domingo, 5 de setembro de 2021

[5311] Post n.º 600 de 2021 comemorado com chuvas verdianas de Novembro de 1952


4 comentários:

  1. Djack, diria que o povo das ilhas trocaria mil notícias anuais dos mais variados conteúdos por 10 destas a falar de chuva copiosa sobre a terra árida e ressequida.
    Chuva copiosa mas bem doseada no tempo, não intensamente concentrada porque assim ela se assanha e destrói mais do que rega sonhos e esperanças.
    Tenho memória de chuva destruidora que caiu em S. Antão no mês de Setembro de 1950, estando eu lá a passar umas férias com a minha querida e saudosa avó materna, que era natural da ilha, nascida em Ribeira Grande. Essa chuva caiu continuamente dias seguidos e semeou o vale da Ribeira da Torre de pedras e toda a sorte de detritos arrastados pela impetuosidade da corrente. Destruiu culturas e arrasou propriedades. Originou uma extensa lagoa entre a povoação do Terreiro (nome que se dava à então vila da Ribeira Grande) e o povoado mais pobre que ficava ao lado, junto ao mar, conhecido por Tarrafal.
    Mas o espírito de resiliência e sacrifício do povo permitiu que não tardaria a tudo ser recomposto, como várias e sucessivas vezes aconteceu no historial da ilha.
    Mas outras ocasiões houve em que a dona chuva foi contida e disciplinada nos seus impulsos e beneficiou as terras agrícolas com o seu beijo carinhoso.
    Infelizmente, foram e têm sido mais frequentes as vezes em que ela passa ao lado, cega e surda às súplicas do povo das ilhas.

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    1. Adriano, se calhar foi a passagem em cheio sobre as ilhas de um daqueles furacões que formam em pleno Atlântico no litoral do Continente Africano.
      Nos dias de hoje essas tecnologias de informação e comunicação permite a qualquer cidadão mais atento compreender melhor o "fenómeno" da chuva/Seca em Cabo Verde.
      Por aquilo que a minha "ignorância" nesta matéria tem percebido, é que a formação destas tempestades tem origem numa época, a das (aságua) e numa zona mais ou menos constantes no litoral Africano e a Sul do Arquipélago, podendo ou não, na sua trajetória aproximar ou passar sobre as nossas Ilhas, daí os prolongados períodos de seca, e abundantes aguaceiros.
      Espero que algum dia se consiga ter no país condições de vida que não se fica dependente de Chuva. como em São Vicente por exemplo.

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    2. Sim, Zeca, esperemos que as tecnologias encontrem alternativas. Algumas podem-nas ser sugeridas ou orientadas pelos israelitas. E até pelo povo das Canárias.

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    3. Contudo, Zeca, se por milagre da ciência as ilhas vierem um dia a cobrir-se de um verde perene, ou quase, algo se iria alterar progressivamente na alma singular do cabo-verdiano. A fartura e a abastança iriam moldar uma natureza humana mais folgazã e mais nutrida de auto-satisfação. Aos poucos iria extinguindo-se o que a predispõe ao sofrimento e ao mesmo tempo a tonifica e lhe talha a afeição para o sonho e o mergulho nas profundezas do ser. A adversidade e o sofrimento predispõem ao drama, e deste modo à arte, mais do que o sentimento de uma vida repleta e provida de garantias. Diria então que as cordas do violino cabo-verdiano iriam perder a toada dolente e nostálgica que conforta o coração solitário e torna rubra a emoção. Possivelmente iria surgir uma arte musical do género salsa latino-americano. Claro que nem tudo é morna na música cabo-verdiana, há coladeira e há funaná, mas a outra é que mais a caracteriza e lhe deu notoriedade mundial. Lembro-me de estar a fazer um cruzeiro marítimo pelas ilhas gregas num navio chamado Opera e de a certa altura ouvir a morna Miss Perfumado na voz da Cesária, num dos salões do navio.

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