sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

[7592] Lembrar Amílcar Cabral em Lisboa (Associação Caboverdeana)


A ACV, tem o prazer dos vos convidar para Início das Comemorações do Centenário do Nascimento de Amílcar Cabral.

𝐑𝐞𝐜𝐢𝐭𝐚𝐥 𝐝𝐞 𝐏𝐨𝐞𝐬𝐢𝐚 𝐞 𝐌ú𝐬𝐢𝐜𝐚
𝐌𝐞𝐬𝐚 𝐑𝐞𝐝𝐨𝐧𝐝𝐚:
A vida, a Obra e o Pensamento de Amílcar Cabral
𝐎𝐫𝐚𝐝𝐨𝐫𝐞𝐬:
Hans-Peter Heilmair
José Luís Hopffer Almada
Tony Tcheka
𝐌𝐨𝐝𝐞𝐫𝐚𝐝𝐨𝐫𝐚:
Dulcineia Sousa
𝐂𝐨𝐧𝐯𝐢𝐝𝐚𝐝𝐨 𝐄𝐬𝐩𝐞𝐜𝐢𝐚𝐥:
Doutor Domingos Simões Pereira
Presidente do PAIGC (Guiné-Bissau) e Presidente da Assembleia Nacional Popular da República da Guiné-Bissau.
𝐏𝐨𝐧𝐜𝐡𝐞 𝐝𝐞 𝐇𝐨𝐧𝐫𝐚
A sessão terá lugar no próximo dia 19 de Janeiro de 2024 (Sexta-feira), pelas 18h30 nas nossas instalações (Rua Duque de Palmela, nº 2, oitavo andar, ao Marquês de Pombal)

sábado, 6 de janeiro de 2024

[7580] De Adriano Miranda Lima, um poema especial


EVOCAÇÃO DA PRAÇA ESTRELA

(Mindelo, S. Vicente de Cabo Verde)


Viajar à memória da antiga Praça estrela é varar o tempo

à procura de mantras que se dissolveram

mas que permanecem flutuando entre o vazio e o silêncio.

Oscilam entre a pulsão dos astros e os confins da mente,

representam épocas diferentes e exalam reminiscências 

da salsugem proveniente do campo da antiga salina 

onde se disputaram renhidos jogos de cricket entre

equipas de mindelenses e ingleses residentes.


Uma estrela deu-lhe o nome e quem sabe

o signo de libertar a alma do povo mindelense

e de vazar os desvarios ocasionais da gente anónima.

Bela no seu exotismo, tem a sedução da maresia,

o dilecto perfume que a brisa lhe esparge

sobre as palmeiras e acácias da sua vaidade.

Aqui chego precisamente à hora do sol poente,

quando o rebuliço da cidade começa a abrandar.


Os Sokols desfilaram há pouco nas imediações,

perfumando a cidade com a pompa dos seus ideais.

No ar paira ainda a estridência dos seus clarins 

Que espalharam vibrações de alma 

no deserto de fortuna onde florescem utopias. 

A maré começara a vazar nas praias vizinhas

onde os botes repousam o seu cansaço

na ânsia de um chamamento longínquo.


O veludo da noite é cada vez mais espesso 

e nele mergulham fundo os meus sentidos.

Sou refém de uma vertigem indecisa,

animado de urgência para sondar o invisível

e encontrar o veio de luz que tudo trespassa.

O rumor da cidade é um eco já em cadência esmorecida

que doravante só é audível no interior de búzios inertes

espalhados pela ourela do mar e suas proximidades. 


Sinto palpitar ansiosamente o coração da noite, 

que se predispõe a todas as fulgurações da fantasia.

Ouço a espaços gemidos de rabeca sulcando o ar, 

que o vento sacode em perdulária diversão,

como que despeitado pelo virtuosismo alheio.

Há notícias de um baile do clube Amarante,

e para lá caminham raparigas de língua de prata

e saia plissada agitando-se ao sabor da brisa.


Nada surpreende ou frusta a expectativa

de quem percorre os meandros da noite.

Homem embriagado dialoga com a sua sombra 

num esforço inútil para espantar a sua solidão.

Pouca atenção merece de dois namorados 

colados à penumbra de um banco de jardim

sob o olhar cúmplice da lua feiticeira,

testemunha solitária das suas almas cativas.


Na Praça Estrela a noite adormece mas não dorme,

e nela há recantos para todos os devaneios.

Sabem-no os marinheiros que esperam pelas marés

em botequins forrados de recolhimento.

O grogue e a moreia frita estimulam o seu ânimo

e à luz mortiça as suas vozes diluem-se em burburinho. 

Os seus pensamentos vogam na crista das ondas

em demanda de um porto feliz na terralonge.


Um galo da vizinhança acaba de cantar. 

As pontas de cigarro começam a empalidecer 

e já não são os minúsculos faróis das rotas vadias. 

Os gongons da minha meninice esfumam-se 

e são levados sorrateiramente pela brisa do mar 

ficando-me o hálito frio e assustador da sua presença. 

O apito de um vapor quebra bruscamente o meu pasmo 

e a aurora exorciza finalmente o sortilégio da Praça. 


Vultos difusos de trabalhadores do carvão 

atravessam a agora a praça em movimento furtivo,

mal se distinguindo nas suas vestes enfarruscadas.

Nas suas marmitas é avaro o alimento do dia

mas é onde sobra o alento para outras madrugadas.

As estrelas começam a desmaiar no seu leito celestial

despedindo-se com promessa de voltar a incendiar 

o silêncio e sondar os abismos da alma humana.


As sombras extinguiram-se aos primeiros alvores

e tudo em redor retoma o seu contorno real.

O que fora flutuação vaporosa diluída em meia-luz 

transmuda-se agora em figura nítida

das cenas diurnas da hora solar.

Rumores vindos do porto e das ruas próximas 

repercutem-se agora por inteiro no coração da praça

e engrossam a corrente viva do quotidiano.


É hora de me despedir. Faço-o com a nostalgia 

do viajante que deixa o coração ancorado em cada lugar.

A Praça Estrela regurgitou a emoção da noite anterior   

e está de regresso à sua perene realidade. 

É seu destino ser palco de comédias e paixões, 

nem que seja por um breve instante de devaneio. 

Levo no íntimo a emoção da noite estonteante,

filha de uma estrela esculpida na alma do povo. 




[7579] Sem palavras

[7578] Sem palavras


[7577] Sem palavras

[7576] Um facebook a ver e a colocar nos favoritos, tal como o Pd'B: o Cape Verdean Museum de Pawtucket, Rhode Island, EUA

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