Moacyr Rodrigues, figura de intelectual à antiga (e isto é um elogio), finou-se esta madrugada. "Mnine de Soncente", filho de famoso piloto da Capitania dos Portos e irmão de Titina, grande voz cabo-verdiana de sempre, ficará para a história das ilhas, entre outros motivos, por ter sido um dos valorosos obreiros da elevação da morna a Património da Humanidade (outra, foi Celina Pereira, desaparecida há dias).
Conheci-o exactamente no dia 28 de Julho de 1999. Andava eu a deambular pelo Mindelo em busca de um exemplar de "Chiquinho", de Baltasar Lopes (nessa altura ainda não tinha nenhum), sem conseguir encontrar um único nas limitadas papelarias que então ali havia. Em desespero de causa, comecei a pensar adquiri-lo em segunda mão a alguém que dele quisesse prescindir, quando me disseram que o Moa editara em 1997 a obra através da sua editora Calabedotche. Conseguido o número de telefone, contactei-o e marcámos encontro no Centro Cultural do Mindelo (Antiga Alfândega), onde estivemos uma tarde inteira à conversa (lembro-me como se fosse agora, vê-lo apontar para uma porta e dizer "Ali era um dos locais de trabalho do Jorge Barbosa"), tendo-me ele levado o ambicionado livro que me ofereceu, autografou e no qual escreveu simpática dedicatória.
Encontrámo-nos ainda noutra ida a São Vicente e algumas vezes em Lisboa. Sujeito de grande cultura e sabedoria, fazia-me "manha" pelo conhecimento que tinha das coisas do Mindelo, nossa terra comum, dele por nascimento, minha por adopção. Morreu mais uma grande figura das ilhas, neste mês aziago que tem levado do nosso convívio tanta gente de valor, na área da cultura cabo-verdiana. Ficam os seus livros e poderá ficar o seu nome a baptizar o Centro Cultural do Mindelo. A ideia é do meu amigo salense Ildo Fortes e aqui a deixo com a paternidade que se impõe.
Registo, com mágoa, a notícia da morte do Moacyr, que conheci pela primeira vez como futebolista da Académica do Mindelo, eu na altura com os meus 9 anos e ele na juventude dos seus 19 anos. Desaparece uma figura da cultura cabo-verdiana e ficamos todos muito mais pobres. Paz à sua alma!
ResponderEliminarUm estudioso, um profundo conhecedor das etapas culturais de Cabo Verde. Dedicado amigo, empenhado e brioso professor. Acima de tudo, alguém que sabia e gostava de transmitir conhecimentos sobre o legado culto das nossas ilhas.
ResponderEliminarFica a saudade, amigo Moacyr!
Presença marcante que apenas conheci anos atrás, ao visitar a minha ilha. Fiz uma apresentação sobre o poeta A.Januário Leite e ele ali estava. Depois conversamos. Ele havia sido colega de escola da minha mãe. Lamento imenso pela perda. Paz à sua alma!
ResponderEliminar