sexta-feira, 4 de julho de 2014

[0952] 39 anos depois, um tema para meditação

Praia de Bote dá os parabéns a todos os cabo-verdianos, pela passagem de mais um aniversário da sua independência e propõe tema para reflexão.


Tenho muitos familiares e amigos, cujas casas frequento e que vêm à minha. Porém, nunca nenhum, nem eu, dissemos uns aos outros, na hora de atravessarmos a porta dos mútuos lares: "Queres entrar? Pagaste a taxa? Mostra lá se tens visto!"

Mas se um meu irmão cabo-verdiano ou eu quisermos entrar em Portugal ou Cabo Verde, temos de desembolsar uma boa quantia, eufemisticamente dita "visto", coisa de miserável teor para quem tem no sangue tantos genes comuns. Resumindo, um reles e vergonhoso autocolante ou marca de carimbo no passaporte, para lá e cá os governos arrecadarem uns cobres...

Porque tenho eu de pagar um visto para entrar em Cabo Verde? Eu que da primeira vez que lá voltei até fui no aeroporto do Sal para a fila dos nacionais, esquecido de era estrangeiro? Porque tem um cabo-verdiano de fazer o mesmo quando aqui vem, àquele Portugal que é tão casa sua como a das suas ilhas? Raios, porquê? Mas porquê?

Aqueles rapazes engravatados da Praia e os seus correspondentes de São Bento, que se fartam de apregoar que somos irmãos (e somo-lo de facto), nunca mais acabam com esta aberração? Lembraram-se há pouco os da Praia de o fazer relativamente aos moçambicanos e vice-versa. É um princípio. Mas que diabo… para quando o mesmo entre a velha terra dos lusos e as ternas ilhas da morabeza? Para quando? Para quando? Mas, para quando?...

Vasco Martins - Canto das ilhas

Praia de Bote voltará por volta do dia 10, mais coisa, menos coisa, consoante os seus "deportados" (que já estão em franco andamento) avancem mesmo. Até lá, um braça e, nesta véspera de festa, um bom 5 de Julho. 

4 comentários:

  1. O Praia de Bote, na pessoa do seu editor, coloca uma questão pertinente: por que não eliminar essa taxa entre os países da CPLP? Fala-se de tanta coisa que nos une mas não ousam dar passos pequenos mas significativos. Os países não ficam mais ricos com essa taxa, mas tanto se preocupam com a burocracia que não conseguem descortinar o valor potencial e simbólico de pequenos gestos.

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  2. Caro Adriano,

    É que a burocracia é mais que burocrática... Um amigo e condiscípulo gileanista esteve há pouco em Lisboa, em tratamento. Devido às delongas próprias destas coisas de saúde, demorou-se mais que o previsto. Pois teve de tratar de renovar o maldito visto, para poder continuar entre nós. Aqui foi a nossa burocracia, mas se eu for para o Mindelo e me der lá um chilique que ali me mantenha mais que o determinado por suas excelências, acontece-me o mesmo. Isto, entre gente que fala português, entre gente que tem uma história mista, entre gente que, como eu disse no post, tem mais coisas comuns que outras que as separem. Perceber-se-ia a existência disto, entre Portugal e a Mongólia ou entre Cabo Verde e a Islândia... mas entre cabo-verdianos e portugueses?

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  3. De facto isto é uma aberração, concordo cosigo. E tratando-se
    que já temos a organização CPLP, o
    que se está à espera para justifi-
    cá-la com o que mais interessa: Mo-
    bolidade de pessoas a fim de nos
    humanizarmos como comunidade no ca-
    lor que nos caracteriza.
    Decizores, "não tenhais medo" e
    tomem a decisão, vamos festejar
    juntos todas as nossas festas e viver cada vez mais irmanados.

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  4. Amigo anónimo,
    Obrigado pela sua participação, mas da próxima, por favor, assine.
    Braça,
    Djack

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