PAI
O adeus
melancólico
ao cimo das escadas
sorriso bondoso
eco interminável
de uma vida
tranquila
vivida sempre
para nós
dedicada sempre
aos teus doentes
vejo-te pai
sentado
a escrever
tuas memórias
sereno
concentrado
silencioso
sinto uma dor
triste
como o voo
suave
de uma andorinha
que parte
para longe
como o teu
adeus de saudade
perdido
ao cimo da escada
no dia que te
pela última vez
vejo-te
ao longe
entre nuvens
nostálgicas
a galope
no teu cavalo
azul e doirado
oiço
tuas gargalhadas
sonoras
a trepar
viçosas
como a hera
nos nossos
corações
sempre tão perto
de ti
escuto
tua voz cheia
que ocupa tudo
e todos
e
as lembranças
caem silenciosas
como folhas
de outono
esvoaçam
no tempo
vestidas
de ternura
e jasmins
porque
enquanto
te afastas
no teu cavalo veloz
deixas-nos o rasto
como estrelas cadentes
do teu amor infinito
que fez girar
nossas
vidas felizes
e como num sonho
o teu sorriso
bondoso
desenha-se
no ar
luminoso
e volto
a ouvir ao longe
tuas gargalhadas
sonoras e sãs
tua voz
cheia e viva
ecos
de tua vida
serena
vivida sempre
para nós
dedicada sempre
aos teus doentes
Carlota de Barros
Lisboa, 14 de Abril de 1998
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