COMO É BELO O REINO DO SILÊNCIO
Como é belo o reino do silêncio
com o brilho da luz aloirando
cabelos encaracolados
o esplendor do sol
mergulhando em cachos doirados
no mar imenso
espalhando solenemente vida
sobre a nudez do denso areal
Penso na vida
nos anos que se foram
como a vivi
alma azul tulipa rosa entreaberta
numa casa cheia de vozes macias claras e vivas
num tempo de fulgor e tardes transparentes
De onde venho por onde andei...?
Venho das ilhas verdianas
onde o azul do mar profundo faz lembrar o mar de Creta
andei por terras com casas de madeira e zinco
e tantas outras de fachadas e jardins luxuosos
Ressurjo na luz do reino do silêncio
onde me recolho tantas vezes
de futuras tempestades em mares desconhecidos
minha vida é simples meu riso sorriso alegre
é triste quando penso nos que morrem
com fome de um sonho de amor
Retorno ao reino do silêncio. Como é sereno!
O brilho da luz é branco como a luz dourada
do céu das nossas ilhas verdianas
penso na vida no tempo que voou como o passar do vento
a minha pele enrugou-se o meu cabelo embranqueceu
mas meu riso sorriso ficou
no silêncio dos dias e das noites transparentes
Como é belo o reino do silêncio
silêncio azul que ilumina os dias que se vão
Minha vida é simples
creio no amor no sonho na poesia na pureza do azul
amo o comum da terra
Anoiteceu...
ressurjo a pensar na vida
no tempo que se foi veloz
como a brisa fresca da Primavera
um gesto de ternura
a flor que dura uma noite
e penso feliz que o tempo voou
deixou marcas visíveis
mas quando eu morrer os meus poemas dirão
que meu riso sorriso foi sempre o mesmo
alegre franco e leal
que a minha alma habitou jardins dos mais harmoniosos
e vivi para que o sonho a poesia o amor
a conquista de mim mesma a purificação da minha energia
o respeito por mim elevassem a minha vibração
e purificassem as minhas energias
Ressurjo no reino do silêncio com o meu poema
tão límpido e sereno como a lua nova num céu azul
E o tempo voou célere pelos caminhos que fui...
Carlota de Barros
Lisboa, 15 de Setembro, de 2021
“Como é belo o reino do silêncio!”
ResponderEliminarO ponto de exclamação sou eu que empresto à expressão poética em título, embora ele esteja subentendido em cada evocação que no poema mergulha no tempo para o interrogar e resgatar do fundo da memória. A autora procede assim exaltando e preservando o silêncio porque melhor do que ninguém sabe que ele é o resguardo claustral do que de mais puro adoça a vida e a existência: o amor. Mas o amor aqui celebrado é o amor absoluto, mesmo que não se consiga explicá-lo e apenas sentir a sua secreta pulsação; não é o amor que se extingue com a procriação, mas o que é luz e transluz em todas as opacidades, é, afinal, e conforme diz magistralmente a autora, o que “aloira cabelos encarolados”, tem o “esplendor do sol”, “mergulha em cachos doirados no mar imenso” e “espalha solenemente vida sobre a nudez do denso areal”. Carlota, esse é o amor que sentes em toda extensão da sua universalidade.
Mas quando dizes que o “tempo se foi veloz como a brisa fresca da Primavera” e “deixou marcas visíveis”, eu aqui permito-me discordar porque não é possível entrar no caos que é o tempo, descodificá-lo, juntar as suas pontas, encontrar-lhe o início e o fim. Porque caso contrário negava-se esse amor universal que está muito para lá de um sol que nasce e se põe na retina do nosso olhar.
Tens o reino do silêncio aos teus pés e sabes que a “flor não dura uma noite”, mas toda a eternidade. E sabes também que vais ressurgir sempre “na luz do reino do silêncio”, porque esse é um poder que até mesmo os deuses não negam a quem tem o sortilégio do mesmo “sorriso simples e alegre” na contemplação “dos dias e das noites transparentes”.
Eu e todos os leitores deste blogue têm o dever de aplaudir e agradecer este momento de beleza espiritual que nos ofereceste. “A arte existe para que a verdade não nos mate”, acabei eu de ouvir quando terminava o meu comentário. Nem de propósito.
Excelente apreciação, de quem percebe as virtualidades deste blogue, o enriquece e o anima. Assim houvesse mais alguns...
EliminarUm braça poético,
Djack
Uma delicia que aprecio (também, ou sobretudo?) no silêncio.
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