domingo, 8 de fevereiro de 2015

[1351] Um mesmo tempo, um mesmo país, duas realidades algo diferentes... ou nem tanto

Era um tempo romântico, este de 1855. Em Portugal, Cristino da Silva pintava "Os cinco artistas em Sintra" rodeados de populares que observavam um escultor e quatro pintores em trabalho de desenho, com o recente Palácio da Pena idealizado pelo Rei D. Fernando de Saxe-Coburgo em fundo. Anunciação, mestre de todos em primeiro plano, Francisco Metrass atrás, à direita o escultor Vitor Bastos, o próprio Cristino em auto-retrato e José Rodrigues. Bucolismo, exibição de costumes, mas uma certa pobreza artística que o quadro não demonstra mas se sabe, de poucas encomendas ou aquisições de arte, algo colmatadas pela vontade do próprio Rei, homem culto e raro mecenas da época. Enfim, um Portugal ainda muito primitivo e agrícola onde a verdadeira revolução industrial demorava a chegar, com poucas verdadeiras cidades (quase grandes vilas) e um campo de pequenas propriedades a Norte e extensos latifúndios a Sul. 

Em Cabo Verde, é o que sabemos: fomes sobre fomes, num território mais ou menos esquecido pelas autoridades do lado de cá do Atlântico e do povo europeu nacional que mais ouvia falar de Angola ou de São Tomé que das dez pequenas ilhas crioulas. E o milho, sempre o milho, como mola real da vida no arquipélago que por vezes, como neste caso do decreto de 31 de Dezembro de 1854 passou a ser por algum tempo livre de impostos, aquando da sua entrada em navios de qualquer nação. Uma gotinha de água em forma de cereal, para diminuir a fome que era "o pão nosso de cada dia" local - com notícia num dos mais importantes jornais da altura, o New York Times.



3 comentários:

  1. Tens razão, Djack, havia um traço comum entre os territórios - o da estagnação no tempo e o subdesenvolvimento. Algumas vezes me debrucei sobre esta "fatalidade" e, baseando-me na opinião de pessoas de saberes indiscutíveis, tenho para mim que os causadores de tudo foram a Igreja Católica, a Inquisição, com os seus atavismos, a expulsão dos judeus, uma monarquia obsoleta, a guerra civil que se travou quando a Revolução Industrial avançava na Europa, etc. Há quem aponte também a idiossincrasia nacional, mas fiquemos por aqui.

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  2. Os cataclismos passam por todo o lado mas em alguns lugares passam com mais frequência. Ê o nosso caso talvez devido a nossa Morabeza que nos impedia de fabricar mais de um Capitão Ambrosio. Hoje, não temos a Morabeza que se diluiu e mesmo assim não conseguimos ter outros capitães para nos libertar do jugo muitas vezes milenar.

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  3. Ao ponto a que o marasmo chegou, um capitão já não chega... o que agora era necessário era um almirante cheio de genica e vontade de trabalhar por um Mindelo e por um São Vicente renovado.

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