Isto de comentar fotos, tem que se lhe diga... É preciso escavar, como se costuma dizer, em linguagem de investigação. É necessário ir mesmo ao fundo, ao pormenor, ao mínimo detalhe. A superficialidade de observação não quadra com o desejo de saber. E mesmo assim, fica-se sem imensas respostas, a maior parte das vezes.
Primeiro, a data. Em que ano foi tirada esta foto de postal ilustrado? É quase impossível sabê-lo. Embora se possa fazer um cálculo aproximado, pelo menos balizá-lo. Ora bem, há duas balizas por ali, dois navios: um, um rebocador; outro, um vaso de guerra.
Comecemos pelo rebocador, o "Damão", nome que se pode perfeitamente ler na proa, a estibordo. Não sabendo exactamente quando chegou a S. Vicente, calculo que terá sido por 1963, 64 ou 65, quando eu estava no Mindelo. Lembro-me da sua chegada e da ida de pessoas a caminho do cais acostável para verem a possante embarcação que vinha colmatar falha havia muito sentida. Um dos comandantes do "Damão" foi Crisanto Lopes, natural de Porto Novo, Santo Antão. A Enapor (Empresa Nacional da Administração dos Portos) possui um rebocador "Damão" que talvez ainda seja este de que estamos a falar.
A outra baliza é constituída pelo navio hidrográfico "João de Lisboa" aviso de 2.ª classe A 5200 (antes F477), número que de igual modo é perfeitamente visível. Pertencente à classe "Pedro Nunes", era um aviso colonial construído no Arsenal de Marinha, em Lisboa, no âmbito do Programa Naval Português da década de 30 e lançado à água em 1937. Foi entretanto reclassificado em 1961 como navio hidrográfico, tendo-lhe sido retirado algum armamento. Navegou até 1966, altura em que foi abatido aos efectivos da Armada e passou a ser batelão do Tejo, mantendo o nome de "João de Lisboa".
Digamos pois que a foto foi feita entre 1963 e 1966, mais ou menos. O que indicia que eu estaria no Mindelo quando foi realizada.
O navio de guerra do qual só vemos a popa, é de difícil identificação, mas é quase certo que temos ali ou o navio hidrográfico A 527 "Comandante Almeida Carvalho" (1941-1963, na nossa Armada desde 1950) ou o contratorpedeiro D 333 "Lima" (1933-1965). Do vulto que a minha memória recorda, parece-me ser o "Lima". Seja como for, era neste mesmo local que ambos os navios atracavam. Por necessidades da guerra, o "Comandante Almeida Carvalho" (antes "Fort York", Canadá e "Mingan", Grã-Bretanha), iria ser reconvertido em corveta em 1963, passando a denominar-se "Cacheu".
Quanto ao resto, há de facto sinais de grande chuvada, o Monte Cara espreita para tornar a foto mais sugestiva, há farta quantidade de navios no cais e outros estariam fundeados na baía, numa altura em que o gato de Manéjon já não era alimentado a gemada mas em que o Mindelo vivia bom momento de progresso.
Quanto ao resto, há de facto sinais de grande chuvada, o Monte Cara espreita para tornar a foto mais sugestiva, há farta quantidade de navios no cais e outros estariam fundeados na baía, numa altura em que o gato de Manéjon já não era alimentado a gemada mas em que o Mindelo vivia bom momento de progresso.
O Rebocador "DAMÃO" da foto ainda está a trabalhar, podemos dizer que é hoje, o guardião do Porto Grande. Estou quase certo que a sua chegada a São Vicente foi nos finais do ano de 1963, pois ainda não tinha feito a 4ª classe, e que foi em 1964.
Recordo ainda do nome gravado na popa "DAMÃO LOURENÇO MARQUES"; ao que parece estava destinado para os portos de Moçambique. Antes da sua chegada era o rebocador "SHELL MATIOTA" da Shell em Cabo verde que prestava esse serviço; "MATIOTA" como era conhecido, tinha fama de valente, pois além de participar no abastecimento aos barcos que escalavam a Baía, auxiliava também na construção do Cais Acostável do Porto Grande, e, posteriormente do Porto Novo em Santo Antão. O sue sistema de locomoção era de Caldeira a Vapor, e também substituía o Damão quando deslocava para Portugal para manutenção. Na fotografia também ainda não esta gravada no chaminé as iniciais de J A P A "Junta Autónoma dos Portos do Arquipélago" como posteriormente veio a acontecer.
Quanto a popa do barco de Guerra, de "VOUGA" não pois, já tinha ido embora, portanto só pode ser do "LIMA".
Alguém já dizia que "Recordar é Viver"; Portanto ..., ...,
UM ABRAÇO !!!
MARCOS SOARES
Comentários muito interessantes que lançam mais alguma luz sobre o passado da nossa ilha. Tinha esquecido completamente essa do "Lourenço Marques". Mas meio século de navio com tanto trabalho é obra. E história... não podemos esquecer a triste missão que teve em tempos pouco democráticos, de transporte de presos políticos de Santo Antão para São Vicente.
EliminarBraça damanense,
Djack
O rebocador Matiota é um elemento inapagável do meu imaginário infantil, pois foi sempre enaltecido pela sua valentia contra "mar e vento". O contratorpedeiro Lima jamais o esquecerei na inauguração do cais acostável. Na altura, ouvi dizer que à última hora fora designado para estar presente na cerimónia oficial da inauguração e para isso teve de navegar a todo o vapor para chegar a tempo.
ResponderEliminarSó conheci o "Shell Matiota" quando ele já era velhote. Quanto ao esforçado "Damão", é caso para dizer: isto é que é um barco!!!
ResponderEliminarBraça a reboque,
Djack
So agora tomo conhecimento deste post. De qualquer forma, pude jà falar da valentia do "Matiota" e da inauguração do cais acostàvel.
ResponderEliminarEsta lembrança continua ainda bem presente por razões diversas.
Braça "incostàvel"
Uma vez que o rebocador "Damão" foi entregue no dia 15/09/1962, é muito provável que tenha chegado a São Vicente, em fins de 1962. Em Abril de 1962, o lançamento
ResponderEliminarhttps://arquivos.rtp.pt/conteudos/lancamento-a-agua-de-um-rebocador-para-o-ultramar/
É possível, caro João Celorico. É possível que seja o "Damão", embora seja ali difícil de identificar.
EliminarVolte sempre
Abraço,
Joaquim Saial