segunda-feira, 16 de maio de 2011

[0064] À deriva... Não no "Carvalho", não no "Nauta", não no "Santo Antão"... mas num ferry...

"Ferry" avariado com PM a bordo já está em Porto Novo
por Lusa/Hoje - 16.Maio.2011

O "ferryboat" que hoje avariou e ficou à deriva no canal entre Santo Antão e São Vicente, com o primeiro-ministro cabo-verdiano a bordo, já chegou a Porto Novo sem mais incidentes, disse à Agência Lusa fonte oficial.

Contactada por telefone, fonte do gabinete de José Maria Neves, que também seguia a bordo, indicou que, à saída do Mindelo (São Vicente), já depois do ilhéu dos Pássaros, registou-se uma avaria no leme e o "ferry" parou, com a maré a empurrá-lo em direcção à montanha conhecida por "Monte Cara".

No entanto, com a pronta chegada de um rebocador, entretanto chamado, conseguiu-se imobilizar o navio e reparar o leme, operação que demorou cerca de duas horas.

Segundo a fonte, ainda se pensou em regressar a São Vicente, mas, após uma análise da situação a seguir à reparação, decidiu-se seguir para Porto Novo (Santo Antão), onde o "ferry" chegou cerca das 10:15 locais (12:15 em Lisboa).

Não houve pânico nem feridos, acrescentou a fonte, sublinhando, porém, que alguns passageiros enjoaram e vomitaram, situação que considerou "normal".

José Maria Neves desloca-se a Porto Novo para presidir à cerimónia de abertura de um encontro com os diplomatas acreditados no país, marcado para hoje de manhã, e que, entretanto, foi atrasado devido ao incidente.

domingo, 15 de maio de 2011

[0063] O que a Shell era… e o que a Shell é… RIP Shell em Cabo Verde!!! - Texto de jornal que está no âmbito das comemorações do 50.º aniversário do cais acostável do Porto Grande

Numa altura em que a Shell abandona Cabo Verde e muitos outros países de África, vem o PRAIA DE BOTE fazer a oração fúnebre da petrolífera na região (diz-se que outra pode vir a tomar o seu lugar) com um texto dos bons tempos da Shell, tempos de grande prosperidade do estaminé vizinho da Capitania dos Portos e da Praia de Bote. Nhô Grigório  Alves, um dos mais antigos e competentes funcionários que conheci dessa empresa,  lá no céu deve chorar se souber deste desvario...

«Diário de Notícias» de New Bedford, EUA
24.Outubro.1968

S. Vicente, Cabo Verde — Com a presença do governador de Cabo Verde, comandante Sacramento Monteiro, do presidente da Câmara Municipal, sr. José de Brito, e outras individualidades oficiais e particulares, realizou-se nesta cidade a assinatura do contrato de concessão entre o governo da província e a Shell Portuguesa para o fornecimento de combustíveis à navegação no molhe de S. Vicente, envolvendo um investimento de 25 mil contos na medida em que implica a ampliação e modernização das instalações portuárias daquela empresa.

Usou da palavra o eng. Lopes Nicolau que representava a administração da Shell Portuguesa e recordou datarem de 1920 os primeiros trabalhos levados a efeito pela Companhia no arquipélago. Prosseguiu: «É agora a vez de assinarmos com o governo de Cabo Verde um contrato de concessão para o fornecimento de combustíveis à navegação no novo molhe de S. Vicente, responsabilidade que envolve um investimento de cerca de 25 mil contos, na medida em que implica a ampliação e modernização das nossas instalações neste porto.»

Depois de frisar o desenvolvimento de Cabo Verde, disse o orador: «- Esse desenvolvimento não nos pode deixar indiferentes. Não só porque, na Shell Portuguesa, Cabo Verde tem sido uma constante das nossas actividades, como também é princípio basilar da ética do Grupo Royal Dutch-Shell, onde predomina o capital holandês e a que a nossa Organização está ligada, procura contribuir tanto quanto possível para o progresso dos países em que exerce a sua acção.»

Na sua resposta, o governador Sacramento Monteiro salientou os benefícios que têm recaído sobre o porto de S. Vicente nos últimos tempos, com o seu apetrechamento, de forma a poder concorrer com os portos vizinhos e estar apto a servir a navegação, cuja frequência poderá vir a ser cada vez maior, dado o porte dos barcos que são agora obrigados a escolher a rota do Cabo, em carga que justifique, economicamente, o longo percurso a fazer.

Destacou entre outros factores relevantes, a criação recente da zona franca, anunciando que está já previsto o projecto de um novo rebocador para serviços no Porto Grande.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

[0062] Navios do Porto Grande. Ou que por ele passaram deixando rasto... (004) N/M SANTO ANTÃO

Neste regresso do PRAIA DE BOTE, o seu administrador pensou retomar o tema da espionagem em Cabo Verde durante a II Guerra Mundial. Contudo, o assunto requer algum trabalho e portanto, por agora, voltamos aos barcos.

O "Santo Antão"

O navio de carga e passageiros "Santo Antão" era um mimo. Branco, limpo, relativamente elegante, perfilava-se como o mais veloz em actividade no arquipélago, naqueles anos iniciais dos 60 em que o conheci, colocando os muitos veleiros da cabotagem a enorme distância, em termos de rapidez e eficiência de transporte de passageiros e carga. Vendo-o  atracado no cais acostável a partir da Capitania, cá de baixo ou lá do topo onde se içavam as bandeiras e o negro balão dos pilotos, só se confundia com os "marus" japoneses de pesca, seus concorrentes mais próximos...

Ficam as especificações do malogrado navio que se afundou a 8 de Janeiro de 1966 junto a Santa Maria, na ilha do Sal (bebidas no nosso colega blogue Finisterra), uma nota do site Morabitur, uma portaria do Diário do Governo de 14.Novembro.1970 (assinada pelo antigo Governador de Cabo Verde Leão Sacramento Monteiro) e um documento do nosso arquivo.


Tipo ... Navio de carga
Construtor ... C.U.F. - Companhia União Fabril
Local construção ... Estaleiro Naval da A. G. P. L. (Agência Geral do Porto de Lisboa) - Lisboa
Ano de construção ... 1957
Registo ... Capitania do Porto de Lisboa, em 2 de Novembro de 1957, com o número H 448
Sinal de código ... C S D L
Comprimento fora a fora ... 53,30 m
Boca máxima ... 9,02 m
Calado à proa ... 3,35 m
Calado à popa ... 3,63 m
Arqueação bruta ... 543,31 Toneladas
Arqueação Líquida ... 253,92 Toneladas
Capacidade ... 450 m3
Porte bruto ... 585 Toneladas
Aparelho propulsor ... Um motor diesel, de 5 cilindros, construído em 1955 por Burmeister & Wain, em Copenhague, Dinamarca.
Potência ... 500 cavalos
Velocidade máxima ... 11,0 nós
Velocidade normal ... 9,0 nós
Tripulantes ... 14
Armador ... Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes - Lisboa

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Site Morabitur (acerca da possibilidade de mergulhar ao largo da ilha do Sal)

"Constituem referência e objecto de enorme fascínio os destroços de inúmeros barcos naufragados neste mar. Destaca-se o navio Santo Antão, partido em dois, que se encontra dos 2 aos 11 metros de profundidade. Visitas a galeões e/ou a navios mercantis afundados, tudo pode fazer parte de uma cativante sessão de mergulho."

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"Diário do Governo" Portaria n.º 574/70 de 14 de Novembro

Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Ultramar, nos termos do artigo 13.º do Decreto n.º 35770, de 29 de Julho de 1946, conjugado com o artigo 5.º do Decreto n.º 40712, de 1 de Agosto de 1956, abrir um crédito especial da importância de 197250$00, a inscrever em adicional à tabela de despesa extraordinária do orçamento geral da província de Cabo Verde para o ano em curso, destinado a ocorrer aos encargos com a tentativa de desencalhe do navio Santo Antão, tomando como contrapartida o saldo das contas de exercícios findos.

Pelo Ministro do Ultramar, Leão Maria Tavares Rosado do Sacramento Monteiro, Subsecretário de Estado da Administração Ultramarina.

Para ser publicada no Boletim Oficial de Cabo Verde. - Sacramento Monteiro.

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Este é mais um documento "cabo-verdiano" que guardamos religiosamente, há décadas. A história é curta e simples: o patrão-mor da Capitania de S. Vicente precisou de ir à Brava para tratar de assunto premente relacionado com faróis. Era necessária uma viagem rápida que só o "Santo Antão" podia satisfazer. Assim, a Capitania tratou de comprar o bilhetinho (sim, que a Capitania não sacava bilhetes de borla... pagava-os!) e lá foi o dito cujo cumprir os deveres profissionais a bordo do alvo navio-motor. O recibo foi passado pela Junta Autónoma dos Portos do Arquipélago de Cabo Verde, custou  369$60 (ida e volta, bilhete de segunda classe, aquela que um sargento vencia, apesar de ser patrão-mor)  e a viagem iniciou-se em S. Vicente a 30.Abril.1965. 46 anos...

(clique na imagem)