[3209] 1968. Viagem do Presidente da República, Américo Thomaz, à Guiné e a Cabo Verde
São três fitas longas, nalguns casos com som, noutros, não. Há um resumo analítico por baixo de cada filme que deve ser lido, para se compreender melhor o que se vê. Isto é que vai ser recordar locais cunchide, mesmo para quem não esteve presente...
De facto estas imagens nos faz recuar no tempo. Passados 50 anos, hoje a pergunta que se faz é afinal estas visitas presidenciais serviriam para quê?? Fazer turismo ou avaliar as necessidades dos povos das ilhas para intervenções futuras que pudesse acabar com a vida de miséria que se vivia naquela época. Duma coisa tenho hoje certeza de que somos uma "Geração" privilegiada por viver uma época difícil mas cheios de acontecimentos duma riqueza histórica que só engrandece a quem dele souber valorizar. Parabéns ao Praia de Bote e ao Djack Juquim seu proprietário pelo valioso contributo que espero um dia ver registado em papel para posteridade
Veja-se como em 1968 o poder designado por colonial era aclamado e ovacionado pelas populações nas nossas ilhas! Desmentir-me-á quem discorde que eu diga que se calhar nas vésperas do 25 de Abril de 1974 igual cenário se verificaria se o PR visitasse as ilhas. É que em Portugal continental aconteceu algo de muito curioso. Pouco tempo antes do 25 de Abril, uma gigantesca manifestação apoiou o governo de Marcelo Caetano,enchendo a Praça do Comércio e as ruas que a ela confluem. Só podem ter sido os mesmos que aclamaram vibrantemente a revolução perpetrada pelos militares. Zeca Soares, a visita do Américo Tomás inscrevia-se no que se considerava ser uma missão de afirmação de soberania. Portanto, era algo de natureza simbólica, enquanto a "avaliação" dos problemas concretos do território competiria mais ao governador da província e seu staf. Não concordo com o Zeca quando afirma que somos uma geração privilegiada. Em quê, a não ser nos maiores benefícios civilizacionais que se desfrutam em maior grau um pouco por todo o lado? Ah, também somos privilegiados por vivermos num quadrante geográfico onde não há guerras nem grandes calamidades. Tirando isso, não acho que a minha geração tenha sido privilegiada.
Adriano Lima, é evidente que ser-se privilegiado é muito relativo e depende do ponto de vista de cada um. Assim como existem pessoas ambiciosas, também há outras que se contentam com pouco. Conhecendo hoje um pouco mais a história destas ilhas, o seu percurso, a minha origem social e familiar, posso considerar como tal, se tivermos em conta aquilo que Cabo Verde já deu, e pode dar a cada Caboverdiano. Mas isto é um assunto que pode dar origem a muita conversa e que necessita de tempo. Um Abraço
Sim, Zeca, explicaste muito bem. Na verdade, o conceito de privilégio é algo relativo e varia com o espaço e o tempo. Por exemplo, as minhas filhas são consideravelmente mais privilegiadas do que eu fui. Portanto, a geração delas nada tem a ver com a minha em matéria de privilégios. Resta é saber o que o futuro mais distante lhes dará. Quando eu nasci, em fins de Novembro de 1943, nesse ano morreram muitas pessoas de... fome. Quando saí do útero materno, a parteira disse: bem vindo, menino, que nos trouxeste um barco de arroz! Porquê? Porque o tempo era de guerra e os abastecimentos marítimos eram dificultados pela guerra submarina. É sempre relativo o privilégio, como dizes. Por exemplo, o melhor aluno da minha quarta classe da escola primária não teve possibilidade de prosseguir os estudos porque era filho de pobre. Nunca o esqueci e nunca o esquecerei. O apelido dele era Leite e nunca mais o voltaria a ver depois da escola primária. Sim, um dia terei todo o gosto em conversar contigo sobre este assunto. Tal como nos encontrámos na casa da Lídia, minha parente, pode ser que o reencontro volte a dar-se um dia destes.
Acabei de ver todos os filmes da visita do presidente Américo Tomás a Cabo Verde. Penso que as imagens contêm muita matéria para estudo e formulação de considerações e conclusões. O sentimento das pessoas pela visita do presidente era espontâneo e genuíno. Não era instigado, como faz Kim Jong-un na Coreia do Norte, correndo o risco de prisão ou morte quem não cumprir.
De facto estas imagens nos faz recuar no tempo.
ResponderEliminarPassados 50 anos, hoje a pergunta que se faz é afinal estas visitas presidenciais serviriam para quê??
Fazer turismo ou avaliar as necessidades dos povos das ilhas para intervenções futuras que pudesse acabar com a vida de miséria que se vivia naquela época.
Duma coisa tenho hoje certeza de que somos uma "Geração" privilegiada por viver uma época difícil mas cheios de acontecimentos duma riqueza histórica que só engrandece a quem dele souber valorizar.
Parabéns ao Praia de Bote e ao Djack Juquim seu proprietário pelo valioso contributo que espero um dia ver registado em papel para posteridade
Veja-se como em 1968 o poder designado por colonial era aclamado e ovacionado pelas populações nas nossas ilhas! Desmentir-me-á quem discorde que eu diga que se calhar nas vésperas do 25 de Abril de 1974 igual cenário se verificaria se o PR visitasse as ilhas. É que em Portugal continental aconteceu algo de muito curioso. Pouco tempo antes do 25 de Abril, uma gigantesca manifestação apoiou o governo de Marcelo Caetano,enchendo a Praça do Comércio e as ruas que a ela confluem. Só podem ter sido os mesmos que aclamaram vibrantemente a revolução perpetrada pelos militares.
ResponderEliminarZeca Soares, a visita do Américo Tomás inscrevia-se no que se considerava ser uma missão de afirmação de soberania. Portanto, era algo de natureza simbólica, enquanto a "avaliação" dos problemas concretos do território competiria mais ao governador da província e seu staf.
Não concordo com o Zeca quando afirma que somos uma geração privilegiada. Em quê, a não ser nos maiores benefícios civilizacionais que se desfrutam em maior grau um pouco por todo o lado? Ah, também somos privilegiados por vivermos num quadrante geográfico onde não há guerras nem grandes calamidades. Tirando isso, não acho que a minha geração tenha sido privilegiada.
Ah, esqueci-me de dizer que gostei de ver os filmes pela oportunidade que me deram de ver as nossas ilhas numa altura em que eu estava afastado delas.
ResponderEliminarAdriano Lima, é evidente que ser-se privilegiado é muito relativo e depende do ponto de vista de cada um. Assim como existem pessoas ambiciosas, também há outras que se contentam com pouco.
EliminarConhecendo hoje um pouco mais a história destas ilhas, o seu percurso, a minha origem social e familiar, posso considerar como tal, se tivermos em conta aquilo que Cabo Verde já deu, e pode dar a cada Caboverdiano.
Mas isto é um assunto que pode dar origem a muita conversa e que necessita de tempo.
Um Abraço
Sim, Zeca, explicaste muito bem. Na verdade, o conceito de privilégio é algo relativo e varia com o espaço e o tempo. Por exemplo, as minhas filhas são consideravelmente mais privilegiadas do que eu fui. Portanto, a geração delas nada tem a ver com a minha em matéria de privilégios. Resta é saber o que o futuro mais distante lhes dará.
EliminarQuando eu nasci, em fins de Novembro de 1943, nesse ano morreram muitas pessoas de... fome. Quando saí do útero materno, a parteira disse: bem vindo, menino, que nos trouxeste um barco de arroz! Porquê? Porque o tempo era de guerra e os abastecimentos marítimos eram dificultados pela guerra submarina.
É sempre relativo o privilégio, como dizes. Por exemplo, o melhor aluno da minha quarta classe da escola primária não teve possibilidade de prosseguir os estudos porque era filho de pobre. Nunca o esqueci e nunca o esquecerei. O apelido dele era Leite e nunca mais o voltaria a ver depois da escola primária.
Sim, um dia terei todo o gosto em conversar contigo sobre este assunto. Tal como nos encontrámos na casa da Lídia, minha parente, pode ser que o reencontro volte a dar-se um dia destes.
Acabei de ver todos os filmes da visita do presidente Américo Tomás a Cabo Verde.
ResponderEliminarPenso que as imagens contêm muita matéria para estudo e formulação de considerações e conclusões. O sentimento das pessoas pela visita do presidente era espontâneo e genuíno. Não era instigado, como faz Kim Jong-un na Coreia do Norte, correndo o risco de prisão ou morte quem não cumprir.