MULHERES
(Homenagem à mulher caboverdiana)
Eis
as mulheres…
podemos vê-las
em toda a parte
nas manhãs… tardes e noites
de todos os dias…
vêm de longe
as mulheres…
somos nós
filhas
da escravazinha negra
ainda menina
cobiçada… perseguida… ultrajada
em brancas alcovas do senhor branco
na estribaria… nas plantações… nos campos de milho …
chorando… desejando seu amado
desesperado
preso ao tronco
vergastado… escarrado… humilhado…
desprezado…
mil vezes desonrado.
Mulher africana… mulher caboverdiana…
negra… mestiça… de alva tez…
Tão bela!... Cor de chocolate… baunilha… canela… cravinho das índias.
Mulher
de corpo bem feito
seios rijos… ancas roliças dançantes…
cabelo negro… crespo… encaracolado… encarapinhado …
ondulado ou escorrido.
Eis
as mulheres
somos nós
meninas… moças… com passos de espuma…
mães… tias… avós…
esposas… amantes… amadas… mal amadas…
violentadas… queridas…
escravizadas… idolatradas… alienadas…
vendidas… poetizadas… abandonadas… endeusadas…
prostituídas
tanta vez por um prato de cachupa
para o filho… a mãe doente…
corpo fraco… esquecido…
sem vida… sem brilho… cabeça baixa…
mãos abandonadas no ventre vazio.
Eis
as mulheres…
estão aí todas
somos nós…
altivas… orgulhosas… grávidas de amor…
tão confiantes… sorriso nos olhos
se amadas… respeitadas… livres… libertadas…
aí estão
resistentes… firmes… empenhadas… lutadoras
a batucadeira… a deputada… a emigrante… a camponesa… a cabeleireira…
a juíza… a artista… a empregada doméstica… a peixeira… a poetisa…
a operária… a doméstica… a companheira… a doutora… a rabidante…
a professora… a enfermeira… a costureira… a ministra… a cozinheira… a estudante.
Ei-las…
estão todas aí
somos nós
mulheres
mulheres caboverdianas
mulheres africanas…
mulher simples… lenha à cabeça…
lenço amarrado… xaile colorido…
roupa de chinês…
sempre vaidosa…
respirando beleza…
rebolando a kadera… numa dança sensual…
provocando… insinuante… sabendo bem o que faz…
sabendo bem que o faz.
Mulher chique… perfumada…
exibindo seu corpo bonito… bem cuidado …
elegante… sapatos de salto alto… roupa de estilo.
Como são belas!
Orvalho… aurora… luar de Agosto…
Primavera precoce…Verão ardente… suave Outono…
enérgicas como o Inverno.
Mulheres!
Somos todas nós
da escrava ainda menina
à mulher hoje…
Belas sim…
divinas criaturas
somos nós todas…
As mulheres …
Carlota de Barros
Lisboa, 27 de Julho de 2011
(in “Na Pedra do Tempo”)
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