Em
O Médico Africano, esculpem-se formas globais da identidade do emigrante. Que
fio do destino une a brasileira Iracema, a francesa Adélie e o jovem
dinamarquês Karl? No perímetro dos sonhos de cada um, volteiam
gaivotas-das-asas-negras, apontando para as tépidas águas atlânticas que
banham, em secreto recolhimento, o arquipélago de Cabo Verde.
Enquanto se dão as revelações necessárias que
levam ao desfecho da história, as águas verdes do mar são reavivadas pela
presença de uma biblioteca de livros impressos. Será um museu? Ou,
simplesmente, uma narrativa que cedeu lugar à tecnologia vibrante dos livros
digitais e de outros dispositivos da comunicação? Vale a pena conhecer a Casa
de Papel. Ali, apesar de todos os avanços científicos do final do segundo milênio,
discute-se ainda o caminho da criação poética, consagrando a sua universalidade
e atemporalidade.
Desse modo, o arquipélago situado no Atlântico se
integra à semântica do mundo, enquanto o olhar cosmopolita de São Paulo, de
Paris e de Copenhague resgatam origens e unificam a vida de quem um dia partiu
para o estrangeiro em busca de trabalho.
É nesse contexto mágico e de aventuras que
presenciamos a cena a seguir:
As férias terminavam. A biblioteca da Ilha de
Santiago não perdia o encanto com o qual se apresentara inicialmente aos olhos
de Karl: a textura do papel, que dava materialidade às histórias; as cores das
capas, esbatidas, desprovidas do atraente brilho e das cores de uma tela
eletrônica, mas também repletas de vida própria, ocupando um espaço real nas
estantes...
Essa disponibilidade constante dos volumes ali
guardados não era um repouso, antes, permanente prontidão, um estar a serviço,
de sentinela, para compartilhar com eventuais leitores inúmeras narrativas,
vidas, passagens. Por outro lado, também se faziam respeitar – pois guardavam
silêncios, em merecido descanso, após as inúmeras aventuras que um dia haviam
presenciado e repetidamente, de cor, podiam contar...
Silêncios e fantasias, o regresso ao sonho e à fantasia, com ingredientes que nos devem levar de regresso à fábula e ao fantástico. Estou bastante curiosa, Helena Sato. Vamos esperar? Boa sorte. Sucesso, amiga.
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