É estranho, não tem nada ar cabo-verdiano, mas pode ser verdadeiro, em termos documentais.
Começa por estar incompleto, pois um sujeito de aparência mais abastada (ou mais importante), sentado à esquerda, está cortado na imagem.
Há pelo menos uma mulher de seios desnudos, coisa que para esta altura (finais do século XIX ou início do XX) é desconhecida nos costumes das nossas ilhas.
Há um janota com os braços por cima dessa e de outra mulher, apontando a esta a objectiva do fotógrafo, o que não condiz nada com a condição de prisioneiro...
Vemos dois soldados (cipaios) entre as pessoas que constituem o grupo (o centarl, armado de espingarda), o que pelo contrário confere com a legenda do postal. Há mais dois objectos parecidos com espingardas, à esquerda e à direita (este seguro por um branco), mas podem ser apenas paus.
Em primeiro plano, duas figuras exibem objectos: o da esquerda talvez uma campânula de vidro; o outro, um animal que se terá mexido e ficado turvo na imagem (observam-se duas patas entre as pernas do homem). Atrás de ambos, um homem vestido à maneira muçulmana. Sentados, por cima da legenda, um branco e um negro parecem deslocados: talvez missionários?
As palhotas atrás não serão cabo-verdianas e todo o aparato de arvoredo remete para a Guiné ou outra colónia portuguesa.
Pensa aqui o Praia de Bote que das duas, uma: ou a cena se passa na Guiné, com intervenientes sujeitos de algum levantamento contra a autoridade colonial e depois aprisionados, ou então já eles estão como deportados algures em Cabo Verde onde lhes construiram (ou eles mesmos o fizeram) um campo à moda guineense, com cubatas lembradas das da terra.
De qualquer modo, não há dúvida, trata-se de um postal da London House (na são-vicentina Rua de Santo António, depois popularmente conhecida como de Matijim) de T. T. Ferreira (que por 1913 pertencia a João Joaquim Ferreira, podendo este "T. T." ser parente anterior ou posterior do "J. J."). Temos outros postais que o corroboram. Mas que gente é esta e acima disso, que história é esta, não o sabemos com segurança.
Como dizia aquele conterrâneo da Janela "o melhor é deixar de mangação".Isso nada tem a ver com Cabo Verde.
ResponderEliminarA ideia que tenho de pessoa mais andrajosa que vi (S.Vicente e Sto.Antão) é de uma muda que vivia no Albergue da Ribeirinha e vinha uma vez por semana pedir esmola. Era paupérrima, mal vestida, mas não mostrava os seios. Ela era uma preta bonita. Soube depois que teve dois ou três filhos que amamentou.
Inclino-me para que seja efectivamente a Guiné o cenário desta fotografia. O que basicamente distingue as gentes da Guiné das de Cabo Verde são os costumes cristãos e também os padrões de cultura mais europeus praticados no último.
ResponderEliminarIsto não é cabo Verde mormente S. Vicente. Uma fraude
ResponderEliminarAposto na Guiné face a algumas vestes de nítida inspiração muçulmana...
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