domingo, 7 de abril de 2013

[0410] Um postal inglês, com uma sãovicentina e seus filhos, enviado por uma francesa para um habitante de Paris

A legenda inglesa do postal editado pelos Thornton Bros. de Brompton, Kent, Grã Bretanha, dá a figura central do mesmo como "A mulher da casa", isto é, aquela que levava a família para a frente. Esta parece ser constituída apenas por uma menina e por outra criança mais jovem que a mulher transporta às costas, à maneira africana. Mais ninguém... Marido na diáspora? Viúva? Mãe solteira? Nunca o saberemos. É um São Vicente de início do século XX, de extrema pobreza popular, onde o funco ainda é vulgar e o canhoto em boca feminina ainda mais. O pano com que a senhora segura a criança afigura-se roto e a base da saia está mais que remendada. Ao lado, uma selha tradicional para as lavagens da roupa.

Ora quem envia este postal em 14 de Julho de 1914 para o 132 da Avenue Parmentier em Paris? Uma senhora que dá pelo nome de G...  (poropositadamente aqui escondido pelo PB, por motivos que se percebem) e envia "afectuosos beijos" para o senhor L... (aspas, aspas...). Qual o relacionamento entre estas duas pessoas? Namorados? Esposos? Irmãos? Mãe e filho? Apenas bons amigos? Também dificilmente o saberemos. Seja como for, Cabo Verde está pelo meio da ambos. Madame ou mademoiselle G encontra-se ou passa por Cabo Verde e resolve enviar o postalinho a Mr. L para a acolhedora avenida parisiense. O PB procurou o prédio e encontrou-o. Na aparência, corresponde à época de segunda metade de século XIX, início do XX, sugerindo ser exactamente o aquele para onde o postal foi enviado e não outro posterior. O quarteirão, de face curta do lado da Av. Parmentier, apenas apresenta duas portas, mas cinco ou seis andares. Há uma tenda de jornais, uma farmácia também. Digamos que aquela fachada encerra a chave deste enigma simples mas curioso que, como em muitos casos epistolares aqui reproduzidos, é atravessado por Cabo Verde. Pena que o envelope em que o postal foi remetido se tenha eclipsado. Mas, mesmo assim, aqui fica mais este saboroso episódio que tem a ver com nôs terra.

Só uma piada: o vendedor deste postal, não percebendo o que é essa coisa de "C. V." escrita no mesmo, e lendo a expressão  "St. Vincent" identifica o local de origem do objecto como "petites Antilles - Amerique"... Caso para lhe dizer: "Ó mnine, bô ca ta conchê Cabverd?"...






3 comentários:

  1. Notável reconstituição histórica a partir de um simles postal, romaceada à boa maneira latina até ao engano final de que eu próprio, aliás, já fui vitima, nos anos 60 do sec.XX, quando uma carta proveniente dos USA só me chegou às mãos após 16 neees de trajecto, via Antilhas, cinquanta anos deois deste postal ter sido escrito...

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    1. Eu contava essa história com mais pormenor no Arrozcatum. São essas pequenas atribulações que fazem o sal da vida e da Internet.
      Braça epistolar,
      Djack

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  2. a) - Lembro-me de cenas iguais à do postal na Ribeira Bote, precisamente no descampado que anos depois viria a ser a "Ilha da Madeira", bairro criado por José Joaquim Pereira, segundo de nome, também conhecido por "Burmedje" ou "Djesse". Carpinteiro de profissão, começou por construir a sua casa logo seguida de outras, sob encomenda, sempre com alinhamento. Como o terreno pertencia à Câmara Municipal que nada fazia para alojar as pessoas pobres, não foi dificil oficializar as propriedades. E, como a verdadeira topinimia é a criada pelo povo, o nome ficou mas raros são as pessoas que se lembram disso o que é uma pena pois quando não estivermos dirão o classico "mas ninguém sabe da origem".
    Uma trecho urbanistico que merece ser contado para a geração actual e futura.
    b) - De confusões postais posso avançar com duas que sucederam comigo aquando da minha estadia na Ilha de Madagascar: - 1°) Um correio saido de Lisboa para Tananarive (capital da Repùblica Malgaxe) que foi para Tenerife (Canàrias); b) Uma carta enviada dessa mesma ilha para Santiago Cabo Verde que foi directamente para Santiago mas... do Chile. (Deduzi que Cabo Verde ainda não stava no mapa).
    Jà agora (todos cometemos erros) uma encomenda que enviei a Manchester (subentido no Reino Unido) que me voltou de Manchester no Canadà.
    Todavia a culpa disso tudo é do Djack que nos sai coisas como a mulher vicentina com o filho às costas.
    Um braça ao mnine mufine.

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