Do livro "Coisas do Djunga!...", de Arsénio D. Fermino de Pina (ed. do autor, Mindelo, 2002) por ele gentilmente oferecido ao Pd'B.
Esses intermediários!...
Tchuna, à porta do seu café, em 1999 |
Um desses chamados carenciados, com a pele da barriga colada às costas, que passam por tremendas dificuldades existenciais e períodos de alienação mental com manifestação precoce de pelagra (= fome), percorria a Rua de Lisboa ajoelhando-se da cada cinco passadas, com o olhar fixo para o Céu e as mãos juntas em sinal de prece, rogando em alta voz a Nosso Senhor, uma nota de quinhentos escudos de que estava muito necessitado.
Chegado ao passeio do Café Royal, repetiu o pedido; o Tchuna, que estava à porta, comentou: “Mais um que se avariou neste chão de Soncente.”
Igreja de N.ª Sr.ª da Luz |
Chegado ao adro da igreja matriz, resolveu entrar, indo ajoelhar-se mesmo junto do altar-mor, fitando Jesus na cruz: “Oh Nosso Senhor Jesus Cristo, dê-me uma notinha de quinhentos escudos que estou mesmo muito necessitado.”
Encontrava-se a aparamentar o altar um padre que se condoeu do pobre cristão, ficando impressionado com tamanha fé. Ao cabo e algum tempo de ouvir essa ladainha, o padre, ao sair, passando por tras do desgraçado, meteu-lhe, discretamente, uma nota no bolso da camisa.
O nosso cristão viu, pelo rabo do olho, que era uma nota de duzentos escudos e continuou: “Oh Nosso Senhor Jesus Cristo, se quiser dar-me alguma coisa, dê-me nas minhas próprias mãos porque este padre já me ficou com trezentos paus.”
ah aha não queria mais uma nota de 500 escudos. Não se pode brincar com o Senhor Padre.
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