Soldados do 369 de Infantaria voltam aos EUA (NY), vindos de França. Um deles pode ser João Rodrigues |
(...) A primeira notícia dava-o como passageiro desembarcado da escuna "Yukon" meses antes, a 10 de Julho de 1925. Informava A Alvorada que João Rodrigues, de 29 anos, ex-soldado da Grande Guerra fora detido no sábado anterior na estação policial, pelo inspector da imigração John Hagberg, para aguardar deportação no mesmo barco em que viera, o qual sairia daquele porto (New Bedford) assim que o tempo fosse propício. Dizia também o jornal: "O Rodrigues entrou neste país sem que o seu passaporte tenha sido devidamente visado. Foi preso em Providence e mandado para Boston às autoridades da imigração que o mandaram para esta cidade, a fim de embarcar no 'Yukon'. Serviu na França durante a guerra mundial, no exército americano, regressando a este país em Junho de 1919." O título de primeira página do Alvorada de 21 de Novembro dava alguma esperança, relativamente a um desfecho favorável do imbróglio: "O caso do João Rodrigues – É possível que seja revogada a ordem de deportação – Chegou a partir no 'Yukon' sendo trazido para terra pelas autoridades da imigração – Está agora em Boston, aguardando uma nova audiência do seu caso". Em notícia bastante desenvolvida, o periódico avançava mais alguns esclarecimentos sobre a figura do ex-militar. Rodrigues partira de Cabo Verde para os EUA em 1914, com cerca de 18 anos. Em Maio de 1918 foi mobilizado para o exército americano, a cerca de seis meses do final da guerra – situação que podia ter recusado, por ser estrangeiro. Fez a recruta em Devens e Upton e seguiu para França, integrado na Companhia F, do prestigiado e aguerrido Regimento 369 de afro-americanos e porto-riquenhos, Divisão 92. A 10 de Março do ano seguinte, era desmobilizado. Mas acontece que durante os meses em que serviu na Europa, em condições de fraca salubridade, contraiu reumatismo. Por isso resolve voltar a Cabo Verde a fim de recuperar a saúde, para onde parte a 3 de Novembro de 1920, no vapor "Roma", com licença de seis meses. E é então que tudo se complica. João Rodrigues não regressa aos States na data prevista, tendo alegado depois que não o fizera por se encontrar doente e não poder trabalhar para ganhar dinheiro com que pagar a viagem de regresso. Chegado a Providence, para além de ter sido acusado de não cumprir o prazo de torna-viagem, foi-lhe ainda assacado o facto de ser analfabeto. É que então, para um iletrado estrangeiro poder continuar no país tinha de ali residir cinco anos consecutivos e, saindo, retornar no prazo de seis meses. Ora Rodrigues, contando com o tempo que defendera os Estados Unidos na Europa, tinha bastante mais tempo de residência contínua no país. E se isso lhe era favorável, persistia contra si o seu analfabetismo e o prolongamento dos seis meses fora da pátria de adopção. (...)
É uma história curiosa cujo desfecho justo só poderia ser o cancelamento da expatriação.
ResponderEliminarOs cabo-verdianos participam na grande guerra num batalhão estrangeiro. Mas na Segunda Guerra Mundial em que Portugal manteve uma "certa"neutralidade, os cabo-verdianos participam nuim batalhão cabo-verdiano como se a anteceder ao nascimento da Naçao Caboverdiana. No sentido de reduzir a a emigraçao dos africanos foram criadas varias leis: em 1918 a proibir a emigraçao de pessoas de pele negra, depois de analafabetos e em 1924 introduziram o sistema de quotas onde os cabo-verdianos estavam quase excluidos. A reacçao a estas leis xenofebas constitui um dos grandes capitulos da luta de Eugénio Tavares em favor da emigraçao para a América assim como a condenaçao da emigraçao para as roças de São Tomé (ver Noli Tangere - A Voz de Cabo Verde)
ResponderEliminarEste assunto sempre me apaixonou e vou lendo o que puder mas não desafio ninguém quanto a falar Migração Cabo-verdiana, mormente o meu amigo Luiz que se dedicou ao assunto de tal forma que até "os contras" fogem dele ou dão-lhe louvores.
ResponderEliminarTanto uma coisa como outra denota a sua competência na matéria.
Pessoalmente, tenho uma prima (Rita Barbosa) filha do poeta homônimo que foi oficial no Exército americano, na Segunda Grande Guerra. Claro que ele foi (so) um deles.
A História deve estar prenhe destas histórias que, entre outros motivos que o Luis explicará melhor do que ninguém, avultará a especial vocação do cabo-verdiano para a aventura...Com maiores ou menores Happy Ends...
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