Sim, Djack, é um clássico e do melhor. É possível que haja muitos mais instrumentistas merecedores da minha admiração, mas o facto é que os meus preferidos da actualidade são o Bau, o Paulino Vieira e o Tito Paris. Sem desprimor de outros que abundam na música cabo-verdiana de qualidade e que eu talvez não conheça tão bem como os citados. Esta composição aqui postada pelo Djack leva-me às alturas do mesmo modo que outras que saem da alma e das mãos deste e dos outros que mencionei. Diz-se, comumente, que é música cabo-verdiana só porque o autor é natural das nossas ilhas, mas não é possível circunscrevê-la geograficamente ou afixar-lhe um rótulo cultural. A música é “a linguagem universal da humanidade”, frase que não é da minha autoria, mas do escritor americano Henry Wadsworth Longfellow, proferida há mais de 2 séculos, “diazá na munde”, como se diz em crioulo. Por isso é que surpreende quando, numa actuação musical transmitida por um canal de televisão em Portugal há uns tempos, o respectivo apresentador anunciou um instrumentista cabo-verdiano nos seguintes termos: “agora vamos ouvir música de África”. Aconteceu que o músico executou as composições mais celebradas do B. Leza, deslumbrando a assistência. Mas o apresentador não foi o único que já vi cometer calinada do género. De facto, na altura, pensando com os meus botões, considerei boçal a afirmação do apresentador, reveladora de uma ignorância absurda e confrangedora. Ora, a criação musical é cada vez mais de natureza transcultural, porque, embora parta de algo comum que radica na essência da nossa humanidade e é alheio a fronteiras físicas, recebe influências de outras origens e aglutina-se em linguagem universal. Esta composição do Bau e outras produções musicais oriundas das nossas ilhas exemplificam na perfeição a minha afirmação. Mas não se veja nas minhas considerações qualquer intenção de apoucar a música africana no pressuposto de que a música cabo-verdiana se desvaloriza com o rótulo de “música africana”. Nada disso, quando muito o que se pode e deve dizer é que essa classificação é redutora e imprópria na medida em que incorre em flagrante adulteração. No mais, devo dizer que, se nos cingirmos a classificativos, a verdadeira música africana é aquela que ouvi nos confins de África, no interior de Angola e Moçambique. Uma música pura na sua virgindade, saída de instrumentos rudimentares mas capazes de produzir sons de uma beleza que enternece o mais empedernido ouvinte. Muitas vezes penso que aqueles sons que ouvi são do que mais fundo mergulha na alma, dedilhando as cordas da sensibilidade, fazendo sair, sem artifícios de manipulação, a voz do sentimento. É isto que considero música africana verdadeira. Outras podem ser produzidas em comunidades africanas, mas cada vez mais são músicas com influências importadas. Donde se torna difícil pôr rótulos à música e ignorar a sua natureza universal.
Sim, Djack, é um clássico e do melhor.
ResponderEliminarÉ possível que haja muitos mais instrumentistas merecedores da minha admiração, mas o facto é que os meus preferidos da actualidade são o Bau, o Paulino Vieira e o Tito Paris. Sem desprimor de outros que abundam na música cabo-verdiana de qualidade e que eu talvez não conheça tão bem como os citados.
Esta composição aqui postada pelo Djack leva-me às alturas do mesmo modo que outras que saem da alma e das mãos deste e dos outros que mencionei. Diz-se, comumente, que é música cabo-verdiana só porque o autor é natural das nossas ilhas, mas não é possível circunscrevê-la geograficamente ou afixar-lhe um rótulo cultural. A música é “a linguagem universal da humanidade”, frase que não é da minha autoria, mas do escritor americano Henry Wadsworth Longfellow, proferida há mais de 2 séculos, “diazá na munde”, como se diz em crioulo.
Por isso é que surpreende quando, numa actuação musical transmitida por um canal de televisão em Portugal há uns tempos, o respectivo apresentador anunciou um instrumentista cabo-verdiano nos seguintes termos: “agora vamos ouvir música de África”. Aconteceu que o músico executou as composições mais celebradas do B. Leza, deslumbrando a assistência. Mas o apresentador não foi o único que já vi cometer calinada do género. De facto, na altura, pensando com os meus botões, considerei boçal a afirmação do apresentador, reveladora de uma ignorância absurda e confrangedora. Ora, a criação musical é cada vez mais de natureza transcultural, porque, embora parta de algo comum que radica na essência da nossa humanidade e é alheio a fronteiras físicas, recebe influências de outras origens e aglutina-se em linguagem universal. Esta composição do Bau e outras produções musicais oriundas das nossas ilhas exemplificam na perfeição a minha afirmação.
Mas não se veja nas minhas considerações qualquer intenção de apoucar a música africana no pressuposto de que a música cabo-verdiana se desvaloriza com o rótulo de “música africana”. Nada disso, quando muito o que se pode e deve dizer é que essa classificação é redutora e imprópria na medida em que incorre em flagrante adulteração.
No mais, devo dizer que, se nos cingirmos a classificativos, a verdadeira música africana é aquela que ouvi nos confins de África, no interior de Angola e Moçambique. Uma música pura na sua virgindade, saída de instrumentos rudimentares mas capazes de produzir sons de uma beleza que enternece o mais empedernido ouvinte. Muitas vezes penso que aqueles sons que ouvi são do que mais fundo mergulha na alma, dedilhando as cordas da sensibilidade, fazendo sair, sem artifícios de manipulação, a voz do sentimento. É isto que considero música africana verdadeira. Outras podem ser produzidas em comunidades africanas, mas cada vez mais são músicas com influências importadas. Donde se torna difícil pôr rótulos à música e ignorar a sua natureza universal.