MENINOS
Corpos felinos
de lince
de malcata
olhos
de amêndoa
torrada ao fogo
de uma paixão
ardente
ecos de tambor
nas ondas
que rufam
nas rochas
suadas sensuais
e melancólicas
da terra vermelha
das avós
dos corpos felinos
de lince de malcata
meninos roliços
de olhos redondos
sementes de ori
e tamarindo dourado
deitados ao acaso
nos campos
das vidas
das avós das ilhas
que dançam
perdidas
no mar agitado
dança maluca
erótica
exótica
de oboés e violinos
teclas e flautas
ao vento
das ilhas perdidas
das avós dos meninos
roliços de olhos
meigos de avelã
meninos
de trancinhas
de missangas
tecidas com amor
pelas mãos
de maçala
das avós
das ilhas
perdidas no mar
meninos
de voz mansa
cantante
aroma do mar
e café maduro
grãozinhos de ouro
da terra vermelha
das avós
que entoam
mornas de amor
nas doces madrugadas
das ilhas que dançam
meninos roliços
corpos felinos esguios
meninos
de trancinhas de missangas
de olhos meigos de avelã
e figo maduro
com sabor
a manga e araçá
goiaba rosada
e mel de cana
pontuado pelas avós
das ilhas distantes
pintainho perdido
de olhar vazio
distante
que me olha
com a candura
da nuvem
nostalgia
do nada
menino
sem tempo
de brincar
com outros
meninos roliços
de trancinhas
coloridas
tecidas com amor
pelas avós
das ilhas
esquecidas
no mar
menino
sem tempo
de ser menino
e correr
com meninos
esguios
de corpos felinos
de lince
porque olha
pelos meninos
seus irmãos
de olhos tristes
inocentes
poema de ontem
escrito com dor
e amor de hoje
assim são
os meninos
que toco e amo
com a ternura
de veludo da guiné
assim são
os meninos
que tu vês
cruzando
a tua vida
dia a dia
ano a ano
e te fazem lembrar
maracujás e abacates
daquela terra
que não conheces
e já amas
porque é a terra
das avós
dos meninos roliços
de olhos meigos
de semente de ori
e tamarindo dourado
ao sol risonho
das ilhas cantantes
que dançam
ao som da morna
da coladeira
e funaná.
Carlota de Barros
in “A Ternura da Água”
Grata, Saial. Que sejam felizes as nossas crianças. E tu também. Abraço
ResponderEliminarBelíssimo poema, como tudo o que sai da pena da Carlota de Barros. As crianças merecem.
ResponderEliminarAs minhas felicitações.
Obrigada pelo comentário, Adriano Miranda Lima.
ResponderEliminarAs nossas crianças, as crianças do mundo, merecem ser felizes. É tempo de brincar, traquinar, saltar, rir ... rir... rir com alegria. Enfim, é tempo de serem felizes.