra era “vicissitude"!. Escrevi acertadamente as palavras que me foram ditadas, sem errar nenhuma. Está bom de ver que o senhor Marcelo estava à espera que eu escrevesse "conselho", ahahahah. Eu não era das alíneas da área das Letras, mas nunca tive problemas com a gramática, ou não tivesse consolidado as bases com o Alfredo Brito. O patrão da Fábrica disse-me que estava tudo bem e que depois me mandaria chamar. Até hoje! Ainda estou à espera da chamada do senhor Marcelo Leitão, que, nunca se sabe, pode ser um dia destes me telefone pelo móvel. Como o tempo se foi passando sem eu ser convocado, contei o facto ao meu tio, ao ser perguntado. Este, que era oficial da Alfândega, e viriam certamente daí os favores que o patrão da fábrica lhe devia, então disse-me: Ah sim? Espera que depois lhe mostro como é.

Bem, se quis uns trocos para as férias, tiveram de vir de outro lado. Mas não me esqueço deste episódio. E job, nem na fábrica nem noutro lado qualquer. Foi só boa vida nessas férias. Matiota durante o dia e Praça Nova à noite.

Notas do Praia de Bote (de investigação em jornais)

- Em 11 de Fevereiro de 1932, faleceu o filho de Marcelo Leitão, Fernando Emídio.

- A 11 de Dezembro de 1934 regressou a Cabo Verde, vinda de Lisboa, a esposa de Marcelo Leitão, D. Vicência de Jesus (Marcelo Leitão é dado na notícia como "conceituado comerciante e industrial desta cidade [Mindelo]").

- Com alguma confusão de datas, a terceira notícia de que tenho conhecimento deverá ter sido lançada por volta de Janeiro de 1934 mas só chegou ao jornal bastante tempo depois, em Março - "Terminadas as intalações da Companhia dos Tabacos de Cabo Verde, de que fazem parte os srs. Manuel Ribeiro de Almeida. Raul do Rosário Ribeiro e Marcelo Leitão, procedeu-se, no dia 10 do corrente [Janeiro de 1934], a experiências do respectivo maquinismo, moderno e aperfeiçoado. Deu esplêndido [no texto, "esplendor"] resultado a operação, produzindo-se tabacos picados e cigarros de 1.ª ordem. Consta-nos que a fábrica entrará em plena laboração no próximo mês de Fevereiro."

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

[1725] Na Mindelo, tem tabóque mercóne pa tude gosto...

Aí está!... Já o disse várias vezes e repito algo que aqueles que conhecem a nossa ilha sabem bem: São Vicente e o Mindelo sempre tiveram os seus luxos, sobretudo luxos cosmopolitas. No tempo colonial, devido ao Porto Grande, havia ali mais novidades do mundo que em muitas cidades do Portugal europeu. Mas para que elas existissem, alguém tinha de as arranjar, alguém tinha de se preocupar com elas, alguém tinha de as importar.

Eis aqui mais uma descoberta nossa, a de um envelope de Marcelo Leitão que escreve directamente para a R. J. Reynolds Tobacco Company na Carolina do Norte, EUA (ver AQUI e AQUI), em 23 de Fevereiro de 1957, a encomendar o tabaquinho mercóne que o nosso amigo Zito Azevedo (se acaso não estava em Angola a caçar elefantes...) e muitos outros depois lhe iriam comprar. Curiosamente, a carta (por avião) seguiu de Lisboa e chegou ao destino apenas quatro dias depois.



Camel
Winston
Salem