Ora bem, chegou a hora de puxar uma fumaça de canhote.
Para começar, acontece que não sei se o antigo Presidente de Cabo Verde, Aristides Pereira, fumava. Tal como o Adriano, vi-o uma única vez, em Lisboa, na Fundação Mários Soares, por ocasião do lançamento do seu livro "Uma luta, um partido, dois países", altura em que gentilmente autografou o exemplar que adquiri. Trocámos então meia dúzia de palavras, eu dizendo-lhe quem era, ele sorrindo sempre, admirado por eu ter residido na Torre de Belém da ilha vicentina. E na data não o vi fumar. Portanto, de fumos aristídicos, estamos conversados. Mas Aristides, enquanto Presidente, tinha de fazer ofertas aos seus congéneres que o visitavam ou dar-lhes prendas quando ia ter com eles, aos respectivos países. É da praxe, do protocolo e da boa delicadeza. Isto é, faz parte do cargo. E então teve o discernimento de não entrar em loucuras de novo-rico e elegeu objectos modestos para o efeito mas de grande qualidade artística, provenientes do artesanato cabo-verdiano: no caso, cachimbos (canhotes). E feitos pelo maior entre os maiores: o nunca igualado mestre Pulú. Não vale a pena falar aqui desta importante figura de bravense por nascimento e mindelense por adopção, bastante bem retratada no blogue amigo "Esquina do Tempo" ver AQUI Contudo, mostramos hoje e à conta do concurso 22 uma das magníficas caixas de madeira que Aristides Pereira ofertou a personalidades mundiais da sua época, com as quais travou contacto institucional.
Quando ao Adriano Lima, é claro que tem direito a uma folha de acácia. E já vão 15... O concurso era dificílimo mas ele rodeou a coisa da melhor maneira e chegou pertinho da realidade que pretendíamos mostrar: esta, aqui mais abaixo, observável em várias imagens... deliciosamente aromáticas e fumegantes. Um abraço para o nosso amigo que verá o seu conto tratado com qualidade em próximo post.
Clique nas imagens, para as ver melhor
Bem me parecia que havia Sr Pulú no meio só que não via como entrar A Pereira na História. Acredita Djack que pensei na solução para mim
ResponderEliminarDe facto, metendo esta história canhotes, quase inevitavelmente teria de meter mestre Pulú. Mas o que a torna de todo interessante é o antigo presidente ter tido a sabedoria de utilizar trabalhos de um dos melhores artesãos de Cabo Verde para oferta a congéneres estrangeiros e não alguma coisa importada capaz de encher mais o olho. No meu caso, se eu fosse PR de um país qualquer e me oferecessem uma coisa destas guardá-la-ia como uma relíquia. Seria peça de honra no meu escritório. E ainda por cima em triplicado... A história de Cabo Verde também se vê nestas aparentemente pequenas coisas.
EliminarBraça com fumaça,
Djack
Pronto, está tudo esclarecido. Como desconfiei logo que não ia chegar lá, optei por uma deriva ficcionista com intenção de descobrir um Aristides Pereira no pleno da sua identidade cabo-verdiana e de o reposicionar no rés da sua autenticidade, devolvendo-o ao coração da mamãe-terra e à singularidade dos sentimentos e sonhos de um ilhéu.
ResponderEliminarVejo que, sem decifrar o enigma que constituiu o repto do Djack, acabei por pairar sobre a rama da verdade, na medida em que fica bem patente que o critério utilizado pelo presidente para as ofertas protocolares era uma perfeita evidência do seu carácter e dos princípios que o norteavam no exercício do seu alto cargo. Com efeito, utilizar o produto do nosso artesanato era uma honra e um incentivo à nossa criatividade cultural, ao mesmo tempo que um exemplo de parcimónia e comedimento no uso dos dinheiros públicos. Penso que qualquer chefe de estado estrangeiro apreciaria muito mais ser ofertado com uma expressão genuína da alma cabo-verdiana ("uma relíquia", como diz o Djack no seu comentário) do que com qualquer produto ostentoso adquirido fora das fronteiras nacionais.
De facto, nos meus devaneios ficcionistas quis ir ao encontro do jovem nascido na sua Boavista e seguir depois o nexo da sua evolução como revolucionário, na senda do sonho que partilhava de maior progresso e bem-estar para o seu povo. Creio poder afirmar que a sua postura foi sempre de grande dignidade pessoal e de coerência de princípios e de procedimento. Um exemplo que devia ser seguido por todos os que na terra cabo-verdiana exercem cargos de direcção política e de governação, que devem ser em si mesmo motivo de honra e não via para envaidecimento pessoal e enriquecimento moralmente ilegítimo.
Não foi por acaso que quando deixou a presidência o Aristides Pereira não tinha uma casa para onde ir morar.