Excerto da apresentação que fiz do livro de Germano Almeida "Do Monte Cara vê-se o Mundo", ed. Caminho, em 1 de Outubro de 2012, na Livraria Buchholz, Lisboa
(...) Ora o livro desde início me agradou, pois logo à página 8 fala na "audácia das peixeiras da Rua de Praia", vizinhas da minha rua e casa de infância, e à 10 convida-nos a comer moreia frita na Rua de Matijim, em estaminé que mais tarde há-de identificar como sendo o botequim de Nha Joana, tão boa como a que se fritava no de Guida, paixão fugaz de Pepe. Palmilhei vezes sem conta essa rua de Matijim (ou de Santo António, topónimo tão esquecido ali como o de Praça do Comércio em Lisboa) a dos botequins mais manhosos da ilha, com grandes comezainas (hoje pontua lá, no n.º 42, o restaurante Pica Pau, o dos mariscos de fama) poiso dos piores patifórios e desde sempre sítio de venda de toda a casta de produtos legais e ilegais, estes resultantes de furtos em terra ou de móia de naufrágios mas também de fruta, legumes e onde comprei quilos de mancarra e cimbron (cujo destino, no segundo caso, não era tanto ser comido mas utilizadas as suas bagas como munições de arremesso na geral do cinema do Tuta, o Park Miramar, em direcção os espectadores das primeiras filas)...
E em matéria de botequins, lembro-me bem de alguns dos da Rua da Praia, como o do Faustino (hoje Boca de Tubarão), do da Luz, logo a seguir mas a dar para o lado da Praça Estrela (a Maria da Luz era cunhada de Virgílio de Pina, marinheiro da Capitania e golfista), e, na Rua de Matijim, o de Ti Lina, mãe de colega do Liceu Gil Eanes com quem ainda me dou. Germano cita, como referi há pouco, o de D. Guida, mãe de Júlia e Marquinho, lá na Rua de Craca (artéria entalada entre as do Douro e de Morguino), onde se fazia a melhor moreia frita e a mais gordurenta da paróquia. E também do de Norberto que tal como Pepe é um exagerado nas histórias que conta, à boa maneira são-vicentina e mindelense. Antigo emigrante, guardava um manduco de marmeleiro debaixo do balcão para o que desse e viesse. Ficou famoso por ter sobrevivido a uma queda no mar, agarrado a um caixote de batatas numa hora de temporal em que, na qualidade de cozinheiro de bordo, o fora buscar ao paiol dos mantimentos no exterior do navio. O chief cook mergulhou nas águas, as batatas voaram pelos ares e o caixote assegurou-lhe a flutuação até o pescarem. (...)
Saboroso !!!
ResponderEliminarPor falta de ocasião ainda o livre està para ser lido. Aliàs, como outros mais do autor. Não por decisão mas vou jà tratar do assunto com um amigo que me solicita.