Era um tempo romântico, este de 1855. Em Portugal, Cristino da Silva pintava "Os cinco artistas em Sintra" rodeados de populares que observavam um escultor e quatro pintores em trabalho de desenho, com o recente Palácio da Pena idealizado pelo Rei D. Fernando de Saxe-Coburgo em fundo. Anunciação, mestre de todos em primeiro plano, Francisco Metrass atrás, à direita o escultor Vitor Bastos, o próprio Cristino em auto-retrato e José Rodrigues. Bucolismo, exibição de costumes, mas uma certa pobreza artística que o quadro não demonstra mas se sabe, de poucas encomendas ou aquisições de arte, algo colmatadas pela vontade do próprio Rei, homem culto e raro mecenas da época. Enfim, um Portugal ainda muito primitivo e agrícola onde a verdadeira revolução industrial demorava a chegar, com poucas verdadeiras cidades (quase grandes vilas) e um campo de pequenas propriedades a Norte e extensos latifúndios a Sul.
Em Cabo Verde, é o que sabemos: fomes sobre fomes, num território mais ou menos esquecido pelas autoridades do lado de cá do Atlântico e do povo europeu nacional que mais ouvia falar de Angola ou de São Tomé que das dez pequenas ilhas crioulas. E o milho, sempre o milho, como mola real da vida no arquipélago que por vezes, como neste caso do decreto de 31 de Dezembro de 1854 passou a ser por algum tempo livre de impostos, aquando da sua entrada em navios de qualquer nação. Uma gotinha de água em forma de cereal, para diminuir a fome que era "o pão nosso de cada dia" local - com notícia num dos mais importantes jornais da altura, o New York Times.
Tens razão, Djack, havia um traço comum entre os territórios - o da estagnação no tempo e o subdesenvolvimento. Algumas vezes me debrucei sobre esta "fatalidade" e, baseando-me na opinião de pessoas de saberes indiscutíveis, tenho para mim que os causadores de tudo foram a Igreja Católica, a Inquisição, com os seus atavismos, a expulsão dos judeus, uma monarquia obsoleta, a guerra civil que se travou quando a Revolução Industrial avançava na Europa, etc. Há quem aponte também a idiossincrasia nacional, mas fiquemos por aqui.
ResponderEliminarOs cataclismos passam por todo o lado mas em alguns lugares passam com mais frequência. Ê o nosso caso talvez devido a nossa Morabeza que nos impedia de fabricar mais de um Capitão Ambrosio. Hoje, não temos a Morabeza que se diluiu e mesmo assim não conseguimos ter outros capitães para nos libertar do jugo muitas vezes milenar.
ResponderEliminarAo ponto a que o marasmo chegou, um capitão já não chega... o que agora era necessário era um almirante cheio de genica e vontade de trabalhar por um Mindelo e por um São Vicente renovado.
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