Mais uma Crónica do Norte Atlântico, para sair no final deste Fevereiro, já bem depois do Carnaval, no jornal Terra Nova de S. Vicente. Trata-se de uma pequena viagem pela companhia italiana de cabo submarino que no arquipélago competiu com a poderosa Western Telegraph Company inglesa. Para o efeito, recorre-se a documentação portuguesa e italiana que ajuda a compreender o nascimento e o ocaso desta empresa de que muitos sanvicentinos ainda se lembram e na qual razoável número trabalhou. Atenção, portanto, amigos leitores nas ilhas, ao Terra Nova deste mês.
O PRAIA DE BOTE voltará, logo que este trabalho esteja pronto. O texto final, como sempre, só será publicado no blogue depois de sair no jornal e no parceiro ESQUINA DO TEMPO. Mas antes, outros dois sobre a educação em Cabo Verde por aqui aparecerão (publicados em Dezembro de 2012 e Janeiro passado), de um conjunto de vários que estão em andamento sobre esse tema. Fica para já, a título de aperitivo, o início do texto sobre a Italcable.
GÉNESE E OCASO DA ITALCABLE, A COMPANHIA ITALIANA DOS CABOS TELEGRÁFICOS SUBMARINOS, EM SÃO VICENTE
Devido à sua condição de importante centro portuário, o Mindelo desde cedo esteve ligado ao mundo através do cabo submarino, grande inovação no campo das comunicações. Logo em 1874, a inglesa Western Telegraph Company amarrava na praia da Matiota, em S. Vicente, um cabo que fazia a ligação da ilha do Monte Cara à Madeira e depois ao Brasil. Pouco depois, em 1886, era a vez de se fazer a conexão à África e à Europa continental. A presença de dirigentes e técnicos telegráficos britânicos na ilha ficou ali marcada até hoje, em apelidos, hábitos sociais e desportivos e até alguma arquitectura remanescente desses tempos. Não é porém da história cabo-verdiana da WTC que esta crónica irá tratar mas sim da de uma sua concorrente posterior, a Compagnia Italiana dei Cavi Telegrafici Sottomarini, mais conhecida por Italcable.
A presença de italianos nas ilhas era já uma realidade, nomeadamente na área do comércio. Como António Leão Correia e Silva foca em Nos Tempos do Porto Grande do Mindelo, “[Uma] comunidade de comerciantes estrangeiros que chega a ter aqui algum peso é a italiana. Estimulados pelo mercado criado pelos numerosos passageiros desta nacionalidade que escalam, o Mindelo a caminho de Buenos Aires, Montevideu e Santos, instalam-se na cidade mercadores transalpinos, abrindo bazares, lojas de ‘souvenires’, bares e restaurantes. Pietro Polese, Cavassa Giuseppe, Massoca Mattili, Bonucci Gaetarez, Frusoni são alguns dos importantes comerciantes italianos da praça do Mindelo (…) De tal modo forte foi a presença das companhias italianas no Porto Grande que animou um cidadão transalpino Giobatta Morazzo a fundar aqui um estaleiro de reparação naval na praia da Matiota (…).” A estes, juntamos nós outros, como por exemplo Giuseppe Frusoni ou Pedro (Pietro) Bonucci, tio materno de Sérgio Frusoni, dono (ou sócio) da Loja Central e proprietário da Central Eléctrica do Mindelo ou também Pietrino Mastrodomenico di Giuseppe, natural de Castelnuovo di Conza, província de Salerno, que na Praia exportava e importava produtos entre a Europa e África. Não seria no entanto esta afinal pequena colónia de italianos que ditaria a chegada da Italcable ao arquipélago, mas sim as muito maiores que se haviam estabelecido na Argentina e Brasil, para não falar da que prosperava nos Estados Unidos da América.
A Italcable, fora fundada em 1921, pelo engenheiro electrotécnico Givanni Carosio (1876-1959). (...)
Ciao amigo Djack
ResponderEliminarAtençao: Pietro Bonucci era tio materno de Sergio Frusoni. Portanto ele era irmao da mae de Sergio Frusoni. Um abraço Fernando
Boa! Uma correcção bem oportuna. E um abraço agradecido ao parente frusónico de Génova.
ResponderEliminarFoi uma leitura apressada do livro "A Poética de Sérgio Frusoni" (pág. 15) de Mesquitela Lima, onde esse dado está obviamente correcto. A coisa havia de ser descoberta em segunda leitura dos dados, pois o presente texto está mesmo em princípio mas assim a verdade veio à tona mais depressa. Vai já ser emendada a gralha.
Braça,
Djack
Eis um dos episódios relevantes da história do Mindelo/S.Vicente e de Cabo Verde. Quando fazemos questão de lembrar aos "esquecidos" que a abertura de Cabo Verde ao mundo moderno foi operada a partir de S. Vicente, não pretendemos com isso menosprezar outras ilhas ou envaidecer-nos com o passado. Mas apenas que seja reconhecido, por quem de direito, que a ilha do Porto Grande teve um destacado papel, e único à escala do arquipélago, na projecção internacional do território na era pós-II Revolução Industrial. A ilha teve uma importância que não pode ser apagada por qualquer desígnio político. A ilha é em si mesma um património valioso para o país, pelas suas valências e pelas suas potencialidades de vária ordem. Concluo dizendo que a ilha reveste, por isso, uma forte simbologia política que é errado ignorar ou negligenciar. Dos escombros da apatia em que mergulhou a sua população (ou foi a isso forçada), emergirá uma vitalidade cidadã que a toda a hora vai ter uma palavra na ponderação do presente nacional e na construção do futuro do país. Não é por acaso que nasceu no Mindelo o Grupo Dinamizador da Regionalização.
ResponderEliminarApenas reivindico o tempo e o espoaço suficientes para "tirar o chapéu" de novo, ao Amigo Adriano!
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