Foto de José Carlos Marques, modificada pelo Pd'B em cor e adereço lunar |
É tempo de abrir
As grades dos jardins
E soltar as flores
À plenitude da música
Na noite de luar da Praça Nova,
E em vão procurar B. Leza
Entre os rapazes da serenata
E só conseguir ouvir
A plangência do seu violino
No lento suspiro da noite
E na terna placidez das raparigas
Girando em redor da Praça.
Ai Amesterdão, Paris, Londres, Lisboa!...
Para quando o exótico sentir
Da ânsia acalentada,
Do transe da espera,
Do enlevo do reencontro
De uma noite na Praça Nova?
É tempo de abrir
O avulso repertório
Do povo da Praça Nova.
Deixar soltar a voz ridente
Da vendedeira de mancarra
E ouvi-la cantarolar sodade di nha cretcheu
Até cair a penugem da noite
Na cálida nudez dos seus enfeites.
Ver o rapaz da maleta de drops e chesterfield
Definir seu território,
Exibir sua pose galante
E invadir o deleite
De meninos e moços.
É tempo finalmente
De abrir o coreto
E libertar a música
Da clausura da pauta
E deixá-la pousar
Nas folhas das árvores,
Nas réstias de luar,
No riso das moças,
Nos vestidos das damas,
E depois!...
Senti-la a evadir-se,
Dengosa e insinuante,
Pelas ruas de Mindelo.
Mas já são seis voltas
À Praça e ela não aparece...
Nem a brisa me antecipa
A fragrância do seu perfume…
Ah, mas vejo-a agora!
Ei-la afinal presente e ausente
Na sedução do olhar,
Na volúpia dos lábios,
No langor do sorriso,
Da Marlene Dietrich,
Além no cartaz do Eden Park!...
Ó doce e inefável fixação
Do olhar feiticeiro
Que alumia a noite na Praça Nova!
Tomar, 30 de Dezembro de 2001
Adriano Miranda Lima
Bela homenagem que faz o Adriano ao lugar onde passou a sua adolescência. O poema já era conhecida mas continuará de actualidade.
ResponderEliminarSe me fosse possivel faria um também à nossa terra que merece o nosso amor
Braças.
Lindo poema dedicado à Praça Nova o lugar das nossa memórias infantis
ResponderEliminarJosé Lopes