A cena está na nossa memória colectiva de Mindelenses ou aderentes: paquetes que chegavam ao Mindelo e desembarcavam os passageiros em botes ou gasolinas que depois atracavam ao cais da Alfândega (mesmo já com o cais acostável pronto, pois no da Alfandega ficavam logo na morada e o Blá não tinha capacidade de transporte rápido de tanta gente na sua carrinha). Os turistas atiravam moedas ao mar e miúdos mergulhavam em demanda delas. Uma festa, nesses dias e uma cachupa melhorada eram os resultados da coisa. Há até um sujeito nosso conhecido que utilizou o assunto num livro seu:
(...) Ao princípio da tarde, vimos a primeira lancha. Um oficial e três marinheiros, irrepreensivelmente fardados, constituíam a tripulação do barco que transportava cerca de três dezenas de passageiros. Pouco antes da atracadura, com o à-vontade de quem estava habituado a andanças daquele tipo, alguns começaram a arremessar moedas ao mar, na mira de que os muitos miúdos dependurados nas protecções que bordejavam o cais se atirassem à água. Estes, não se fizeram rogados. Bons nadadores, quase todos, era para eles empresa de pouca monta descer os escassos metros que separavam a superfície do fundo, que a forte luz do sol e a limpidez do oceano permitiam ver com clareza. O brilho do metal atiçava-lhes o desejo, e a competição gerava remoinhos e salpicos que obrigaram algumas misses mais idosas a levantar-se dos bancos cobertos de sarja azul para se chegarem até ao compartimento do motor, onde se sentiam protegidas da chuva que os mergulhos e a luta pelos pence provocavam. O Nhelas foi um dos primeiros a atirar-se. Deu-me a roupa a guardar e, em cuecas, deixou-se cair na água. Catch the coin, boy, catch the coin!, dizia-lhe um gordíssimo inglês. De capacete colonial, calções e camisa cremes, meias do estilo até ao joelho e sandálias, o homem debruçava-se todo da amurada, tentando ver da melhor maneira aquela dúzia de peixes humanos que se digladiavam na obtenção das migalhas metálicas que lhes iam sendo lançadas. Take care, Ross!, avisava a também carnuda esposa, dificilmente enfiada num vestido cor-de-rosa cheio de folhos, nariz muito vermelho, larga capeline na cabeça. Porém, sem lhe ligar, e com a atracação eminente, mister Ross insistia, de carteira em riste, distribuindo mais alguns óbolos. Nisto, um abrupto solavanco, motivado pela acostagem da lancha ao cais, projectou-o ao mar. (...)
Mas também houve uma empresa inglesa de postais que aproveitou uma foto com esta temática para lhe colocar um criolês, ou seja, um crioulo inglês... Chamo a atenção em especial para "water" que no postal passa a "whartur" e no "Verdes" que habitualmente é "Verde (Cape Verde). Estamos mais ou menos no início do século XX. "Me go! Me fetch!" Estes ingleses, estes ingleses...
Souvenir, souvenir !!!
ResponderEliminarLembro-me de cenas dessas na ponte-cais de Alfândega. Coisas que o Praia de Bote nos traz para matar saudade (ou matar de saudade?)
Braça
O Pd'B é um poço de memórias (boas, em geral) e sempre que possível em primeira mão. E para não matar ninguém de sôdade aconselha que estas memórias sejam lidas trincando um bolachinha de Matos. Ou então mascando um ratchinha d'monftchóde. Assim, o coração fica protegido...
ResponderEliminarBraça mindelense pura,
Djacj
Efectivamente cena típica de Soncent daqueles tempos: na Praia de Bote Cais Da alfandega etc
ResponderEliminarMuito pitoresco, muito pitoresco!
ResponderEliminarGostei, sobretudo, do banho do "bife"...
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