segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

[0371] Mindelo em grande, com obras por todo o lado...

Atenção!... em Outubro de 1967.

Ele era o Liceu novo, ele era o edifício do Comando Naval, ele era o Hotel Porto Grande, ele era a Avenida Marginal, depois celebrizada na voz de Bana, enfim, o Mindelo fervilhava de estaleiros e movimentação de obras. Era o fim da época colonial, também. Daí a oito anos, chegaria a independência.

Aqui ficam imagens dos três empreendimentos que ainda hoje servem para os mesmos efeitos para que foram criados - com mais um ou outro fim, no caso do Comando Naval que alberga também outras funcionalidades.
Segundo Liceu Gil Eanes, hoje de Ludgero Lima - Foto Notícias do Norte
Edifício do Comando Naval/Defesa Marítima/Capitania dos Portos, hoje com mais funcionalidades - Arquivo JS
Hotel Porto Grande - Foto Arquivo Histórico Nacional de Cabo Verde / Blogue Esquina do Tempo

domingo, 24 de fevereiro de 2013

[0370] Preciosismos cinéfilos

Ora vejamos...

Comecemos pelo cinema da Praça Nova. Numa foto da Wikipedia, da autoria de Manuel de Sousa, temos o nome no topo do edifício, grafado como EDEN PARK. Mais abaixo, o logótipo apresenta um "E" e um "P" ao estilo do emblema da Académica. EDEN PARK, portanto. Mas... em bilhetes que o PRAIA DE BOTE possui, um dos quais se reproduz, o nome surge como CINE EDEN-PARK, com hífen. Confusão irresolúvel, que só seria possível resolver com recurso à documentação de registo da casa algures enterrada numa repartição do Mindelo ou em cópia nas mãos dos familiares dos antigos proprietários. Até nova ordem, parece-nos que a versão EDEN PARK será a mais correcta, embora SEMPRE sem acento agudo no "E" inicial,  como por vezes surge, dado que é palavra inglesa.

 

Passemos agora ao cinema do Sr. Guilhereme "Tuta" Melo, mais popular que o Eden Park mas não menos saudoso nem de menores tradições cinéfilas que aquele. Servimo-nos aqui de dois programas obtidos na Internet, em A Semana e no blogue do nosso amigo Brito-Semedo. O cinema é designado por PARQUE MIRA-MAR o que é bem aborrecido para quem como nós já escreveu a expressão como "Park Miramar"...


E assim se acaba a história, sem vencedores nem vencidos - que todos falhámos, uns menos que os outros. O que não falhou, excepto pela incúria e desprezo de alguns, foram as lições que recebemos naquelas duas casas de cultura nem os projécteis de cimbrom e de amendoins que os que estavam mais à frente na geral comiam na tola atirados pelos que se encontravam atrás... Obrigado aos que partiparam e um braça cinéfilo para todos. Ou, se preferirem, um murro à John Wayne...

sábado, 23 de fevereiro de 2013

[0369] Acertar, é preciso... - VEJA O POST ANTERIOR

DESDE QUE ESTE POST FOI LANÇADO, JÁ AQUI VIERAM 36 PESSOAS ORIUNDAS DE CABO VERDE E MUITAS MAIS DE OUTROS LOCAIS (ENTRE ESTAS, MUITO CABO-VERDIANOS ESTARÃO). CONTUDO, SÓ DOIS VALOROSOS SPORTS ARRISCARAM O SEU PALPITE - E COM FALHAS -, O QUE QUERERÁ DIZER QUE AFINAL AS PERGUNTAS NÃO SERÃO ASSIM TÃO DISPARATADAS COMO À PRIMEIRA VISTA O PB PENSOU QUE FOSSEM. VAMOS ARRISCAR, MINDELENSES!...

Hoje não se trata de concurso, mas de acerto (que não é bem a mesma coisa).

Perguntas (que parecem disparatadas):
1 - Como se chamava o cinema da Praça Nova?


2 - Como se chamava o cinema do Tuta?



[0368] Ainda a Lajinha (ou Laginha) e a polémica à volta da sua possível destruição

2.ª Parte – Existirá já um problema ambiental no Porto Grande incluindo a área da Matiota e da Laginha?

José Fortes Lopes
Visto agora outra camisola, a do académico (1), e tentarei levantar algumas questões que julgo devem ser esclarecidas aos cidadãos mindelenses. À questão que muitos leigos levantam, sobre se “a construção de um esporão vai ter impacto”, responderei SIM, mas dependerá da sua localização. Poderá afectar o padrão das correntes, a circulação na baía da Laginha, o transporte de material dissolvido, suspenso e em deposição no leito, nomeadamente areias e contaminantes, quer sejam químicos quer sejam biológicos. Normalmente, devido ao efeito de deriva litoral (denominado em inglês “longshore drift”), as areias são transportadas no sentido da corrente litoral (2): são retiradas da parte montante do esporão e transportadas para a jusante e para o largo, tudo dependendo da conjugação das correntes de maré e das correntes provocadas pelas ondas, descontando o efeito da corrente no Mar de Canal. Um esporão colocado no meio de uma praia pode provocar efeitos devastadores, ao passo que no caso da sua localização adequada e optimizada, poderá atrasar efeitos locais de erosão numa praia ameaçada de extinção eminente, embora podendo provocar possíveis danos colaterais. Ele é pois uma faca de dois gumes e não se pode afirmar peremptoriamente a sua inocuidade nem da sua total perigosidade. Tudo depende do uso a que se lhe dá. Assim à questão se uma nova estrutura constituída por um simples esporão poderá afectar a dinâmica e tudo o que se encontra na vizinhança? A resposta é provavelmente SIM. Qual é o seu impacto no transporte de material suspenso e dissolvido, qual será o novo destino dos materiais? Depende da localização da estrutura e do jogo das correntes no local. É certo que as simulações podem permitir estimativas e prognósticos, mas sem uma informação concreta sustentada em dados objectivos resultantes de estudos aturados, é difícil pronunciar-se e facilmente se entrará no domínio da especulação. Todavia como vimos os efeitos de erosão podem ser mitigados se a localização do esporão estiver afastada da área da praia em disputa. Pode-se concluir que só uma análise ponderada e com base nas cartas de correntes, permitirá saber em que sentido será o transporte induzido, além de que depende do ciclo da maré. E este é um aspecto que pode complicar o problema pois as correntes de maré alternam duas vezes durante o dia, impactando duplamente, nos dois sentidos, uma área. Estas e outras informações poderão ser facultadas pela ENAPOR caso pretenda dialogar com os opositores do projecto. Pois a Loids, que é uma empresa internacional de consultoria na área de estudos costeiros, e fez de certeza um estudo sério e insuspeito, deverá ter indicado que haverá impactos físicos e provavelmente ambientais e proposto uma localização que interfira minimamente com a Praia. No entanto, tendo emitido um parecer que é eminentemente técnico, sem certamente esmiuçar outras vertentes do problema, poderá ter levado a ENAPOR a considerar que o impacto global não seria significativo. De facto, como não se teve em conta toda a dimensão humana e afectiva do problema, outro tipo de impacto – o psicológico – não é despiciendo e merece, por isso, ser trazido à liça. Assim, está por esclarecer cabalmente a questão da amplitude das alterações, a magnitude do seu impacto físico e a sua incidência no plano social e psicológico. Compete à ENAPOR, baseada nos estudos da Loids, disponibilizar a informação ao público, para o seu devido esclarecimento, como é timbre nas sociedades democráticas, sem o que haverá razão para toda a sorte de dúvidas e especulações. Convenhamos que, para além de estudo de engenharia, é curial que um caso desta natureza envolva um estudo de impacto ambiental e social independente, com pareceres credenciados nas áreas da biologia, química, ambiental e sociologia para sanar a polémica. É legítimo e é normal que assim se proceda, mas, por enquanto, como nada disso sabemos, sentimos truncada qualquer hipótese de opinião mais fundamentada.

Foto de autor desconhecido, talvez Djibla
Os cidadãos mindelenses devem estar preocupados com a qualidade das águas da Laginha? Face ao que precede, a resposta é SIM pois há aqui dúvidas plausíveis; no entanto, e para sermos rigorosos, a menos que se demonstre o contrário, com estudos e pareceres independentes, pode não haver, a priori e em primeira hipótese, uma relação directa com o esporão ou com a extensão da área portuária, como afirma a ENAPOR, pois não são as correntes ou os sedimentos que criam poluição. A validade desta hipótese, é claro, dependerá do estado da contaminação actual das águas ou das areias depositadas no fundo da Laginha. Se todavia houver alterações nos padrões de deriva litoral na baia da Laginha e se existirem já fortes indícios de poluição na área, aí sim os riscos de disseminação da poluição serão elevados devidos aos efeitos do transporte acima assinalados. Convém, todavia, realçar um indício relevante e inquietante registado no artigo apresentado por Guilherme Mascarenhas que vem apimentar o debate: a presença de contaminantes inorgânicos, nomeadamente Metais Pesados, e os piores de todos, o chumbo, Pb e o Arsénio, As, o que provavelmente indiciará um efeito de poluição proveniente, provavelmente, da Doca Seca. Qual é a magnitude e extensão desta poluição é que não se sabe. Os valores da concentração actual de metais Pesados, nomeadamente de Pb e As, na fase suspensa particulada ou dissolvida, podem fazer perigar a saúde pública na área em questão, que é uma área balnear e piscatória? Talvez. Todavia, qualquer conclusão deve ser validada por pareceres de químicos ou bioquímicos credenciados, únicos capazes de avaliar a perigosidade da situação actual em termos de contaminação ou susceptibilidade de ameaça futura. De qualquer maneira, se os valores forem considerados elevados, é de pensar duas vezes antes de banhar-se na Laginha ou comer algo proveniente dali. 

Foto de autor desconhecido, talvez Djibla
Deverão os ambientalistas estar preocupados se as novas obras aumentam os problemas acima assinalados com o impacto ecológico negativo num ecossistema que classificam de frágil? SIM, pois as dúvidas não foram ainda esclarecidas. Direi mais, tendo em consideração os eventuais níveis de contaminação, os ambientalistas deveriam generalizar a sua preocupação a todo o ecossistema do Porto Grande e solicitar ao governo e às autoridades portuárias uma monotorização física, química e biológica permanente e quotidiana das águas da Baía do Porto Grande. Pelas razões acima assinalados estou preocupado com a Praia da Laginha e o ecossistema da sua pequena enseada, mas também com toda a área do Porto Grande. Estou muito mais preocupado com o ecossistema costeiro cabo-verdiano no seu todo, incluindo a orla terrestre e marítima. Estou ainda mais preocupado com uma certa concepção desenvolvimentista “à outrance” aliada à nova tendência que parece ser uma corrida ao progresso fácil, que pode comprometer equilíbrios deste ecossistema social e ecológico extremamente vulnerável e frágil que é Cabo Verde. Correr demais e depressa rumo ao “progresso” sem pensar nos problemas não é sinónimo de avanço, pois um certo progresso pode ter custos elevados. Os mindelenses não imaginam a quantidade de lixo que se acumula lá para os lados da Ribeira da Vinha, que um dia poderá entrar pela casa adentro. Este lixo está exposto ao ar livre sem nenhum condicionamento ao menos para a sua retenção e isolamento, podendo contaminar irreversivelmente toda a área terrestre envolvente, assim como os lençóis freáticos (este assunto já foi há tempos denunciado pelo Dr Arsénio de Pina). Definitivamente, o turismo e a indústria portuária parece terem sido eleitos como a galinha de ovos de ouro, mas ninguém questiona os custos ambientais do desenvolvimento destas indústrias. Para além do turismo consumir muito mais recurso do que é produzido no arquipélago, nomeadamente, água e luz, é uma indústria extremamente poluidora e requer infraestruturas adequadas nomeadamente estações de tratamento de resíduos sólidos e líquidos, altamente sofisticadas e custosas. Terá Cabo Verde já antecipado medidas que tendem à preservação do seu ecossistema terrestre e aquático face aos desequilíbrios que se anunciam resultantes da corrida frenética ao crescimento e ao desenvolvimento? Estará Cabo Verde infraestruturado para acolher centenas de milhares de turistas, como nas Canárias ou na Madeira? Duvido. Esta é para mim a mãe de todas as preocupações ambientais, pois, se não se tomarem medidas antecipadas, o país poderá no futuro envolver-se em situações catastróficas do ponto de vista da sustentabilidade económica, social e ambiental, como já acontece em muitos países africanos. O que quer dizer que é importante separar o trigo do joio, acautelando o impacto de todo o investimento económico, sob pena de muitas vezes o tiro sair pela culatra. 

Este problema assim como outros problemas endémicos com que Cabo verde se vê confrontado, desembocam todos numa questão sempre crucial e pertinente: o nível e a qualidade da democracia cabo-verdiana. Razão temos para reclamar um conjunto de reformas urgentes para que os cidadãos se reconciliem com a política e os valores da cidadania participativa, e para que o país encontre os caminhos da sua viabilidade como Estado independente. Pois, “Helas”, Cabo Verde é uma democracia, mas é muitas vezes uma democracia formal e os mecanismos democráticos de diálogo e concertação quase sempre estão emperrados e não funcionam. Nas democracias ocidentais, embora os poderes e os governos tenham a última palavra, envolvem-se frequentemente em braços de ferro com a sociedade civil em processos polémicos que, para serem dirimidos, têm de ser necessariamente apoiados em vários estudos técnicos, pareceres diversos, diálogo com os parceiros sociais e debate contraditório com a sociedade civil. Este é o mecanismo chamado de concertação, mas pela minha experiência duvido que esta metodologia tenha sido aplicada no caso polémico da Laginha, o que não quer dizer que não possa ou deva ser ainda usado, pois acredito que a única saída para o confronto que se anuncia, será pela via do diálogo e da concertação, ouvindo todos interessados. A ausência destes instrumentos democráticos em Cabo Verde não é estranho ao estado de amorfismo em que caiu a sociedade mindelense e cabo-verdiana, que se transformou numa comunidade de surdos, mudos e cegos, que o companheiro Arsénio de Pina caracteriza nestes termos de um crioulo bem eloquente: “Ca Ta Cdi, Ca Ta Responde, Ca Ta Falá”, a que eu acrescentaria “Ca Ta participá”.

É por esta e outras razões que sou um fervoroso defensor de uma Reforma profunda do Estado de Cabo Verde, incluindo a Descentralização e a Regionalização, pois obras desta natureza passarão a ser cada vez mais do âmbito directo dos governos regionais, ou no mínimo objecto de concertação com governos centrais. Num país regionalizado ou dotado de alto grau de descentralização política, o governo central reserva-se apenas para os aspectos essenciais da soberania nacional, cabendo ao poder local a decisão sobre os problemas concretos da respectiva comunidade. Estou convencido de que um governo regional teria encarado o problema da Laginha com uma sensibilidade muito própria, equacionando-o com todas as suas variáveis e não se limitando à visão tecnocrática de quem decide longe da vista e do coração. Isto não implica que os governos regionais estejam inclinados à demagogia populista ou ao desgoverno.

Não me compete a mim propor soluções para este impasse, mas sugiro um diálogo construtivo e uma concertação entre a ENAPOR e os que se opõem à obra em causa, de modo a que haja um entendimento, e S. Vicente fique a ganhar no sentido mais conciliatório dos seus interesses.

José Fortes Lopes

Biografia resumida do autor

José Fortes Lopes, natural de São Vicente, é doutorado em Física pela Universidade de Provença (França). É professor no Departamento de Física da Universidade de Aveiro e pertence ao Grupo da Meteorologia e Oceanografia Costeira. É membro do Laboratório de Estado-Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), participou em/e liderou vários projectos de investigação em diversas áreas da física: aerodinâmica, climatologia&ambiente costeiro, oceanografia e modelação matemática em ecossistemas costeiros. 

Bibliografia útil

1) http://oceanica.cofc.edu/an%20educator'sl%20guide%20to%20folly%20beach/guide/process3.htm
2) http://www.beachapedia.org/Shoreline_Structures
3) http://www.geol.ucsb.edu/faculty/sylvester/UCSB_Beaches/groins.html
4) Rui Taborda, Fernando Magalhães, Carlos Ângelo  Evaluation of  Coastal Defence Strategies in Portugal. NATO Science Series Volume 53, 2005, pp 255-265. Springer Eds.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

[0367] Lançamento: 2.ª edição do Dicionário Cabo-Verdiano/Português de Manuel Veiga na Associação Caboverdiana, Lisboa

Decorreu ontem, na Associação Caboverdiana de Lisboa o lançamento da 2.ª edição do Dicionário Cabo-Verdiano/Português (20 €) do professor e escritor Manuel Veiga. Com casa cheia, a sessão teve início com a declamação de poemas de autores cabo-verdianos e um de Luís de Camões - em todos os casos, de forma bilingue -, por Fernanda Lubrano, Carlota de Barros e outros. Na mesa, os doutores Mário de Carvalho e José Luís Hopffer Almada (da direcção da AC), a doutoranda Ana Josefa Cardoso, que fez a apresentação do dicionário, e o dr. Manuel Veiga. No público, entre muitas outras personalidades, estavam a senhora embaixadora de Cabo Verde, o poeta galardoado José Luís Tavares, o jornalista e escritor Joaquim Arena e os deputados portugueses dr. Ribeiro e Castro e dr. Filipe Neto Brandão (ambos do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Cabo Verde).

A sessão decorreu da melhor maneira, pelo menos até ao momento em que o PRAIA DE BOTE teve de sair, devido ao adiantado da hora. Pesem as polémicas à volta do ALUPEC e da figura de Manuel Veiga (amado e odiado pelas suas ideias, como foi referido por Hopffer Almada), a impressão que nos ficou (e aqui o plural é real, pois retrata conversa com Aguinaldo Wahnon que estava ao nosso lado) foi a da tolerância e a do desejo de acertar. Ou seja, o português e o cabo-verdiano são as línguas nacionais e uma eventual unificação das versões do crioulo  num crioulo nacional levará os anos que levar, poucos ou muitos. Nada deverá ser forçado e a coisa deve assentar no ensino local da variante de cada uma das ilhas, evoluindo nessas mesmas ilhas (de modo genérico as de Barlavento e Sotavento) para o ensino dos dois crioulos mais marcantes próximos de si: o de S. Vicente e o de Santiago. Só num futuro, por agora imprevisível, se poderá então falar de um crioulo nacional, quando estes dois se unirem.

Manuel Veiga abreviou a sua excelente intervenção, de modo a que pudesse haver discussão sobre este tema polémico. Gostaríamos de ter estado, mas o temporal que se abateu sobre Lisboa e a necessidade de atravessar o enorme "oceano" chamado Tejo levou-nos a uma saída precoce e portanto nada mais podemos adiantar. De qualquer modo, foi uma boa noite cabo-verdiana que valeu a pena.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

[0366] As polémicas obras previstas para a Lajinha (ou Laginha, que para o caso tanto faz... por um sanvicentino, perito na matéria)

A problemática da Laginha de S. Vicente: Um caso perdido à partida?

1.ª Parte - A evolução do Porto Grande e a morte anunciada da Matiota e da Laginha

José Fortes Lopes
Depois inúmeras solicitações e de alguma hesitação, resolvi a contragosto pronunciar-me sobre este assunto que me dilacera como cidadão atento aos problemas de desenvolvimento de S. Vicente e de Cabo Verde, não excluindo todavia os relativos ao ambiente e à qualidade da vida das populações. 

A minha intervenção neste debate será numa dupla condição: como mindelense e como investigador trabalhando actualmente nos estudo e modelação de processos físicos associados ao ambiente costeiro. É somente por isso, pesando os prós e os contras de uma opinião, que não agradará em simultâneo gregos e troianos, que a minha consciência ditou-me intervir neste debate, não furtando assim às minhas responsabilidades como cidadão, e tentando por outro lado contribuir para encontrar uma solução.

Como mindelense, seria, a priori, motivado a pronunciar-me contra as obras na Laginha, pois repugna-me mais obras na área que se situa entre o Porto Grande e a Matiota, já muito sofrida, no entendimento de que os mindelenses têm o direito de fruir esta área de lazer, que para o efeito deve ser preservada. Haverá razões de ordem económica com forte impacto socioeconómico na ilha que possam justificar sacrificar mais um bocado desta orla costeira, mexendo ainda mais no ecossistema e privando os mindelenses do seu usufruto? Talvez sim, talvez não, pois ninguém pode estar desatento ao estado de degradação socioeconómica porque passa a nossa sofrida ilha. Esta dúvida é dilacerante, quão gostaria de dar um NÃO definitivo e agradar completamente os amantes da Laginha. Para além dos argumentos sociais e políticos, argumentos técnicos, económicos e financeiros devem ser pesados para ponderar e tomar uma decisão definitiva que seja imune a qualquer atitude que possa ser conotada de demagogia barata de ordem política ou ambiental.  

Com o início provável de obras de extensão do Porto Grande de S. Vicente de Cabo Verde para descarga e armazenamento de contentores, surgiu um debate envolvendo de um lado a autoridade portuária Enapor e de outro lado cidadãos a autarquia, destacando-se o universitário Guilherme Marcarenhas, que deu a cara ao protesto. O PCA da Enapor, baseando-se em estudos de impacte ambiental realizados, em 1993, sobre o aproveitamento do Porto Grande e, em 1994, sobre a expansão do Porto Grande, defendeu que “o estudo demonstra que na zona a existência de fauna e de flora é mínima”. Os opositores da obra, incluindo um grupo de ambientalistas, estarão preocupados com o facto de elas poderem afectar o ecossistema da Laginha, incluindo a qualidade da água da sua praia. Esta obra contempla a construção de um paredão denominado, esporão, que, a priori, vai proteger a obra do efeito da ondulação e das correntes, tudo isso a ser feito num canto de um ‘lenço de mão’ em que se transformou aquela área. Segundo Mascarenhas, “é de salientar que a zona da Laginha é equiparada a zonas de alta biodiversidade, muito provavelmente devido à diversidade e complexidade estrutural de habitats, tais como areias, corais, pedras, macroalgas e algas calcárias. Com uma localização geográfica privilegiada, a zona da Laginha dá o seu contributo no suporte de uma zona de berçário onde, simplesmente com mergulho livre, a poucos metros do areal e a pouca profundidade, pode-se desfrutar de uma rica diversidade de peixes e invertebrados, muitos deles endémicos das ilhas de Cabo Verde”. Estes dois pontos de vistas contraditórios levam o jornal Notícias do Norte a questionar “Afinal em que ficamos? Há ou não flora e fauna na Laginha?”. Estamos portanto perante uma situação que carece de mais explicações das duas partes.

A questão que colocou o NN, ‘em que é que se fica?’ é totalmente pertinente. Com efeito, este projecto é uma faca de dois gumes: por um lado, reveste um aspecto económico, alargamento da área útil para o Porto Grande acolher contentores, por outro lado, diminui a área de lazer dos mindelenses, que depois de terem perdido a Matiota, esse outro ex-libris da cidade, refugiaram-se nesta área balnear, a única que lhes restou na cidade. Portanto, temos aqui potencialmente dois conflitos insanáveis, a saber. De um lado, temos uma perspectiva meramente económica baseada em estudos do âmbito da ENAPOR que visam a ampliação das capacidades infraestruturais do Porto Grande; de outro lado, a posição dos opositores da obra, no qual inclui-se a CMSV, que, sem ser insensível à problemática do desenvolvimento do Porto Grande, bem pelo contrário, não deixa contudo de primar por uma visão mais integralista do problema, atenta às questões ambientais e ao impacto negativo que possa resultar das transformações físicas em vista numa das mais procuradas zonas de lazer da população, aliás, a única no seu género em toda a área urbana. Em meio a esta dialéctica, temos o governo central e a prerrogativa de poder decidir sobre o destino do Porto Grande usando critérios em que o desígnio político nem sempre se articula da maneira mais correcta com o sentimento das populações. Em todo o caso, para qualquer dos actores em causa, a solução não é fácil porque equivale a escolher entre a economia e o ambiente, entre a economia e o direito das populações defenderem um espaço de lazer único na cidade. Qual deles o mais determinante, este é o busílis. 

A praia da Laginha é uma pequena enseada dentro da vasta baía do Porto Grande. Como sabemos, foram os ingleses os fautores do destino da nossa baía e, por consequência, da ilha de S. Vicente, ao negociarem com Portugal a sua utilização como entreposto de carvão para abastecimento da navegação transatlântica e como base de telecomunicações. Foi desta dinâmica que nasceram em S. Vicente oficinas e empreendimentos industriais que marcaram a entrada de Cabo Verde na era da II Revolução Industrial, o que confere à ilha um crédito no campo da inovação e da realização em termos económicos e sociais. Amantes da natureza e do desporto, foram os mesmos ingleses que construíram o “Step”, o famoso trampolim da Matiota, curando que esta se tornasse um espaço dilecto para o lazer. 

Mais tarde, sob o impulso e insistência desse grande cabo-verdiano que foi Adriano Duarte Silva, deputado na Assembleia Nacional, o Porto Grande ganharia o seu cais acostável no início da década de 1960, obra de grande vulto que relançaria a importância do Porto Grande e da ilha no novo contexto económico que se abria, centro controlador de todo o tráfego marítimo e da segurança do arquipélago. Posteriormente, a criação das instalações da dessalinização da antiga JAIDA (actualmente ELECTRA), encaixadas entre as praias da Matiota e da Laginha, correspondeu à 3ª vaga de industrialização da Baía, e desta vez ameaçando definitivamente a única zona de lazer e de praia junto à cidade. 

É preciso sublinhar que desde a instalação dos ingleses que a actividade humana vem impactando negativamente na hidrodinâmica da Baía, na dinâmica do ecossistema e no aspecto social dos mindelenses. Por exemplo, todos sabem que a área da Cova da Inglesa até ao Cais de Alfândega é um cemitério de barcos e nunca houve medidas para a remoção do lixo acumulado de há dois séculos a esta parte.

Hoje, temos implantados na mesma área a ENAPOR e a gestão do Porto Grande, a Electra, que produz energia e água, a Cabnave, a doca seca que repara barcos, a Marina de S. Vicente, empreendimentos imobiliários, e amanhã seguir-se-ão outras actividades como as associadas ao prometido Cluster do Mar, etc. É de realçar que todas estas actividades poluem a água costeira da Baía, incluindo a Laginha. Esta é dinâmica industrial e socioeconómica envolvente no Porto Grande na qual se insere a Laginha, o seu ecossistema e a sua praia. A área que vai desde o Lazareto até à Matiota terá sido assim condenada a ser vítima do desenvolvimento impulsionado pela história e pela evolução humana. O golpe fatal a esta área terá sido dado pelo governo do PAIGC em 1975, mediante um conjunto de iniciativas em torno do Porto Grande que se revelaram autênticos fracassos e elefantes brancos. Já na altura da sua inauguração estes projectos estariam desconectados da dinâmica mundial, nomeadamente no sector da construção naval, quando a concepção de uma nova realidade portuária devia ter olhado para os desafios dos novos tempos. A construção da Doca Seca nos anos 80 do século passado, destruindo a Matiota, a maior área de lazer em todo o S. Vicente (que foi poupada nos finais dos anos 60 para a construção das instalações da JAIDA), terá sido a machadada e o início do fim de qualquer equilíbrio entre o desenvolvimento portuário, ou seja a economia do Porto Grande, e a projecção de actividades turísticas ligadas ao mar. A partir desta data, a balança pende para o lado do Porto Grande como área vocacionada para a Indústria. A praia da Matiota foi nesta lógica condenada à morte matada e à da Laginha está indirectamente condenada pela mesma dinâmica industrial do Porto Grande. Este é o quadro actual que dá pouco espaço de manobra aos ambientalistas e amantes da Laginha. Poderá ainda haver um equilíbrio ou voltar-se a um equilíbrio semelhante ao dos anos 60/70? Este é o busílis da situação e é a razão da disputa entre o Governo/Enapor, os opositores da obra, que incluo a CMSV e a corrente ambientalista que deverá representar muitos mindelenses, independentemente da faixa etária e da condição social (à qual se associou a UCID). Pois os dois proveitos parecem, preservação e projectos de desenvolvimento industrial, parecem não poder caber no mesmo lugar. Então, voltemos ao assunto que interessa ao Porto Grande e à Laginha. A praia da Laginha está condenada? Embora como mindelense penso que será possível encontrar um acordo amigável sobre a matéria em disputa, após diálogo, a resposta que posso dar a esta questão é SIM a longo prazo, o que, ‘Hélas’, vai desagradar tanto a gregos como a troianos. Com efeito, acredito que não serão estas obras da Enapor a condenar definitivamente esta praia, pois o maior mal, como disse, já está feito desde os anos 80 com a construção da Doca Seca. Existirá um problema ambiental na Laginha?, também responderei TALVEZ SIM, ou melhor, deverá provavelmente existir. Mas nesta matéria vou mais longe, o problema ambiental é global e deverá envolver toda a orla costeira da baía do Porto Grande, decorrente da industrialização crescente desta área. Esta situação tenderá a agravar-se com a retomada económica em S. Vicente, associada umbilicalmente a uma nova dinâmica do Porto Grande, e as novas perspectivas para o Estaleiro da Cabnave. Portanto, o problema da Laginha (apontado pelos ambientalistas como um ecossistema em estado de stress) teve a sua primeira génese no desaparecimento da Matiota e na construção da Doca Seca no respectivo local. A construção do esporão irá a gravar o estado do ecossistema da Laginha? TALVEZ. A esta questão tentarei responder, no próximo artigo, com alguma reflexão de teor científica, que por ventura ajudará as partes numa reflexão conjunta, embora nenhuma resposta rigorosa possa ser dada sem a disponibilização total de informações sobre o projecto e os estudos efectuados. Neste sentido não poderei agradar nem a gregos nem a troianos, pois entraria no domínio da especulação. Tentarei sim apontar soluções que possam ir no sentido de um acordo, um entendimento entre as partes, na medida em que numa situação de extremar de posições, nenhuma parte estará disposta a ouvir argumentos técnicos e científicos da outra. O leite já está, por conseguinte, derramado há muito tempo. É assim que a população mindelense, por se ter tornado durante muito tempo amorfa, pouco activa e interveniente, e muito resignada, viu-se, mais uma vez, confrontada com uma situação que parece desesperada, uma parte gritando (pois muitos estão olhando confortavelmente das suas janelas o espectáculo) quando a procissão já vai muito longe, levando no altar um facto que parece consumado. Este desenrolar de eventos só pode denotar a falta de diálogo entre as autoridades e a população e a inexistência de sociedade civil ou de opinião pública. O desenlace deste processo vai ser rico de ensinamentos (continua: Existirá já um problema ambiental no Porto Grande, incluindo a área da Matiota e da Laginha?). 

José Fortes Lopes

Dados biográficos úteis

José Fortes Lopes, natural de São Vicente, é doutorado em Física na Universidade de Provença (França). É professor no Departamento de Física da Universidade de Aveiro e pertence grupo da Meteorologia e Oceanografia Física Costeira. É membro Laboratório de Estado Português, Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) onde investiga a dinâmica dos ecossistemas costeiros. Participou e liderou vários projectos de investigação em diversas áreas: física fundamental, aerodinâmica, climatologia e ambiente costeiro, oceanografia e modelação matemática de ecossistema costeiros. 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

[0365] Atribuídas consideráveis verbas para obras em São Vicente...

...há 54 anos! (c. Setembro - Outubro de 1959) e com óbvia publicação na folha oficial da Província. Nada mau, heim? A estradinha para a bela praia, custou 1200 contos. Muitas vezes a percorri. Inesquecível! Quanto à minúscula aerogare, aqui vai, como era de início.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

[0364] Ainda os fósforos suecos de Cabo Verde (ver post anterior)

Acerca destes fósforos e suas particularidades, vejamos um excerto do livro "História das Invenções" do brasileiro Monteiro Lobato (autor de vasta bibliografia para crianças, entre a qual se conta o livro "O Picapau Amarelo").

— E como nasceu o fósforo?
— No começo era fósforo mesmo. Os homens observaram que essa matéria fosforescente, isto é, luminosa, chamada fósforo, tinha a propriedade de dar fogo quando batida com uma pedra, e esse fogo era comunicado a uma isca em que entrava o enxofre. Um meio complicado e de mau cheiro. Mais tarde, em 1827, um inglês de nome John Walker inventou o fósforo de esfregar. Em vez de bater, bastava esfregar um pedaço de fósforo num esfregador preparado para esse fim. Vinte anos mais tarde o sueco Lundstrom, natural da cidade de Jonkoping, inventou o fósforo que usamos hoje, pequenino e cômodo, sem mau cheiro e não venenoso como o fósforo feito de fósforo.
— Então o fósforo de hoje não é feito de fósforo?
— Não, e por isso não é fosforescente. Contém vários corpos químicos misturados de modo que pela fricção na lixa da caixinha produzam fogo, sem envenenar os pulmões de quem os acende. O curioso é que quando os cômodos fósforos de Jonkoping apareceram a resistência do público foi grande. O homem acostuma-se ao que tem e refuga as novidades que apresentam progresso. Tolice, porque as novidades acabam sempre vitoriosas — e ai do mundo se não fosse assim!. . .
Hoje temos por aqui muitas fábricas de fósforos, marca Olho, marca Pinheiro, etc. Tempos houve, porém, em que só usávamos o fósforo vindo da Suécia, por sinal que excelente. Lembro-me perfeitamente deles. Um letreiro amarelo em língua sueca e a palavra Jonkoping em baixo. O povo dizia que eram fósforos do João dos Copinhos. . .


O motivo pelo qual estes fósforos suecos prevaleciam em Cabo Verde e não os da Fosforeira Nacional (ver AQUI) não o conhecemos. Mas algum devia haver. Lembremo-nos que também não ia cerveja Sagres para as colónias, a fim de proteger o vinho da Metrópole. As Sagres que chegavam ao Ultramar eram apenas as que iam a bordo dos navios de guerra, ditas de exportação, com o gargalo curtinho.

E, já agora, uma divertida notícia fosforeiro-cabo-verdiana de 2005. Ver AQUI

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

[0363] Os fósforos suecos de Cabo Verde

A espartana cozinha do patrão-mor da antiga Capitania dos Portos de S. Vicente (edifício hoje designado como Torre de Belém) constava em meados dos anos 60 do século XX de uma mesa de madeira com duas gavetas, no pátio, sobre a qual repousavam dois fogões a petróleo Hipólito. Estes acendiam-se através de fósforos suecos da fábrica Jönköpings de que fala o blogue parceiro ARROZCATUM.

"utan svavel och fosfor" quer dizer "sem enxofre nem fósforo", ou seja, os fósforos eram parafinados (paraffinerade), um processo digamos "ecológico"... No arquivo do PRAIA DE BOTE resta uma caixa do tamanho pequeno, sem nenhum fósforo lá dentro. Muitas se consumiram naquela casa, para acender os fogareiros, o frigorífico (que também trabalhava a petróleo) e até os candeeiros ou Petromax, quando a energia da Central Eléctrica falhava. Por isso se guardou um exemplar que hoje tem uns 50 anos, mais coisa menos coisa... Para os nossos visitantes, aqui scaneado em frente e verso. E tal qual se vê: frente amarela; parte oposta, azul.

Quando em 1999 passei uns dias em casa do Germano Almeida, admirei-me ao ver uma caixa dos ditos na cozinha do apartamento em que ele recebe as visitas. Disse-me então o amigo escritor que, depois da independência, a maioria das marcas continuou a ser importada dos mesmo sítios de antes. Esta de fósforos suecos é uma delas...

[0362] Os cabo-verdianos da América do Norte também contam... porque (também) eles fizeram os EUA

PRAIA DE BOTE, sempre em cima do acontecimento 

Museu dos Baleeiros nos EUA (New Bedford) investe 300 mil dólares

por Lusa/Diário de Notícias de hoje


O Museu dos Baleeiros de New Bedford, no estado norte-americano de Massachusetts, vai investir cerca de 225 mil euros durante os próximos três anos para contar a história dos baleeiros açorianos e cabo-verdianos na Nova Inglaterra.

Os fundos são provenientes de uma bolsa atribuída pela fundação William M. Wood, criada por um magnata da indústria têxtil filho de um baleeiro açoriano.

"A história destes emigrantes já era contada no nosso museu, mas o novo financiamento vai permitir-nos concretizar uma série de projetos que idealizávamos há algum tempo", disse à agência Lusa o presidente do museu, James Russell.

De acordo com Russell, serão privilegiadas quatro áreas, incluindo a melhoria das galerias dedicadas aos emigrantes dos dois arquipélagos que se instalaram nesta zona dos Estados Unidos durante os séculos XIX e XX.

Peça do acervo do museu
"Durante os meses de Março e Abril, vamos ter um mestre da ilha do Pico a construir uma réplica de um bote baleeiro que ficará em exposição a partir de maio", disse James Russell, acrescentando que também está a ser construída uma vigia da baleia, onde serão expostos materiais multimédia, e que "todo o desenho da exposição será melhorado".

Uma segunda aposta será uma exposição itinerante que acontecerá em 2014 e que visitará entre 10 a 15 cidades, estendendo-se desde o estado de Connecticut, na costa leste, até à cidade californiana de São Francisco.

O museu pretende ainda realizar atividades educativas, com a presença de oradores convidados e intercâmbios de alunos, e desenvolver materiais que possam ser disponibilizados na Internet, à semelhança das listas de tripulações, com mais de 100 mil nomes, que já disponibilizam no seu site.

James Russell diz que o objetivo é "modernizar o papel do museu", que no século XXI não se deve resumir a "contar como se matavam baleias".

"Esta história é sobre pessoas, homens que emigraram e se tornaram líderes de uma comunidade. É sobre o sonho americano e força-nos a refletir sobre a forma como este país foi construído", diz.

[0361] Apresentação do novo dicionário de Cabo-verdiano/Português

CONVITE

A Associação Caboverdeana (ACV) de Lisboa tem a honra e o prazer de convidá-lo(la) para a sessão de apresentação pública do DICIONÁRIO CABO-VERDIANO / PORTUGUÊS, do Professor Doutor Manuel Veiga, a cargo da Dr.ª Ana Josefa Cardoso, linguista e professora do ensino bilingue português/cabo-verdiano.

A sessão de apresentação pública da obra terá lugar nas instalações da ACV sitas na Rua Duque de Palmela, n.º 2, 8.º andar, a partir das 18h00 do próximo dia 21 do corrente mês de Fevereiro, Dia Internacional das Línguas Maternas, e integrará ainda a apresentação da comunicação intitulada "Cabo Verde: Nação Global Caldeada num Bilinguismo em Construção", seguida de debate e intercalada com música e poesia (também traduzida) em Cabo-verdiano e em Português.

Na mesma ocasião, será anunciado o perfil do Curso de Língua Cabo-verdiana a ser ministrado nas instalações da ACV a partir do mês de Março do corrente ano.

Se não cair um meteorito na PRAIA DE BOTE, lá estaremos, como se impõe. Tanto mais que a Dr.ª Ana Josefa Cardoso é uma velha conhecida nossa, da qual nos ficou excelente impressão pela competência demonstrada na sua área de trabalho.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

[0360] Leão dos Santos Lopes: história em andamento da biografia de um "cape verdean" prestigiado nos EUA - VER INÍCIO DO TEXTO NO FINAL DESTE POST









Já está na rua há dias o Terra Nova de Janeiro (chegou-nos hoje pelo correio). Nele se pode ler em mais uma das CRÓNICAS DO ATLÂNTICO NORTE a 2.ª parte de longo texto sobre a história do ensino em Cabo Verde (que continuará noutros números).

No presente mês, a CRÓNICA versará a Génese e ocaso da Italcable, a companhia Italiana de Cabos Telegráficos Submarinos em São Vicente.

Em Março, será a vez de se contar no mesmo jornal a brilhante história de Leão dos Santos Lopes, cabo-verdiano de Santo Antão e "cavalheiro verdadeiramente estimado da colónia portuguesa de Pawtucket" que fez vida na América com significativo sucesso e morreu naquela localidade em 1962. Especialmente para os frequentadores do PRAIA DE BOTE (os falantes e os que aparecem mas nunca falam) seguem alguns excelentes aperitivos relacionados com a vida deste patrício que honrou os seus conterrâneos das ilhas e da diáspora americana e que, ao jeito "camone", também se assinava por "Leo Lopes". Assim, a pouco e pouco, paulatinamente, se vão juntando mais umas pedrinhas à História esquecida das ilhas.

Uma mercearia que não foi o seu único negócio
O casamento da filha

Eis o início...

A primeira vez que damos com Leão Lopes, em Junho de 1923, é através do anúncio da sua loja, a Mercearia Portuguesa na Hamilton St., 42, em Pawtucket. Ali se “[vendia] tudo quanto [havia] de bom e barato no género de latas de conserva, sardinhas portuguesas, carne, etc., etc.” Volta a surgir-nos no ano seguinte, quando a Direcção do Clube Republicano Português de Pawtucket agradece a uma lista de 44 sócios doadores os contributos para a continuação do levantamento do edifício da sua sede. Leão ofereceu 200 dólares, sendo dos 44 o quinto a dar maior quantia, apenas superada por outro com 500, dois com 650 e um com 1000 dólares. Ainda em 24, é membro da Comissão de Angariação de Fundos para o levantamento do Monumento aos Mortos da Grande Guerra de Lisboa, em Central Falls. Aparece por engano de letra inicial de “Leão”no DN de 7 de Setembro de 1939, confundido com Peão Lopes, escultor e cineasta de Moçambique. Mas fala-se dele em 1941, a propósito da conclusão pelo filho [do nosso assinante] Artur Leão Lopes do curso da Cook Grammar School no mês anterior. O jovem matricular-se-ia no Liceu no Setembro seguinte.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

[0355] E ainda... o Carnaval - VEJA OS POSTS ANTERIORES


[0354] Carnaval, Carnaval e mais Carnaval no Mindelo - VEJA OS POSTS ANTERIORES


[0353] Cabo Verde Music Awards 2013

Bilhetes à venda a partir de hoje

PRAIA DE BOTE divulga este evento de relevância nacional que se destina a difundir nas ilhas e no Mundo a música cabo-verdiana e a sua importância e a premiar os seus melhores cultores

Os Bilhetes Plateia para a Gala CVMA 2013 estão à venda a partir de hoje, dia 11 de Fevereiro, desde as 14 horas, e custam 2000$00. Houve, por isso, uma redução de 1000$00 face ao ano anterior, tornando a entrada mais acessível a todos. Os bilhetes estarão à venda na Livraria Nhô Eugénio, na Achada de Santo António, na Loja Harmonia, no Plateau, no Hotel Praia Mar, na Prainha e na sede da GMS Entertainment no Parque 5 de Julho. Este ano pode também comprar o seu bilhete nas caixas VINTI4. Basta que para isso selecione a opção Gala CVMA. O talão de compra terá depois de ser trocado pelo bilhete num dos pontos de venda oficiais. (serviço disponível a partir de dia 18 de Fevereiro). As pulseiras para a bancada Strela estarão à venda a partir do dia 25 e custam 500$00.

Abraão Vicente desenha os bilhetes para a Gala CVMA

Mantendo o desígnio de juntar música a outras manifestações artísticas, a organização dos Cabo Verde Music Awards lançou, este ano o desafio a Abrãao Vicente para desenhar o bilhete da Gala. Este convite, prontamente aceite pelo artista plástico, advém do reconhecimento da obra e da notoriedadede Abraão Vicente, tido, como um dos mais promissores artistas contemporâneos de Cabo Verde. Abraão Vicente é artista plástico, cronista e escritor. Nasceu no interior da ilha de Santiago, em Cabo Verde, numa família numerosa, sendo o sexto de oito irmãos. Em casa encontrou no pai e no avô, estudiosos da língua crioula e da cultura da ilha, o gosto pela literatura e pelas artes. Fez os estudos na Vila de Assomada e na Cidade da Praia. Licenciou-se em Sociologia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (2003),  com tese sobre a construção do campo artístico em Portugal durante o séc. XX. Como artista plástico participa num vasto leque de exposições, pelo que se destaca neste últimos anos a exposição - Projecto Roots Collection - Influx Gallery - Lisboa, Portugal;  Colectiva Andorra Art Camp - Andorra; “100 Obras, 10 Anos: Uma Selecção da Colecção da Fundação PLMJ”- Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva - Lisboa; “Idioma Comum”: Artistas da CPLP na Colecção da Fundação PLMJ ou as exposições realizadas em 2010, tais como: “Bú ê”, Galeria Bozart, Lisboa Portugal; IIIrd Black World Festival of Arts & Cultures, Dakar Senegal; Lisboa Pop Up 2010, Pavilhão 27, Lisboa; “Sketches for freedom fighters collection”, Serigrafia, Igallery, Praia; “A idade de Bruegel ou a queda dos anjos rebeldes”, Igallery, Praia, Cabo Verde. A sua obra encontra-se referenciada em diversas publicações nacionais e internacionais e está catalogado no Guia de Artistas de Galicia 2003 e no Artafrica da Fundação Calouste Gulbenkian.

Além do bilhete da Gala, será inaugurada, esta sexta-feira, dia 15 uma exposição de Abraão Vicente na livraria Nhô Eugénio, com o apoio dos Cabo Verde Music Awards. A exposição estará patente até ao dia 15 de Março.

Recordamos que o ano passado o bilhete foi desenhado e concebido pelo artista plático Kiki Lima.

Logo que possível, PRAIA DE BOTE divulgará imagem do bilhete desenhado por Abraão Vicente.

[0352] Regionalização desfila no Mindelo

O Grupo de Reflexão sobre a Regionalização colocou nas ruas de Mindelo, aproximadamente cem figurantes trajando a camisola  do  Grupo, entoando a música de Carnaval "Regionalização agora"   (autoria  do  TXETA), com todas as ilhas representadas em maquetes. Isto, como forma  de  dar  a conhecer cada vez mais  aos  Mindelenses esta temática e  mostrando a  sua determinação em  contribuir  para a regionalização de Cabo Verde e de S. Vicente.

[0351] Turismo mindelense ganha como Carnaval - VEJA OS POSTS ANTERIORES


sábado, 9 de fevereiro de 2013

[0345] Duas marchas e um samba do bloco "Flor Azul"


Eis mais um material já publicado noutras circunstâncias mas também de rever nesta altura do ano. A data é incerta mas é de certeza de um dos seguintes carnavais: o de 1963, o de 1964 ou o de 1965.

Documento do Arquivo Joaquim Saial


[0344] Outro Carnaval, há quase meio século

VEJA  O POST ANTERIOR SOBRE A REGIONALIZAÇÃO EM CABO VERDE

As fotos são do desfile de Carnaval de 11 de Fevereiro de 1964, feitas pelo pai do administrador do PB. Já foram mostradas noutras ocasiões, mas fica sempre bem vê-las nesta época. Passa-se a coisa na Praça Nova, junto à casa do saudoso Dr. Aníbal (a qual se vê do outro lado da rua). Era um Carnaval muito cabo-verdiano, com laivos de Brasil. Agora, passou a ser um Carnaval muito brasileiro, com laivos de Cabo Verde, com os cânticos a serem abafados pelo som do pandeiro e dos tambores. Bem dizia a Cesária que o Mindelo é um "brasilim", no disco "Café Atlântico", em música de Pedro Rodrigues chamada "Carnaval de São Vicente"...

O bloco dos mosqueteiros é o "Flor Azul". O outro bloco, com indianos de turbante, os nossos leitores sãovicentinos que o identifiquem melhor mas parece-nos que é o Amarante.

Bom Carnaval para todos e não gastem muita farinha que a vida está cara. 

Fotografia do Arquivo Joaquim Saial

Fotografia do Arquivo Joaquim Saial

[0343] Descentralização no "Liberal"

Clique AQUI para ler a notícia no "Liberal"

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

[0341] Para abrir o apetite, um excerto do texto que o PRAIA DE BOTE prepara sobre a Italcable

Mais uma Crónica do Norte Atlântico, para sair no final deste Fevereiro, já bem depois do Carnaval, no jornal Terra Nova de S. Vicente. Trata-se de uma pequena viagem pela companhia italiana de cabo submarino que no arquipélago competiu com a poderosa Western Telegraph Company inglesa. Para o efeito, recorre-se a documentação portuguesa e italiana que ajuda a compreender o nascimento e o ocaso desta empresa de que muitos sanvicentinos ainda se lembram e na qual razoável número trabalhou. Atenção, portanto, amigos leitores nas ilhas, ao Terra Nova deste mês.

O PRAIA DE BOTE voltará, logo que este trabalho esteja pronto. O texto final, como sempre, só será publicado no blogue depois de sair no jornal e no parceiro ESQUINA DO TEMPO. Mas antes, outros dois sobre a educação em Cabo Verde por aqui aparecerão (publicados em Dezembro de 2012 e Janeiro passado), de um conjunto de vários que estão em andamento sobre esse tema. Fica para já, a título de aperitivo, o início do texto sobre a Italcable.

GÉNESE E OCASO DA ITALCABLE, A COMPANHIA ITALIANA DOS CABOS TELEGRÁFICOS SUBMARINOS, EM SÃO VICENTE

Devido à sua condição de importante centro portuário, o Mindelo desde cedo esteve ligado ao mundo através do cabo submarino, grande inovação no campo das comunicações. Logo em 1874, a inglesa Western Telegraph Company amarrava na praia da Matiota, em S. Vicente, um cabo que fazia a ligação da ilha do Monte Cara à Madeira e depois ao Brasil. Pouco depois, em 1886, era a vez de se fazer a conexão à África e à Europa continental. A presença de dirigentes e técnicos telegráficos britânicos na ilha ficou ali marcada até hoje, em apelidos, hábitos sociais e desportivos e até alguma arquitectura remanescente desses tempos. Não é porém da história cabo-verdiana da WTC que esta crónica irá tratar mas sim da de uma sua concorrente posterior, a Compagnia Italiana dei Cavi Telegrafici Sottomarini, mais conhecida por Italcable.

A presença de italianos nas ilhas era já uma realidade, nomeadamente na área do comércio. Como António Leão Correia e Silva foca em Nos Tempos do Porto Grande do Mindelo, “[Uma] comunidade de comerciantes estrangeiros que chega a ter aqui algum peso é a italiana. Estimulados pelo mercado criado pelos numerosos passageiros desta nacionalidade que escalam, o Mindelo a caminho de Buenos Aires, Montevideu e Santos, instalam-se na cidade mercadores transalpinos, abrindo bazares, lojas de ‘souvenires’, bares e restaurantes. Pietro Polese, Cavassa Giuseppe, Massoca Mattili, Bonucci Gaetarez, Frusoni são alguns dos importantes comerciantes italianos da praça do Mindelo (…) De tal modo forte foi a presença das companhias italianas no Porto Grande que animou um cidadão transalpino Giobatta Morazzo a fundar aqui um estaleiro de reparação naval na praia da Matiota (…).” A estes, juntamos nós outros, como por exemplo Giuseppe Frusoni ou Pedro (Pietro) Bonucci, tio materno de Sérgio Frusoni, dono (ou sócio) da Loja Central  e proprietário da Central Eléctrica do Mindelo ou também Pietrino Mastrodomenico di Giuseppe, natural de Castelnuovo di Conza, província de Salerno, que na Praia exportava e importava produtos entre a Europa e África. Não seria no entanto esta afinal pequena colónia de italianos que ditaria a chegada da Italcable ao arquipélago, mas sim as muito maiores que se haviam estabelecido na Argentina e Brasil, para não falar da que prosperava nos Estados Unidos da América.

A Italcable, fora fundada em 1921, pelo engenheiro electrotécnico Givanni Carosio (1876-1959). (...)

[0340] Quando do Zeppelin se via Cabo Verde

Enquanto o PRAIA DE BOTE não volta, aqui fica esta prenda para os nossos "clientes" mais dedicados se entreterem.

FLYING DOWN TO RIO

CLIQUE NA IMAGEM

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

[0338] Jogadores da selecção de futebol de Cabo Verde não são apenas inteligentes com os pés

Luís de Camões
Leia AQUI como os "Tubarões Azuis" defendem a língua portuguesa na África do Sul.

E sem complexos, sabendo-se obviamente que o crioulo é a língua mãe de Cabo Verde e que também é amada e falada, como não podia deixar de ser. 

Caso para dizer que estes rapazes só estão a dar bons exemplos - e não só em Cabo Verde nem para Cabo Verde.

[0337] Amanhã, todos os cabo-verdianos e aderentes unidos no desejo da vitória contra o GANA no CAN