De como se pode reconstruir em parte a identidade de uma figura a partir de três notícias de jornal e de dois depoimentos de quem a conheceu. Mais coisa, menos coisa, chama-se a isto "investigação"
Zito Azevedo
Ou me engano muito ou este Leitão era o da Fábrica de... Tabacos (Smart e Falcões), que morava ao lado dos antigos CTT do Mindelo... Era um gentleman, sempre impecável no seu fato cinzento e óculos de aros dourados, moreninho, casado com uma senhora... loura!
Se estiver enganado, alguém me ajude: a memória já não é o que era!Salvo erro, o campo de jogos da Dja de Sal chama-se Marcelo Leitão... [Nota do Pd'B: de facto, o estádio de futebol de Espargos tem o nome de Marcelo Leitão] Não sei se será o mesmo!
Adriano Miranda Lima
Conheci muito bem o senhor Marcelo Leitão, dono da fábrica de tabaco local, que andava sempre de fato completo, com gravata e lencinho de bolso. E vou contar uma história. Quando fiz o sexto ano de liceu, quis arranjar um trabalhinho de férias para arranjar uns trocos para o cinema e uns drops e chocolates. Então um tio meu disse que o Marcelo Leitão, que lhe devia uns favores, estava a precisar de alguém para fazer uns "overtimes" no escritório dele (talvez arquivar papéis e coisa do género). Falou com o dono da Fábrica e lá fui apresentar-me a ele. Mandou-me entrar e sentar à secretária. Qual não foi o meu espanto, pôs-se a ditar-me umas palavras (pretensamente difíceis) para eu escrever numa folha de papel, digamos que uma espécie de teste. Recordo-me bem de que uma das palavras era "administração do concelho" e outra era “vicissitude"!. Escrevi acertadamente as palavras que me foram ditadas, sem errar nenhuma. Está bom de ver que o senhor Marcelo estava à espera que eu escrevesse "conselho", ahahahah. Eu não era das alíneas da área das Letras, mas nunca tive problemas com a gramática, ou não tivesse consolidado as bases com o Alfredo Brito. O patrão da Fábrica disse-me que estava tudo bem e que depois me mandaria chamar. Até hoje! Ainda estou à espera da chamada do senhor Marcelo Leitão, que, nunca se sabe, pode ser um dia destes me telefone pelo móvel. Como o tempo se foi passando sem eu ser convocado, contei o facto ao meu tio, ao ser perguntado. Este, que era oficial da Alfândega, e viriam certamente daí os favores que o patrão da fábrica lhe devia, então disse-me: Ah sim? Espera que depois lhe mostro como é.
Bem, se quis uns trocos para as férias, tiveram de vir de outro lado. Mas não me esqueço deste episódio. E job, nem na fábrica nem noutro lado qualquer. Foi só boa vida nessas férias. Matiota durante o dia e Praça Nova à noite.
Notas do Praia de Bote (de investigação em jornais)
- Em 11 de Fevereiro de 1932, faleceu o filho de Marcelo Leitão, Fernando Emídio.
- A 11 de Dezembro de 1934 regressou a Cabo Verde, vinda de Lisboa, a esposa de Marcelo Leitão, D. Vicência de Jesus (Marcelo Leitão é dado na notícia como "conceituado comerciante e industrial desta cidade [Mindelo]").
- Com alguma confusão de datas, a terceira notícia de que tenho conhecimento deverá ter sido lançada por volta de Janeiro de 1934 mas só chegou ao jornal bastante tempo depois, em Março - "Terminadas as intalações da Companhia dos Tabacos de Cabo Verde, de que fazem parte os srs. Manuel Ribeiro de Almeida. Raul do Rosário Ribeiro e Marcelo Leitão, procedeu-se, no dia 10 do corrente [Janeiro de 1934], a experiências do respectivo maquinismo, moderno e aperfeiçoado. Deu esplêndido [no texto, "esplendor"] resultado a operação, produzindo-se tabacos picados e cigarros de 1.ª ordem. Consta-nos que a fábrica entrará em plena laboração no próximo mês de Fevereiro."
Zito Azevedo
Ou me engano muito ou este Leitão era o da Fábrica de... Tabacos (Smart e Falcões), que morava ao lado dos antigos CTT do Mindelo... Era um gentleman, sempre impecável no seu fato cinzento e óculos de aros dourados, moreninho, casado com uma senhora... loura!
Se estiver enganado, alguém me ajude: a memória já não é o que era!Salvo erro, o campo de jogos da Dja de Sal chama-se Marcelo Leitão... [Nota do Pd'B: de facto, o estádio de futebol de Espargos tem o nome de Marcelo Leitão] Não sei se será o mesmo!
Adriano Miranda Lima
Conheci muito bem o senhor Marcelo Leitão, dono da fábrica de tabaco local, que andava sempre de fato completo, com gravata e lencinho de bolso. E vou contar uma história. Quando fiz o sexto ano de liceu, quis arranjar um trabalhinho de férias para arranjar uns trocos para o cinema e uns drops e chocolates. Então um tio meu disse que o Marcelo Leitão, que lhe devia uns favores, estava a precisar de alguém para fazer uns "overtimes" no escritório dele (talvez arquivar papéis e coisa do género). Falou com o dono da Fábrica e lá fui apresentar-me a ele. Mandou-me entrar e sentar à secretária. Qual não foi o meu espanto, pôs-se a ditar-me umas palavras (pretensamente difíceis) para eu escrever numa folha de papel, digamos que uma espécie de teste. Recordo-me bem de que uma das palavras era "administração do concelho" e outra era “vicissitude"!. Escrevi acertadamente as palavras que me foram ditadas, sem errar nenhuma. Está bom de ver que o senhor Marcelo estava à espera que eu escrevesse "conselho", ahahahah. Eu não era das alíneas da área das Letras, mas nunca tive problemas com a gramática, ou não tivesse consolidado as bases com o Alfredo Brito. O patrão da Fábrica disse-me que estava tudo bem e que depois me mandaria chamar. Até hoje! Ainda estou à espera da chamada do senhor Marcelo Leitão, que, nunca se sabe, pode ser um dia destes me telefone pelo móvel. Como o tempo se foi passando sem eu ser convocado, contei o facto ao meu tio, ao ser perguntado. Este, que era oficial da Alfândega, e viriam certamente daí os favores que o patrão da fábrica lhe devia, então disse-me: Ah sim? Espera que depois lhe mostro como é.
Bem, se quis uns trocos para as férias, tiveram de vir de outro lado. Mas não me esqueço deste episódio. E job, nem na fábrica nem noutro lado qualquer. Foi só boa vida nessas férias. Matiota durante o dia e Praça Nova à noite.
Notas do Praia de Bote (de investigação em jornais)
- Em 11 de Fevereiro de 1932, faleceu o filho de Marcelo Leitão, Fernando Emídio.
- A 11 de Dezembro de 1934 regressou a Cabo Verde, vinda de Lisboa, a esposa de Marcelo Leitão, D. Vicência de Jesus (Marcelo Leitão é dado na notícia como "conceituado comerciante e industrial desta cidade [Mindelo]").
- Com alguma confusão de datas, a terceira notícia de que tenho conhecimento deverá ter sido lançada por volta de Janeiro de 1934 mas só chegou ao jornal bastante tempo depois, em Março - "Terminadas as intalações da Companhia dos Tabacos de Cabo Verde, de que fazem parte os srs. Manuel Ribeiro de Almeida. Raul do Rosário Ribeiro e Marcelo Leitão, procedeu-se, no dia 10 do corrente [Janeiro de 1934], a experiências do respectivo maquinismo, moderno e aperfeiçoado. Deu esplêndido [no texto, "esplendor"] resultado a operação, produzindo-se tabacos picados e cigarros de 1.ª ordem. Consta-nos que a fábrica entrará em plena laboração no próximo mês de Fevereiro."
Olá Senhor Adriano,
ResponderEliminarComo vai? O meu nome é Kevin e sou bisneto do Marcelo Leitão. Infelizmente não conheci o meu bisavô. Por isso gostaria de obter informações sobre ele. Fiquei contente de ter lido a história que contaste sobre o Marcelo Leitão. O Adriano pode entrar em contacto comigo por enviar uma mensagem para o seguinte email: Kevinferreiradasilva@hotmail.com.
Os melhores cumprimentos,
Kevin Ferreira da Silva da Holanda
Caro Kevin,
EliminarEspero que tenha recebido as fotografias que lhe remeti por email (sem marca de água), da frente e verso do envelope que pertenceu ao seu familiar.
Entretanto, vou enviar este seu renovado pedido ao nosso amigo Adriano Miranda Lima.
JS
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Gostaria de ter as datas de nascimento e falecimento do Senhor Marcelo Leitão, se possível. Muito agradecia.
ResponderEliminarMeu contacto juliorendall@gmail.com
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