Outro excerto da apresentação que fiz do livro de Germano Almeida "Do Monte Cara vê-se o Mundo", ed. Caminho, em 1 de Outubro de 2012, na Livraria Buchholz, Lisboa
(...) Fala-se também de produtos mais ou menos vulgares no exterior mas que na ilha eram verdadeiro luxo como os frascos de perfume Bond Street (Pepe deu um a Guida nos seus tempos de comerciante de bordo e ofereceria o que lhe restava, e longos anos guardou para quem o merecesse, à filha desta, Júlia, sua paixão maior), os sabonetes Lifebuoy, o corned-beef enlatado, whisky, drops, toffees e chocolates Cadbury (relógios Cauny Prima e rádios de transístores Sony, Philips e Philco, junto eu) que constituíam de facto uma maneira de o Monte Cara ver o mundo como também o era observá-lo através das revistas que chegavam nos vapores e que os pilotos e polícias marítimos traziam para terra, como a Paris Match, a Newsweek, a Time, as brasileiras Cruzeiro e Manchete e as fotonovelas Capricho e Sétimo Céu que corriam todas as mãos do Mindelo até estarem irrecuperáveis de tão sebentas, rotas e falhas de páginas que iam caindo, de leitor para leitor – sendo que os derradeiros já não percebiam patavina do que liam. Lembro-me que foi através da Paris Match que observei as primeiras fotografias relativas ao assassinato do presidente Kennedy, assunto que só veria em filme semanas depois, nas actualidades do cinema Eden Park, primeira e saudosa universidade do Mindelo, miseravelmente desleixada e destruída em crime sem perdão, passível de degredo para os seus autores, no djéu e para sempre. (...)
Este é mesmo o estilo do Germano. O humor está sempre presente, explícito ou insinuado. Gosto de o ler.
ResponderEliminarParece-me que não leste bem o título deste post, Adriano, ahahahaha
EliminarBraça autoral,
Djack