terça-feira, 13 de maio de 2014

[0876] Um grande amigo de Cabo Verde e de São Vicente

Ainda como 2.º tenente
Na altura, demos aqui notícia do falecimento do comandante da Armada Guilherme George Conceição e Silva (23.Janeiro.1930 - 5.Abril.2014) que conhecemos por via do interesse mútuo pela história de Cabo Verde (que ele investigava a fundo nos arquivos navais portugueses) e amor comum pelo país e suas gentes e com o qual estabelecemos forte mas infelizmente fugaz amizade - cortada pelo seu inesperado fim de vida. A bordo das "Sagres" II e III (a actual), o comandante escalou inúmeras vezes portos de Cabo Verde, nomeadamente o Grande, de São Vicente. Aí conheceu e conviveu com Cesária Évora (música das ilhas fez-se ouvir no Cemitério Inglês de Lisboa, através da viola de um neto, no dia do seu funeral), com gente graúda e também com a de pé-descalço de quem tinha excelentes recordações de que nos deu conta nas vezes em que estivemos juntos e onde sempre quase só se falou de Cabo Verde.

Mastro e cabos da actual "Sagres" - Foto Joaquim Saial
O seu filho Filipe, comandante da aviação comercial, fez-nos chegar há semanas este texto que atesta à saciedade o que acima dissemos e que mostra pela milionésima vez como a semente cabo-verdiana floresce no coração daqueles que a provaram.

Na noite do dia de independência de Cabo Verde, em Julho de 1975, estava ele em casa, na Rua da Quintinha, perto de São Bento (Lisboa), com amigos a comemorar o evento histórico e falar nostalgicamente das vivências de quase duas décadas antes. Das pândegas em que se envolvia, incluindo as bandas de música de S. Vicente e em que ele por vezes actuava como "cantor"  - de nome artístico  “Guigui”... (penso que foi a Cesária que o baptizou com este nome). Ao estar a relatar aos amigos as suas actuações (se é que se podiam chamar assim), ouviram uns indivíduos a fazer barulho na rua, que reconheceram ser cabo-verdianos a comemorar a independência. Da janela, chamou-os e pediu para eles irem à porta.  Ele e os amigos  desceram as escadas e o meu pai entregou ao primeiro do grupo uma garrafa de espumante dando-lhes os parabéns pelo seu país... o individuo recebeu a garrafa, hesitou, olhou para o meu pai uns momentos... e diz: “- Tu és o Guigui!” - era um dos músicos das tais bandas que se lembrava dele de quase vinte anos antes – a sua companhia ou as suas actuações, alguma  impressão causaram.

4 comentários:

  1. Pois é !!!
    Mundo ê piqnim. Se ele tivesse portado como um "colonialista" (como dizem) também seria reconhecido pelo que fez.
    Paz à sua alma !!!

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  2. Lava a alma ler coisas destas...Obrigado Djack!

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  3. No que toca a Cabo Verde e sobretudo a São Vicente, ele era como nós: um fanático! Esteve para voltar lá, no iate de um amigo (como aqui contei), mas por doença deste a viagem gorou-se. Pensava agora ir de avião mas o destino trocou-lhe de novo as voltas.

    Braça à Mindelo,
    Djack

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  4. Só agora pude ler este post. Desconhecia em absoluto que o "nosso" Comandante tivesse andado nessas lides na tchon de Soncent. Ele era em boa verdade uma alma grande, como poucas há.

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