sábado, 18 de setembro de 2021

[5382] Um poema inédito de Carlota de Barros



COMO É BELO O REINO DO SILÊNCIO

 

Como é belo o reino do silêncio

com o brilho da luz aloirando

cabelos encaracolados

o esplendor do sol

mergulhando em cachos doirados

no mar imenso

espalhando solenemente vida

sobre a nudez do denso areal

 

Penso na vida

nos anos que se foram

como a vivi

alma azul   tulipa rosa entreaberta

numa casa cheia de vozes macias   claras e vivas

num tempo de fulgor e tardes transparentes

 

De onde venho por onde andei...?

Venho das ilhas verdianas

onde o azul do mar profundo faz lembrar o mar de Creta

andei por terras com casas de madeira e zinco

e tantas outras de fachadas e jardins luxuosos

 

Ressurjo na luz do reino do silêncio

onde me recolho tantas vezes

de futuras tempestades em mares desconhecidos

minha vida é simples  meu riso sorriso alegre

é triste quando penso nos que morrem

com fome de um sonho de amor

 

Retorno ao reino do silêncio. Como é sereno!

O brilho da luz é branco como a luz dourada

do céu das nossas ilhas verdianas

penso na vida   no tempo que voou como o passar do vento

a minha pele enrugou-se   o meu cabelo embranqueceu  

mas meu riso sorriso ficou

no silêncio dos dias e das noites transparentes

 

Como é belo o reino do silêncio

silêncio azul que ilumina os dias que se vão

Minha vida é simples

creio no amor  no sonho  na poesia  na pureza do azul

amo o comum da terra

 

Anoiteceu...

ressurjo a pensar na vida

no tempo que se foi veloz

como a brisa fresca da Primavera

um gesto de ternura

a flor que dura uma noite

e penso feliz que o tempo voou

deixou marcas visíveis

mas quando eu morrer os meus poemas dirão

que meu riso sorriso foi sempre o mesmo

alegre   franco e leal

que a minha alma habitou jardins dos mais harmoniosos

e vivi para que o sonho   a poesia   o amor

a conquista de mim mesma   a purificação da minha energia

o respeito por mim elevassem a minha vibração

e purificassem as minhas energias

 

Ressurjo no reino do silêncio com o meu poema

tão límpido e sereno como a lua nova num céu azul

E o tempo voou célere pelos caminhos que fui...

 

Carlota de Barros          
Lisboa, 15 de Setembro, de 2021



3 comentários:

  1. “Como é belo o reino do silêncio!”
    O ponto de exclamação sou eu que empresto à expressão poética em título, embora ele esteja subentendido em cada evocação que no poema mergulha no tempo para o interrogar e resgatar do fundo da memória. A autora procede assim exaltando e preservando o silêncio porque melhor do que ninguém sabe que ele é o resguardo claustral do que de mais puro adoça a vida e a existência: o amor. Mas o amor aqui celebrado é o amor absoluto, mesmo que não se consiga explicá-lo e apenas sentir a sua secreta pulsação; não é o amor que se extingue com a procriação, mas o que é luz e transluz em todas as opacidades, é, afinal, e conforme diz magistralmente a autora, o que “aloira cabelos encarolados”, tem o “esplendor do sol”, “mergulha em cachos doirados no mar imenso” e “espalha solenemente vida sobre a nudez do denso areal”. Carlota, esse é o amor que sentes em toda extensão da sua universalidade.
    Mas quando dizes que o “tempo se foi veloz como a brisa fresca da Primavera” e “deixou marcas visíveis”, eu aqui permito-me discordar porque não é possível entrar no caos que é o tempo, descodificá-lo, juntar as suas pontas, encontrar-lhe o início e o fim. Porque caso contrário negava-se esse amor universal que está muito para lá de um sol que nasce e se põe na retina do nosso olhar.
    Tens o reino do silêncio aos teus pés e sabes que a “flor não dura uma noite”, mas toda a eternidade. E sabes também que vais ressurgir sempre “na luz do reino do silêncio”, porque esse é um poder que até mesmo os deuses não negam a quem tem o sortilégio do mesmo “sorriso simples e alegre” na contemplação “dos dias e das noites transparentes”.

    Eu e todos os leitores deste blogue têm o dever de aplaudir e agradecer este momento de beleza espiritual que nos ofereceste. “A arte existe para que a verdade não nos mate”, acabei eu de ouvir quando terminava o meu comentário. Nem de propósito.

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    1. Excelente apreciação, de quem percebe as virtualidades deste blogue, o enriquece e o anima. Assim houvesse mais alguns...

      Um braça poético,
      Djack

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  2. Uma delicia que aprecio (também, ou sobretudo?) no silêncio.

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