terça-feira, 1 de junho de 2021

[4932] Poema de Carlota de Barros, no Dia Mundial da Criança

MENINOS


Corpos felinos

de lince

de malcata


olhos

de amêndoa

torrada ao fogo

de uma paixão

ardente


ecos de tambor

nas ondas

que rufam

nas rochas

suadas sensuais

e melancólicas

da terra vermelha

das avós

dos corpos felinos

de lince  de malcata


meninos roliços

de olhos redondos

sementes de ori

e tamarindo dourado

deitados ao acaso

nos campos

das vidas

das avós das ilhas

que dançam

perdidas

no mar agitado


dança maluca

erótica

exótica

de oboés e violinos

teclas e flautas

ao vento

das ilhas perdidas

das avós dos meninos

roliços de olhos

meigos de avelã


meninos 

de trancinhas

de missangas

tecidas com amor

pelas mãos

de maçala

das avós

das ilhas

perdidas no mar


meninos

de voz mansa

cantante

aroma  do mar

e café maduro

grãozinhos de ouro

da terra vermelha

das avós

que entoam

mornas de amor

nas doces madrugadas

das ilhas  que dançam


meninos roliços

corpos felinos esguios

meninos

de trancinhas de missangas

de olhos meigos de avelã

e figo maduro

com sabor

a manga e araçá

goiaba rosada

e mel de cana

pontuado pelas avós

das ilhas distantes


pintainho perdido

de olhar vazio

distante

que me olha

com a candura

da nuvem

nostalgia

do nada


menino

sem tempo

de brincar

com outros

meninos roliços

de trancinhas

coloridas

tecidas com amor

pelas avós

das ilhas

esquecidas

no mar


menino

sem tempo

de ser menino

e correr

com meninos

esguios

de corpos felinos

de lince

porque olha

pelos meninos

seus irmãos

de olhos tristes

inocentes

poema de ontem

escrito com dor

e amor de hoje


assim são

os meninos

que toco e amo

com a ternura

de veludo da guiné


assim são

os meninos

que tu vês

cruzando

a tua vida

dia a dia

ano a ano

e te fazem lembrar

maracujás e abacates

daquela terra

que não conheces

e já amas


porque  é a terra

das avós

dos meninos roliços

de olhos meigos

de semente de ori

e tamarindo dourado

ao sol risonho

das ilhas cantantes

que dançam

ao som da morna

da coladeira

e funaná.


              Carlota de Barros

              in  “A Ternura da Água”       



3 comentários:

  1. Grata, Saial. Que sejam felizes as nossas crianças. E tu também. Abraço

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  2. Belíssimo poema, como tudo o que sai da pena da Carlota de Barros. As crianças merecem.
    As minhas felicitações.

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  3. Obrigada pelo comentário, Adriano Miranda Lima.
    As nossas crianças, as crianças do mundo, merecem ser felizes. É tempo de brincar, traquinar, saltar, rir ... rir... rir com alegria. Enfim, é tempo de serem felizes.

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