sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

[5846] Um poema de Carlota de Barros dedicado a Paulino Vieira, seu amigo e antigo aluno

Foto Joaquim Saial

BÔ CRIA SER POETA ...

[...] Amim djam / cria ser poeta // Pam fazê um / mar di poesia// 

Pam compará / que’ss bô beleza / d’ natureza / [...]  

Paulino Vieira


(ao amigo Paulino Vieira)


Teu andar é leve

como se temesses

fender o chão   as folhas   as pedras


quando passas

deixas uma esteira de nuvens

e entre as nuvens

o ardor de sons

dedilhados por ágeis dedos febris

na tua guitarra mágica


não vês ninguém

poeta solitário


caminhas  

cansado de viver dias inteiros

entre homens e mulheres

num mundo hostil

que não sentes ser o teu


                   bô cria ser poeta ...

 

com um sorriso iluminado de criança

prossegues teu caminho

teu sonho de viver 

solitário


segues só

em direcção ao silêncio dos campos que amas

à respiração da terra que sorves com fervor


escutas o canto dos pássaros

que à tua passagem formam círculos

e te envolvem livremente


és livre

       és valsa 

            és vela

                 és vaga

                    és vento


e segues cintilante

tua rota de cavaleiro andante solitário

em direção ao silêncio dos campos que amas


bô cria ser poeta ...


Carlota de Barros

(in “Na Pedra Do Tempo”)

                        Edições Artiletra - 2018

2 comentários:

  1. Paulino qria ser poeta. Paulino ê màs di qui poeta.
    Pena ele estode ta vivê na sê munde sem abri porta.

    ResponderEliminar
  2. O poema é lindo e constitui justa homenagem ao Paulino Vieira.

    ResponderEliminar

Torne este blogue mais vivo: coloque o seu comentário.