São Vicente, última ilha verdiana por ordem alfabética (deixámos a desabitada Santa Luzia para remate amanhã), merece dois postais. Um com preconceito, outro com conformação (ou até satisfação).
No primeiro, supostamente de início de século XX, o remetente (assinatura ilegível) começa por dizer que se trata de vista geral do Porto Grande, para logo a seguir emendar, referindo que é imagem da cidade do Mindelo. Mas remata com um "Que tal lhe parece esta terra de negros onde estou desterrado?" Pobre homem que, talvez por estar há pouco tempo na cidade, ainda não tinha percebido onde de facto tinha caído. E sublinha o "negros", ainda por cima. Queremos acreditar que um mês ou dois depois não escreveria tal coisa.
O segundo postal é mais optimista, de uma Amélia para sua irmã Luísa, em Lisboa, escrito a 8 de Novembro de 1941. É possível (pela data) que se trate de esposa de militar expedicionário, eventualmente oficial do Exército - já que sargentos e praças não teriam posses para levar e aguentar encargos familiares na ilha. Mas, como é óbvio, isto é apenas um palpite. Diz Amélia, acerca da Praça Nova: "Este jardim é onde passamos as noites que são muito agradáveis." e depois, talvez sobre uma filha "A Guida continua óptima, graças a Deus". Por fim, a melhor parte: "Isto não é tão mau como diziam, ou então eu sou boa de contentar. Continuo satisfeita por ter vindo e oxalá tudo corra sempre como até aqui." Ora assim é quase garantido que Amélia, na hora de regressar ao Continente, terá sentido as inevitáveis e fortes dores da "hora di bai".
Ela terá mais tarde descoberto que Mindelo tinha coisas "sabim"?
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