sábado, 9 de agosto de 2014

[1024] Esclarecimentos acerca dos esclarecimentos que já esclarecemos e voltamos a esclarecer para ficarem esclarecidos

1 - Na Praça Nova do Mindelo, ilha de São Vicente, há dois bustos: um de Luís de Camões, o vate; outro, de Sá da Bandeira o militar e político falecido em 1876 (este também era conhecido como "Sá Maneta", por  ter perdido um braço no Alto da Bandeira, Vila Nova de Gaia, Portugal, durante a guerra civil entre liberais e absolutistas).

2 - A Praça Nova chamou-se durante anos Praça Serpa Pinto (militar e governador de Cabo Verde que faleceu em 1900).

3 - O Pinto não era o Sá nem o Sá era o Pinto. Desconhecemos no entanto se haverá algum Pinto que nasceu perto de alguma Sé ou se no claustro de alguma Sé havia alguma capoeira com pintos...

Dados de novo os esclarecimentos que já esclarecemos e voltamos a esclarecer para ficarmos esclarecidos, retomemos o fio à meada e esclareçamos mais algumas coisas acerca dos bustos do Sá e do seu companheiro mais antigo, Luís, ambos erigidos na Praça Nova, a que foi de Serpa Pinto e onde estão ainda hoje o Sá e o Luís.

Leiamos uma passagem do romance "Entre duas bandeiras", do saudoso Teixeira de Sousa (ed. Publicações Europa-América, Mem Martins, 1994):

(...) Deixaram o Djunga a digerir o seu lanche  mais as suas piadas e meteram-se em direcção À Praça Nova.
No jardim da Praça Nova decorria uma algazarra dos demónios em volta do busto de Camões. Já só restava o plinto. A cabeça do vate havia sido arrancada e atirada para um canteiro. No pedestal lia-se: "Liberta o teu escravo Jau, seu escravocrata."
No outro extremo do jardim reunia-se outro magote em redor do Busto de Sá da Bandeira. O marechal também foi decapitado e baptizado postumamente de esclavagista, talvez por ter tido a ideia de abolir a escravatura, quando Ministro da Marinha e do Ultramar.
Gaudêncio não gostou do que viu. Palapinha ficou ouriçado de cólera. Isso não correspondia à verdade histórica. Camões fora um grande poeta e um grande patriota. Sá da Bandeira tinha sido um paladino da abolição da escravatura em África. Chegou mesmo a increpar os iconoclastas pela decapitação de duas figuras históricas. Coitado de Sá da Bandeira, que já havia perdido um braço e agora perdia a cabeça! (...)"

Nota final: Como os cabo-verdianos são inteligentes e sobretudo sábios, esta asneirada foi remetida para o passado e hoje ambos os bustos lá estão, nos mesmos sítios, porque o pessoal ilhéu percebeu que a História não se deve apagar. Em particular, quando um dos "bustados" foi grande artífice de uma das duas línguas que o povo das ilhas fala e ao outro deve o mesmo ter ficado livre da escravatura mais cedo que os seus iguais na maior parte do mundo.

Sá da Bandeira - Foto Joaquim Saial
Luís de Camões - Foto Joaquim Saial

4 comentários:

  1. Curiosamente, a foto que ilustra a entrada sobre o Sá Maneta na Wikipedia é do Xuaxo (nominha de Francisco Santos) e retrata o busto da Praça Nova. Ver em "Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo, Marquês de Sá da Bandeira" (Wikipedia)

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  2. Está explicado e muito bem explicado, Joaquim.
    Eu sempre soube que o busto era do Sá da Mandeira, e tanto que me lembro de, sentado num banco da Praça Nova, explicar, há uns anos, a uns sobrinhos, a grandeza do homem, do militar e do estadista que foi Sá da Bandeira. Isto porque eles ignoravam por completo quem foi essa figura histórica. Como expliquei em comentário anterior, foi um tio meu que me deu uma calapada quando, no dia do concurso, me disse que era o busto do Serpa Pinto. E como ele vai quase todos os dias à Praça e eu apenas quando raramente calha, admiti que a memória me tinha atraiçoado. Enfim, coisas... E assim perdi a possibilidade de arrecadar mais um raminho.

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  3. Agora ficamos todos esclarecidos pois as dúvidas pairavam no ar: dar a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus. Efectivamente a praça chamava-se Serpa Pinto e o busto é de Sa da Bandeira. Assunto arrumado graças ao Djack. Abraço
    José F Lopes

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  4. Ouvi tanta vez "o povo é quem mais ordena" que jà não posso mais mas, no caso da Praça não pode ser outra coisa: com ou sem os bustos dos ilustres ela foi e continua a ser Praça Nova. Como a Rua de Lisboa e a Rua do Telégrafo.

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