segunda-feira, 16 de junho de 2014

[0924] Italianos em Cabo Verde

Armas de Itália entre 1861 e 1946
Em 22 de Setembro de 2005 escrevemos no jornal electrónico "Liberal" (Cabo Verde) um texto de que abaixo colocamos um excerto (a verde), em que citávamos o comerciante de origem italiana Pietrino Mastrodomenico; entretanto, a figura acabou por entrar num conto nosso, "A trágica biografia de Fernando Desamparado da Luz Spinelli", de que também hoje inserimos parte (a azul); rematamos o ciclo com a reprodução de um envelope (carimbado na Praia, em 1914, e com selo da época monárquica com impressão de recurso a dizer "República - Cabo Verde") que encontrámos com o timbre do nosso homem, enviado da Praia para Leeds, no Reino Unido, a J. Zossenheim & Partners, gente ligada à actividade têxtil. E agora vamos trabalhar noutras aventuras, cabo-verdianas e portuguesas, que aqui a actividade centrada nessas origens nunca para. Braça para todos ou abbracci a tutti, como desejarem. Até breve.


(...) Giuseppe Frusoni e Pietro Bonucci eram gente de Livorno; de Temistocle Neri não conhecemos a origem. Na Praia, pontuava por essa altura o comerciante Pietrino Mastrodomenico di Giuseppe, natural de Castelnuovo di Conza, província de Salerno, que exportava e importava produtos entre a Europa e África. Homem de generosidade, ofereceria $500 para um peditório destinado aos pobres da cidade, organizado pelo "Futuro de Cabo Verde", no terceiro aniversário da implantação da República. Para quando, portanto, a história destes (parece que muitos) italianos que arribavam há um século às ilhas e nelas prosperavam? Tanto mais que esse ítalo interesse, ao invés de ter terminado, tem registado intensificação crescente nos últimos anos... António Leão Correia e Silva, no seu delicioso e crucial livro "Nos Tempos do Porto Grande do Mindelo", levanta um pouco do véu relativamente ao assunto, falando da comunidade italiana que se instalou no em São Vicente: 

(…) abrindo bazares, lojas de ‘souvenirs’, bares e restaurantes. Pietro Polese, Cavassa Giuseppe, Massoca Mattili, Bonucci Gaetarez, Frusoni são alguns dos importantes comerciantes italianos da praça do Mindelo. Os seus principais clientes são os passageiros em trânsito das companhias italianas ou francesas e alemãs partindo de Génova como La Veloce, Compagnia Generale de Rubaltino Florio, Rocco Piaggio, Societá Lavarelo (...). 

Enfim, todo um mundo por desenterrar do pó dos arquivos e das páginas de jornais da época.

(...) O pai de Fernando, Vittorio Spinelli, chegara à cidade de Praia em 1913, com dezoito anos, para trabalhar no estabelecimento de Pietrino Mastrodomenico di Giuseppe, comerciante italiano natural de Castelnuovo di Conza, província de Salerno. Pietrino, que fazia importação e exportação de mercadorias entre o país natal e África, precisava de mais um ajudante para o seu depósito de venda por atacado. Por coincidência, na altura, o cura de Castelnuovo, sabendo que ele estava bem estabelecido nesse então longínquo Cabo Verde, escreveu-lhe pedindo-lhe para receber aquele «rapaz inteligente e trabalhador» que, desempregado, se propunha encontrar ocupação com futuro, nem que fosse no fim do mundo. Pietrino, de imediato respondeu positivamente ao abade. No mês seguinte, Vittorio desembarcava na Praia, para afinal pouco ali se demorar. Com efeito, mal integrado, apesar do bom tratamento que o patrão lhe dava, ao fim de um ano metia-se num palhabote a caminho de São Vicente, desejoso de conhecer esse Mindelo, quase europeu e mais cosmopolita que a capital do arquipélago, ao qual os colegas caixeiros teciam tantos elogios.

  


8 comentários:

  1. Tenho uma vaga ideia de que essa rua ficava lá para os lados da Rua de Coco ou Largo do Cruzeiro. Mas onde, onde? Rua de Talione, por lá terem residido italianos? Alguém que saiba, que vá mais longe.

    Braça vermelha, branca e verde,
    Djack

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  2. Djack Rua de Talione ou Rua de Suburbana ficava entre a Rua do Coco e a Rua da Moeda, a minha rua. Moraram aí italianos entre outros os Morazzo.
    abraço

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  3. Morazzo, Bunucci, Frusoni, Galeano deitaram raizes. Muitos outros, nomeadamente, durante a Segunda Grande Guerra, deixaram sementes que germinaram na cabo-verdianidade, mesmo se os nomes não aparecem presentemente.

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  4. Bem me queria parecer que era para os lados da Rua de Coco, artéria à qual tamém chamávamos Largo do Cruzeiro.

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  5. Bem me queria parecer que era para os lados da Rua de Coco, artéria à qual tamém chamávamos Largo do Cruzeiro.

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