A verdade é que, como sabemos, estar «sabe» em S. Tomé era mais para os donos das roças que para os infelizes trabalhadores cabo-verdianos. Alguns destes conseguiam de facto um pequeno pecúlio que lhes permitia regressar às suas ilhas e recomeçar a vida com mais esperança - o que era demasiado raro. Estar em S. Tomé, também significava de algum modo fugir à fome que ciclicamente grassava em Cabo Verde. Mas, comummente, os resultados finais eram estes que o jornal «O Futuro de Cabo Verde» assinalava em 4 de Fevereiro de 1915. Esta é que era a triste realidade da emigração para as roças do café e cacau.
O PRAIA DE BOTE é militante das coisas da Praia de Bote, do Mindelo e de S. Vicente. Porém, Santo Antão é a ilha irmã e por isso ela também aqui pode ter um lugar de carinho. E se iam muitos santantonenses para as roças, a nossa ilha também para lá enviou muitos dos seus filhos.
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Esta notícia é do tempo da I República, portanto do tempo das liberdades cívicas, que, embora não tenham conduzido a nação portuguesa à ansiada felicidade, poderiam na vigência daquele regime ser fruídas sem restrição e sem medo. Décadas mais tarde, esta notícia não poderia ser publicada em nenhum jornal, sob risco de repressão e prisão.
ResponderEliminarE no entanto o sofrimento das populações cabo-verdianas continuou o seu curso funesto, sem que o Estado Novo tivesse encontrado uma solução mais humana para livrar da fome as populações que, voluntária ou involuntariamente, davam o nome nos contratos para as roças, só para não sucumbirem aos efeitos das terríveis secas que assolavam as ilhas.
E o povo de S. Antão, predominantemente agrícola, foi um dos mais sacrificados. Lembro-me de ver desembarcar em S. Vicente ex-contratados para as roças. A maioria trazia estampado no rosto a máscara da doença e do sofrimento. E ao pensar que muito daquela gente era de S. Antão, sinto um não sei quê de mágoa por saber que a população rural daquela ilha era hospitaleira, cordata e humilde.