[0298] Posts recentes, ainda a ver... E mergulhos por moedas de turistas
Neste post, à beira da noite de S. Silvestre, o PRAIA DE BOTE oferece aos seus leitores uma cena que ainda todos temos na memória, em quatro versões, a preto e branco e a cores.
Fotografias são elucidativas de um tempo que já foi, tendo o mar da baía como o núcleo central de toda a vida da ilha. Estas "lisas" até ao fundo executadas pelos "boises", aqui retratadas, eram uma forma de amealhar uns tostões. Mas não sei seu significado nestas fotos. Vão em busca de umas moedas atiradas por turistas ou estão à procura de carvão que caía das lanchas?
Carvão, talvez na imagem de cima, nas versões preto e branco e cores; nas de baixo, diz lá mesmo na legenda que é um mergulho por um penny. E isso eu vi, no cais da Alfândega num barco que fundeou no Porto Grande e mandou em várias viagens o seu gasolina com ingleses (ou seriam americanos?) para o Mindelo. Muitas moedas foram atiradas e muitos mergulhos foram feitos.
Veja-se um excerto de um livro capitaneal famoso, sobre o assunto...
«Pouco antes da atracadura, com o à-vontade de quem estava habituado a andanças daquele tipo, alguns começaram a arremessar moedas ao mar, na mira de que os muitos miúdos dependurados nas protecções que bordejavam o cais se atirassem à água. Estes, não se fizeram rogados. Bons nadadores, quase todos, era para eles empresa de pouca monta descer os escassos metros que separavam a superfície do fundo, que a forte luz do sol e a limpidez do oceano permitiam ver com clareza. O brilho do metal atiçava-lhes o desejo, e a competição gerava remoinhos e salpicos que obrigaram algumas misses mais idosas a levantar-se dos bancos cobertos de sarja azul para se chegarem até ao compartimento do motor, onde se sentiam protegidas da chuva que os mergulhos e a luta pelos pence provocavam. O Nhelas foi um dos primeiros a atirar-se. Deu-me a roupa a guardar e, em cuecas, deixou-se cair na água. Catch the coin, boy, catch the coin! *, dizia-lhe um gordíssimo inglês. De capacete colonial, calções e camisa cremes, meias do estilo até ao joelho e sandálias, o homem debruçava-se todo da amurada, tentando ver da melhor maneira aquela dúzia de peixes humanos que se digladiavam na obtenção das migalhas metálicas que lhes iam sendo lançadas. (...)»
Vou dizer o que sei ao Adriano sobre o que pede. Esses "botins", assim juntos, eram os que abordavam os vapores na baía esperando para transportar um marinheiro que quisesse passear na cidade. Enquanto esperavam, pediam que lhes fossem lançadas umas moedas que depois iam buscar ao fundo.
Quanto à procura de carvão - a rocega - era geralmente um só bote com dois marinheiros que sabiam onde encontrar o maná que era uma quantidade lançada ao mar pelo guarda das lancha (quando, à noite, não se serviam directamente). A rocega fazia-se com um instrumento feito com três ferros soldados, uma rede de sisal e uma grande corda amarrada no barco. Enquanto um deles descia ao fundo, o outro aguentava o bote.
Fotografias são elucidativas de um tempo que já foi, tendo o mar da baía como o núcleo central de toda a vida da ilha. Estas "lisas" até ao fundo executadas pelos "boises", aqui retratadas, eram uma forma de amealhar uns tostões. Mas não sei seu significado nestas fotos. Vão em busca de umas moedas atiradas por turistas ou estão à procura de carvão que caía das lanchas?
ResponderEliminarCarvão, talvez na imagem de cima, nas versões preto e branco e cores; nas de baixo, diz lá mesmo na legenda que é um mergulho por um penny. E isso eu vi, no cais da Alfândega num barco que fundeou no Porto Grande e mandou em várias viagens o seu gasolina com ingleses (ou seriam americanos?) para o Mindelo. Muitas moedas foram atiradas e muitos mergulhos foram feitos.
ResponderEliminarVeja-se um excerto de um livro capitaneal famoso, sobre o assunto...
«Pouco antes da atracadura, com o à-vontade de quem estava habituado a andanças daquele tipo, alguns começaram a arremessar moedas ao mar, na mira de que os muitos miúdos dependurados nas protecções que bordejavam o cais se atirassem à água. Estes, não se fizeram rogados. Bons nadadores, quase todos, era para eles empresa de pouca monta descer os escassos metros que separavam a superfície do fundo, que a forte luz do sol e a limpidez do oceano permitiam ver com clareza. O brilho do metal atiçava-lhes o desejo, e a competição gerava remoinhos e salpicos que obrigaram algumas misses mais idosas a levantar-se dos bancos cobertos de sarja azul para se chegarem até ao compartimento do motor, onde se sentiam protegidas da chuva que os mergulhos e a luta pelos pence provocavam. O Nhelas foi um dos primeiros a atirar-se. Deu-me a roupa a guardar e, em cuecas, deixou-se cair na água. Catch the coin, boy, catch the coin! *, dizia-lhe um gordíssimo inglês. De capacete colonial, calções e camisa cremes, meias do estilo até ao joelho e sandálias, o homem debruçava-se todo da amurada, tentando ver da melhor maneira aquela dúzia de peixes humanos que se digladiavam na obtenção das migalhas metálicas que lhes iam sendo lançadas. (...)»
Comentário de Valdemar Pereira:
ResponderEliminarVou dizer o que sei ao Adriano sobre o que pede. Esses "botins", assim juntos, eram os que abordavam os vapores na baía esperando para transportar um marinheiro que quisesse passear na cidade. Enquanto esperavam, pediam que lhes fossem lançadas umas moedas que depois iam buscar ao fundo.
Quanto à procura de carvão - a rocega - era geralmente um só bote com dois marinheiros que sabiam onde encontrar o maná que era uma quantidade lançada ao mar pelo guarda das lancha (quando, à noite, não se serviam directamente). A rocega fazia-se com um instrumento feito com três ferros soldados, uma rede de sisal e uma grande corda amarrada no barco. Enquanto um deles descia ao fundo, o outro aguentava o bote.
Valdemar