segunda-feira, 13 de junho de 2011

[0069] Um poema de Adriano Miranda Lima a Nhô Balta

Em comentário ao post n.º 0067, o nosso colaborador Adriano Miranda Lima deixou este poema. Pensamos que não poderá ali ficar escondido e por isso aqui o trazemos mais para a luz - que a memória de Nhô Balta bem o merece e a verve de Miranda Lima também... 


Adriano Miranda Lima












Baltasar
 
Essa fina saudade de Passárgada
que percorreu teus dias
ninguém a entendeu senão tu
como algo entretecido por mãos de anjo
quando o sol, a terra e a chuva fizeram as tréguas

Alguns pensaram que era simples desejo de evasão
fuga contumaz sem rasto de remorso
trancando a porta de regresso

Mas como poderia evadir-se
quem estava preso no ventre de sua mãe?

E depois filho de coração terno
quem poderia mais tarde acalentar a dor de sua mãe
e cuidar-lhe um dia de uma mortalha lavada?

Alguns fingiram não perceber que apenas sonhavas com
um Beijo
um beijo da mãe-água no seio da mamãe-terra
depositado na esquina da eternidade
selando promessa de felicidade

Este poema que o não é
pode ser remissão do meu pecado
ou tardia poção sacrificial
por não ter também compreendido
ou partilhado
a veemência da tua fina saudade

Baltasar

Hoje não é já a Passárgada que nos persegue
nas nossas intermináveis noites de vigília
É esta infinita saudade que nos deixaste.

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