ALGUMAS NOTAS SOBRE (UMA) ESCUNA "CLÁUDIA" (excerto)
A designação "Escuna Cláudia" (com acento ou sem ele) alude a vários veleiros existentes nos séculos XIX e XX, pelo menos na Inglaterra e nos Estados Unidos da América (1). Tal facto dificulta a investigação sobre aquele que mais nos interessa, porque relacionado de algum modo com a chamada "Carreira de Cabo Verde", realizada entre os EUA e o arquipélago. Desde logo, por ter sido comandado pelo capitão José Sena (ou Joseph H. Senna, na grafia americanizada do seu nome) (2) . Ainda assim, cremos que todo o conjunto de notas que mencionaremos de seguida estão associadas ao veleiro que comandou.
Tomámos conhecimento da escuna "Cláudia", através de curta indicação existente no catálogo da Nicholson Whaling Manuscript Collection existente no Departamento de Colecções Especiais da Biblioteca Pública de Providence, EUA. Ali se fala da escuna "Claudia" de New Bedford, capitaneada por Joseph H. Senna e do número de baleias apanhadas numa viagem realizada em 1919 (3) . Deve ser esta a campanha noticiada na página 3 do jornal americano de língua portuguesa "Alvorada Diária", de 9 de Setembro de 1919, que relata que a viagem durou seis meses e rendeu "450 cascos de azeite" (obviamente, óleo de baleia).
A 13 de Outubro, o navio largou de New Bedford para Cabo Verde, sob o comando de Sena, numa viagem que duraria cerca de oito meses, entre ida, estadia nas ilhas e volta, parecendo assim observar-se a sua alternada utilização na pesca da baleia e na navegação de âmbito comercial (4). Em Julho de 1921, o mesmo jornal indicava que o "Claudia", "propriedade da firma António Silva & Irmãos, sendo seu capitão o Sr. Senna" estava a 300 milhas de New Bedford e que Sena escrevera "à firma, participando que [tinha] a bordo 500 barris de azeite, trazendo também duas baleias, calculando faltar para completo carregamento 50 barris" (5).
[1]
Uma das mais antigas menções que conhecemos a
uma escuna americana de nome "Claudia" é de 20 de Outubro de 1902,
altura em que esta era comandada por Geo. W. Turner. Ver "American and
British Claims Arbitration – Fishing Claims – Memorial of the United
States", Washington Ptinting Office, 1924. Nesta publicação, a escuna está
dada ao comércio marítimo. Pode eventualmente ser aquela que nos interessa, mas
não conseguimos confirmação.
[2]
Embora tenhamos quase a certeza de que o capitão Sena era cabo-verdiano (tanto
pelo apelido, como pelo destino frequente das suas rotas e navios comandados),
não conseguimos ainda encontrar referência fiável
à sua naturalidade.
[3]
Box 3, Series 3H.
[4]
"Alvorada Diária", 14.10.1920, p. 3.
[5] AD, 18.07.1921, p. 3.
Não fica muito claro se o navio era essencialmente baleeiro ou se alternava a actividade baleeira com transporte de cargas e passageiros. Creio que, sendo um navio baleeiro, seriam escassas as possibilidades de exercer outra actividade.
ResponderEliminarO registo da viagem de New Bedford para Cabo Verde tanto sugerir baleação ou viagem comercial normal, uma vez que as rotas de baleia passavam naquele tempo ao largo das ilhas cabo-verdianas.
Caro Adriano,
EliminarA tua conversa não é nada despropositada, mas como se diz ali em cima, trata-se apenas de um excerto. O navio não só fez pesca de baleia, como até serviu com passageiros e logicamente com mercadorias. Isso se verá na continuação. O material de que disponho, ainda dá para escrever bastante mais do que aqui está escrito.
Braça com capitão Ahab de arpão em punho,
Djack