sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

[0732] Comemorações do 3.º aniversário do "Praia de Bote" - No 2.º dia (dia de aniversário), a representação de Cabo Verde na Exposição Colonial do Porto, em 1934

É hoje que o "Praia de Bote" faz o seu trino aniversário. Como é da praxe, compete ao administrador agradecer as colaborações e comentários de vários e fiéis amigos, sem cujo contributo o blogue teria sido muito mais monótono e menos rico. Palavras poucas, são o melhor nestas ocasiões. Fica no entanto a promessa de continuidade, sempre com o Mindelo, São Vicente e Cabo Verde no horizonte. Um abraço geral.

Para dia de aniversário, reservámos uma notícia do "Diário de Lisboa" de 23 de Junho de 1934, alusiva à chegada da delegação cabo-verdiana à capital do Império, para a Exposição Colonial do Porto. Enquanto aguardava passagem para o Norte, o grupo passeou  por Lisboa e apresentou-se na Agência Geral das Colónias que se situava na Rua da Prata. Um dos elementos, o faroleiro e músico Luís Rendall bota palavra para o jornal. Mas isso verá o leitor, deleitando-se com uma prosa jornalística de teor simpático mas paternalista em absoluto e portanto impensável nos dias de hoje. Eram de facto outros tempos. E o remate, com a exclamação da mnininha sobre as grandes cubatas de Lisboa, não nos parece credível, pois se em Cabo Verde ainda haveria (e há) um ou outro funco, o arquipélago não era de modo nenhum sítio de cubatas, mesmo no longínquo 1934. Provável piadinha do repórter... Para além do jornal e de imagens de um folheto de propaganda da Exposição, conseguimos por fora duas significativas e razoavelmente nítidas fotos da passagem dos nossos patrícios pela Rua da Prata. Aqui fica tudo, para deleite dos nossos visitantes. Com ampliações, para melhor leitura.











18 comentários:

  1. Num primeiro comentário, quando são já quase 2 horas da matina, registo que estes documentos antigos suscitam sempre imensa curiosidade.
    O Djack diz bem quando se refere ao tom paternalista do repórter, próprio de quem pouco ou nada devia conhecer da realidade geográfica das antigas colónias, em geral, e de Cabo Verde, em particular. O termo indígena não sei se soaria bem aos ouvidos dos cabo-verdianos, mesmo nessa época recuada, dado que vulgarmente se aplicava com mais propriedade aos povos tribalizados dos territórios africanos, ao passo que os cabo-verdianos se sentiam como povo dotado de uma evolução e hábitos de socialização diferentes e quase equiparáveis pelo menos aos das ilhas adjacentes, salvaguardando as diferenças étnicas e ambientais e mesmo de progresso económico e social. O cúmulo do exagero é particularmente notório quando o repórter põe na boca da mnininha o termo "cubata", que em Cabo Verde, enquanto menino, só ouvia em relação às habitações da África continental. Digamos que o esforço de empatia do repórter levou-o, quiçá involuntariamente, a cometer uma distorção terminológica a exigir umas palmatoadas aplicadas pelo meu antigo professor Alfredo Brito ou mesmo uma vergastadazinha com uma varinha de mantamba. Mas deixemos o homem em paz, que certamente está no outro mundo, tal como aquele meu antigo professor.
    O que acho estranho é algumas dessas pessoas terem ido descalças para Portugal, embora lhes valesse a estação do ano a essa data. Embora humildes e habituadas a andar assim na sua terra, julgo que sempre teria sido possível ao governo da colónia providenciar ao menos umas "samatás" (sandálias de cabedal para quem desconhece o termo). Não seria despesa que agravasse seriamente a situação das contas públicas da colónia (aqui tenho de soltar um gargalhada). É um facto que naquele tempo o sapato estava longe de ser usual entre as pessoas do povo, mas de certeza que elas (e eles) não teriam desdenhado uma sandália para os pés. A não ser que fossem como a Gabriela do Jorge Amado: "sapato non, sinhô Nacib". Ou então... a não ser que tudo fizesse parte de uma nota de tipicidade consonante com o classificativo de indígena. Talvez fosse mesmo isso.
    Por hoje, já chega.

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  2. A primeira coisa a fazer é parebenizar o PdB pelo que fez, pelo que faz,z desejar longa vida ao seu Administrador e seus colaboradores. Já agora, aos invisíveis quem passam centenas de vezes sem "falá mantenha". Afinal o jornal é para todos e agradeço ao menino que em boa hora apareceu para eleger residência ao pé do nosso Plurim, na segunda Torre de Belém, primeira Torre de Soncente.
    A vasta reportagem e a reacção do Adriano fez-me passear décadas atrás, navegando em coisas as mais disparatadas ouvidas anos depois do evento, sendo a mais célebre a das "cubatas dos indígenas cabo-verdeanos", termos que ouvíamos quando nos falavam do Continente Africano. Espero ainda ver aqui relato sobre a reacção de Franck Xavier (B.Leza) quando lhe mostraram as que representavam Cabo Verde e que foram retiradas da Exposição sob reclamação da Comitiva.
    Boa continuação
    Braça tropical.

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  3. Ouvindo os dois admiraveis comentaristas do PdB, eu, so vou dizer, Parabens, parabens para o PdB, para o Djack, seu criador e para todos voces, caros patricios.
    Samatas? E verdade, lembro-me bem delas.

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  4. Eu vou pelas últimas palavras do Adriano. Aquela gente poderia (e deveria) de facto ter algo nos pés mas assim a coisa tornava-se mais típica, mais exótica e isso correspondia ao espírito da Exposição. Aliás, o Henrique Galvão, não aprendeu nada desde esta exposição da qual era o comissário. Em 40, como diz o Val, voltou a fazer das suas (na Exposição do Mundo Português, em Belém) e queria que o B.Leza e o resto do pessoal ficasse em palhotas... Claro que o B.Leza se insurgiu e lá tiveram de fazer à pressa umas casas para o pessoal das ilhas. Mas voltando à sapataria, reparem que os homens estão de sapatos...

    Braça palhotal,
    Djack

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  5. O Vela (filho do B. Leza ) deveria dar um depoimento sobre este assunto. Como bem atesta aqui o Valdemar, B. Leza reagiu com indignação (e com ele os restantes integrantes da comitiva) à designação pejorativa e racista de indígenas cabo-verdianos muito usada no tempo tanto por portugueses por franceses ingleses etc para caracterizar os habitantes das colónias africanas. A Comitiva ameaçou retirar-se da exposição e voltar a Cabo Verde se tal não acontecesse. Isso feria e ainda hoje fere a dignidade de um povo que se já na época, não obstante a sua condição humilde a pobreza endémica e o analfabetismo reinante se considerava de igual para igual em relação aos outros povos ditos evoluidos na sua relação com o mundo. Mas julgo que esta designação foi mais para folclorisar a festa embora como vimos estivesse infelizmente impregnada no espírito colonial da época. Ou bania-se o termo ou aplicava-se a todos os participantes que acho foi o caso pois privilegiar os cabo-verdianos podia cair mal. Só sei que os cabo-verdianos não abandoram a Exposição pelo que acho que se amenizaram os problemas criados. Este tipo de incidentes poderão ter contribuído para contaminar as relações entre cabo-verdianos e portugueses com algumas erupções xenófobas que de 'temps en temps' aconteciam

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  6. No seguimento do que eu disse antes, não se confunda esta Exposição Colonial do Porto (1934) com a Exposição do Mundo Português (1940), embora em ambas o Henrique Galvão tivesse importância decisiva no que toca ao pessoal natural das colónias. Aliás, em 1940 havia mesmo um "bairro indígena" ali junto ao Mosteiro dos Jerónimos.onde eram exibidos os povos do ultramar. Foi aí que o B. Leza bateu o pé e bem batido.

    Braça sem cubatas nem palhotas,
    Djack

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  7. E continuando, acho que o B.Leza não foi ao Porto mas apenas a Lisboa, em 1940. Aqui só se fala no Luís Rendall, pai, faroleiro de São Vicente, embora o B. Leza possa talvez ser algum daqueles homens. Mas isso só o filho deslindaria.

    Braça interrogativa,
    Djack

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  8. Esgotada, talvez, a face antropologica do assunto, resta-me a observaçãoi folclórica de que tinha eu 22 dias de idade quando o evento foi inaugurado e que, até aos meus 15
    anos, sempre usei samatás que, aliás, já usava quando aportei a S.Vicente, em 1943..
    Ah! E já me esquecia: parabéns, Djack, pelos três aninhos.

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  9. Não vejo aqui qualquer alusão a uma das coisas que os ingleses nos deram, tudo levando a crer que esqueceram (ou não sabem?) sua origem.
    Falamos coisa não só prática para os nossos pèsinhos de clima tropical como barata e de fàcil fabrico.
    Estou vendo a cara de, pelo menos, um dos comentadores que - felizmente - aparecerem hoje (por fidelidade ou manhenteza? Quem sabe?) e não dizem a origem da palavra samatà.
    Se alguém disser agora "ê devera" eu que fico duvidando da sua qualidade de "mnine de Soncente" ou se quiserem de Mindelo ou mesmo de Ponta de Praia. Podia aproveitar e lançar um concurso "à PdB" e prometer um "pom de midje" mas... não vou ser Amigo da Onça e vou perguntar.:

    Qual é a origem de samatà?

    (Alguém vai dizer: "samatàaaa... samatàaaa... m' sabia ma já m' esquecê". Partamos do principio que houve esquecimento mas...)

    Pois, mnis, samatà é a corruptela de "summer time".
    Very british, endeed. Or not?

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  10. É claro que o termo "indígena" significa simplesmente "natural de...", mas a questão está no sentido pejorativo que o termo ganhou para significar "povo de região atrasada, incivilizada, etc.". E é aí que a representação cabo-verdiana poderia ter sido mimoseada com outra expressão, não fosse o caso, como bem diz o Djack, de se criar uma diferenciação com os outros representantes.
    Se fiz um reparo sobre os pés descalços é apenas pelo facto de uns estarem descalços e outros não. Os que estavam descalços certamente não tiveram meios para adquirir uns samatás, e é neste ponto que deviam ter sido apoiados. Além disso, se os pés descalços se coadunavam com a imagem de indigenato, já destoava das roupas de tipo europeu que todos envergavam. Mas o que lhes valeu foi o clima de Verão (Junho a Setembro), pois no Inverno iriam dar-se mal.
    Quanto às cubatas, sabe-se, como aqui foi lembrado, a reacção do B. Leza na Exposição de 1940. De facto, estranha-se como Henrique Galvão nada tenha aprendido, voltando ao mesmo em 1940. E, além disso, convém dizer que se alguém conhecia a fundo a África era ele. E conhecia muito bem Cabo Verde, cujas ilhas percorreu de lés-a-lés, em trabalhos de antropologia colonial. Henrique Galvão era um "africanista", um homem de estudo, e em devido tempo advertiu Salazar sobre os atropelos e desvios que estavam a ser cometidos nos territórios africanos, tendo, a partir dessa altura, entrado em ruptura com o regime. Salazar é que nunca tirou o traseiro da cadeira de S. Bento, de onde quis governar o império. Não fazia a mínima ideia do que eram as colónias, o que é incompreensível à luz do mais elementar das ciências de administração pública.

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  11. A fotografia da representação cabo-verdiana é realmente de boa qualidade, com grande nitidez de imagem.
    O repórter não foi indiferente à beleza de algumas das mulheres cabo-verdianas presentes, e deve ter deitado uns olhinhos gulosos, imaginando as “formas esculturais” debaixo das “blusas garridas” e “saias compridas”.
    É importante lembrar que o regime do Estado Novo estava então em ascensão e consolidação desde que Salazar assumira em 1932 o cargo de “Presidente do Conselho de Ministros”. O teor deste e outros textos jornalísticos não poderia dar asas à liberdade de expressão e conter qualquer laivo de apreciação crítica, pelo que a nota dominante tinha de ser a apologia ao Regime.
    Estamos agradecidos ao Djack e ao PdB por tudo isto. Os voos charters cheios de comentadores é que ainda não aterraram.

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  12. Só agora reparei que as velinhas do aniversário são velinhas para todos os contentamentos: Benfica, Sporting e Porto. Não vá soltar-se nesta Praia um pé-de-vento clubístico...

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    1. O Praia de Bote é o blogue mais democraticamente "sportivo" de São Vicente: gosta de todos os clubes portugueses e dos da ilha e atribui tanta classe ao Porto como ao Castilho, ao Benfica como ao Mindelense ou ao Sporting como ao Derby, fora o resto, Amarante e Micá incluídos. Todos honram o Adérito Sena.

      Braça com penalty,
      Djack

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  13. Acabo de receber aqui um sms do Aeroporto Cesária Évora a indicar que há 4673 pessoas que queriam vir ao aniversário do Pd'B e se encontram retidas em São Pedro porque o Djosa de nha Bia roubou todo o combustível dos aviões dos TACV. Isto é, desviou-o metido em tambores puxados por botes a remos para o depósito clandestino que tem em Santa Luzia, de onde faz viagens pirata de catamarãs inter-ilhas. Ao que parece, toda a gente prefere os Djosa Trans Express, os barcos do Djosa que para além de serem mais seguros oferecem um prato de cachupa guisada a todos os passageiros e ainda três doses de grogue, uma à entrada, outra durante o percurso e outra à saída. A Guarda Costeira tem tentado interceptar os catamarãs do Djosa mas nunca o conseguiu porque ele só concretiza as viagens durante a noite e emite uns sons de gongom que interferem com grande sucesso nos sonares dos barcos da GC . Quanto aos radares, estes são iludidos por dezenas de cagarras que o Djosa larga de hora a hora, levadas nos em grandes gaiolas de rede.

    Por esse motivo, as comemorações almadenses do Pd'B não tiveram o brilho que teriam se esta grande multidão aqui tivesse chegado. Paciência nhas fidge, coisas do Djosa que afinal saiu um patife de primeira.

    Braça desiludida,
    Djack

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  14. Preconiso um castigo ao malandro que desviou a gazolina para o seu "fusil": - Ele tem de caminhar até Rbera d'Julion de pê na tchom de cascoie, sem samatà.
    Sem braça pa ele

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  15. Haverá certamente quem esteja intrigado com estas peripécias engraçadas do Djosa de nha Bia. Quem é esse gajo, afinal? - Estarão perguntar, e com razão. Pois o Djosa apareceu no ARROZCATUM, propriedade do companheiro Zito, a passar por quem não é, quando se declarou armador do grande navio de cruzeiro Queen Victoria. Vai daí a coisa complicou-se porque ele foi desmascarado pelo Djack e pelo Adriano, mas só que a confusão foi de tal ordem que meteu a Interpol, que por fim esclareceu tudo, explicando que o Djosa afinal tinha sido vítima de um malandrim que, cara chapada dele, se apropriara do seu bilhete de identidade para cometer as maiores vigarices. Que o Djosa, coitado, não é mais que dono de um botim de carvão de rocega no Praia de Bote. Só que o Djosa, “basofim e cunvincid na sê esperteza de mnin de Soncent”, achou que tinha de tirar algum partido dessa confusão, tendo espalhado que o Edward Snowden, ex-secreta que anda fugido da CIA, ameaçou revelar mais segredos de espionagem se o Obama não convidasse o crioulo a ir à América receber uma réplica do navio Ernestina, novinho em folha e com todas as modernices. Então, o Djosa, acabando por acreditar piamente na sua própria invenção, começou a pagar rodadas de grogue no Boca de Tubarão. Tudo por conta do dinheiro que contava vir a receber. Mas como essa mudança de vida nunca aconteceu, o Djosa, desiludido, começou a apanhar valentes fuscas e a ficar horas a fio a boiar de costas no mar da Praia de Bote imitando uma estrela-do-mar.
    Depois de lhe passar a bebedeira e de se convencer a voltar à rotina do seu botim, acabou por não cair na real e foi assim que, agora sim, com a sua própria identidade, começou a entrar em certas vigarices como essa que o Djack contou. E foi quando se meteu na trapalhada muito pirracenta que o Djack não teve outro remédio senão relatar aos visitantes do PdB.
    Vamos ver o que mais lhe vai acontecer. Temos de estar prevenidos, Djack.

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  16. Todas as gargalhadas são aqui permitidas depois do que o Djack contou sobre o Djosa. Soltei a minha às 21 horas (de Portugal) e ainda não parei. A minha mulher ficou tão inquieta que ligou para o serviço de ambulâncias. Mas como do outro lado da linha ouviram a minha gargalhada, pensaram que era gozo e a ambulância não saiu.

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