1500 posts do Praia de Bote |
Acontece que a escola da Rua de Coco (no topo mais próximo da Praça do Dr. Regala) fechou por volta de meados do ano lectivo, devido a questões de saúde de uma familiar da nossa professora (e por via disso, dela própria também) e os alunos foram distribuídos por outros estabelecimentos de ensino. A mim e ao Daniel coube-nos a escolinha do Lombo, onde era professora a D. Mariazinha Brito, depois (nas últimas três largas décadas) moradora aqui muito perto de mim e falecida há uns dois anos.
Foi portanto assim que nos conhecemos e há dias o Daniel reatou o contacto comigo e mandou-me um texto que tenho todo o gosto de publicar como post 1500, homenagem ao meu amigo de infância, à D. Mariazinha que nessa parte do ano ainda nos deu muito bons ensinamentos e à figura que este artigo homenageia.
DANIEL DUARTE SILVA NA HISTÓRIA DO MAR (por Daniel Bartolomeu Gomes)
Ao longo de anos a percorrer os sete mares a conquistar posições de grandes méritos, sem dúvida, Daniel Duarte Silva, é um dos mais ilustres nomes cabo-verdianos destacados na História do Mar. Nascido em São Vicente de Cabo Verde, no dia 16 de Dezembro de 1895, sobrinho-neto do cientista cabo-verdiano Roberto Duarte Silva e com pai do mesmo nome e era filho da senhora Teresa Nobre Duarte Silva. A partir de 1910, começa estudos liceais em Coimbra, ingressando depois na Faculdade de Ciências, onde fez dois anos de preparatórios de Engenharia. Veio por essa altura para Lisboa, para o Instituto Superior Técnico. Só que, em Lisboa, foi mais forte a atracção pelo mar, tendo ingressado na Escola Naval, como aspirante, em 29 de Julho Começa o seu brilhante percurso: Guarda-Marinha (1919), 2º. Tenente – (1921), 1º. Tenente (1924) e Capitão-Tenente (1935).
Desde que em 1928 esteve nos Açores, no desempenho de uma comissão de estudos das condições geográficas, geológicas, e hidrográficas dos Ilhéus das Formigas o que lhe valeria o seu primeiro louvor pelo valioso auxílio prestado ao Director do Serviço Meteorológico daquele arquipélago, foi um nunca mais acabar de assinalados e prestimosos serviços, dos quais, como homem do mar, destacamos de modo especial os serviços prestados em Cabo Verde, entre os anos de (1927-31) e (1934-36).
A construção da sede da Capitania dos Portos de Cabo Verde (modelo Torre de Belém), inicia em Mindelo, a partir do ano de 1907. No ano de 1927, o Governo colonial português nomeia o 1º. Tenente da Marinha, Daniel Duarte Silva, Capitão dos Portos de Cabo Verde. Chega numa altura em que a colónia passa por situações difíceis, do ponto de vista económico: estiagem prolongada e falta de infra-estruturas de base que provoca o decrescimento de navios no Porto Grande, resultando daí falta de trabalho.
Nos anos trinta, a vida é difícil. De ano para ano a falta de trabalho aumenta por todo o arquipélago. Não há perspectiva de melhoramentos. Em Mindelo, as classes sociais, intelectuais, estivadores do Porto e outros, preocupados com a situação, reivindicam melhoramentos. O Movimento Bandeira Negra, liderado pelo Capitão Ambrósio, em protesto contra a fome sai à rua no dia 7 de Junho de 1934. Manuel Ribeiro de Almeida, impulsionador da indústria e comércio, como director, no jornal “Notícias de Cabo Verde”, em Mindelo, denunciava o Governo, por pouco ou nada fazer para melhorar a situação. O Movimento “Claridade” surgirá no ano de 1936.
Foi escolhido para se deslocar à Europa para comprar o navio rebocador de nome “Vinte e Oito de Maio”, para operar no Porto Grande e noutras ilhas do arquipélago.
O comodoro Daniel Duarte Silva, pelo valioso contributo prestado a Cabo Verde, e por mais de cinquenta anos ligado à Marinha, na qualidade de filho amado deste chão pátrio, é nome que merece ser destacado na galeria do Museu do Mar, inaugurado em Mindelo, no dia 16 de Abril de 2014. A cerimónia foi presidida por Sª Excelência Sr. Ministro da Cultura, Mário Lúcio Sousa e por Sª Excelência Sr. Presidente da Câmara Municipal de São Vicente, Dr. Augusto César Neves, acompanhado do Sr. Vereador Humberto Lélys e outras entidades.
Foi portanto assim que nos conhecemos e há dias o Daniel reatou o contacto comigo e mandou-me um texto que tenho todo o gosto de publicar como post 1500, homenagem ao meu amigo de infância, à D. Mariazinha que nessa parte do ano ainda nos deu muito bons ensinamentos e à figura que este artigo homenageia.
DANIEL DUARTE SILVA NA HISTÓRIA DO MAR (por Daniel Bartolomeu Gomes)
Daniel Duarte Silva - Foto Parlamento Portugal |
Desde que em 1928 esteve nos Açores, no desempenho de uma comissão de estudos das condições geográficas, geológicas, e hidrográficas dos Ilhéus das Formigas o que lhe valeria o seu primeiro louvor pelo valioso auxílio prestado ao Director do Serviço Meteorológico daquele arquipélago, foi um nunca mais acabar de assinalados e prestimosos serviços, dos quais, como homem do mar, destacamos de modo especial os serviços prestados em Cabo Verde, entre os anos de (1927-31) e (1934-36).
A construção da sede da Capitania dos Portos de Cabo Verde (modelo Torre de Belém), inicia em Mindelo, a partir do ano de 1907. No ano de 1927, o Governo colonial português nomeia o 1º. Tenente da Marinha, Daniel Duarte Silva, Capitão dos Portos de Cabo Verde. Chega numa altura em que a colónia passa por situações difíceis, do ponto de vista económico: estiagem prolongada e falta de infra-estruturas de base que provoca o decrescimento de navios no Porto Grande, resultando daí falta de trabalho.
Nos anos trinta, a vida é difícil. De ano para ano a falta de trabalho aumenta por todo o arquipélago. Não há perspectiva de melhoramentos. Em Mindelo, as classes sociais, intelectuais, estivadores do Porto e outros, preocupados com a situação, reivindicam melhoramentos. O Movimento Bandeira Negra, liderado pelo Capitão Ambrósio, em protesto contra a fome sai à rua no dia 7 de Junho de 1934. Manuel Ribeiro de Almeida, impulsionador da indústria e comércio, como director, no jornal “Notícias de Cabo Verde”, em Mindelo, denunciava o Governo, por pouco ou nada fazer para melhorar a situação. O Movimento “Claridade” surgirá no ano de 1936.
O "28 de Maio" - Foto Arquivo Valdemar Pereira |
O comodoro Daniel Duarte Silva, pelo valioso contributo prestado a Cabo Verde, e por mais de cinquenta anos ligado à Marinha, na qualidade de filho amado deste chão pátrio, é nome que merece ser destacado na galeria do Museu do Mar, inaugurado em Mindelo, no dia 16 de Abril de 2014. A cerimónia foi presidida por Sª Excelência Sr. Ministro da Cultura, Mário Lúcio Sousa e por Sª Excelência Sr. Presidente da Câmara Municipal de São Vicente, Dr. Augusto César Neves, acompanhado do Sr. Vereador Humberto Lélys e outras entidades.
Daniel Gomes
Fontes: Arquivo da Câmara Municipal de São Vicente
e Arquivo Histórico Nacional
ADENDA DO "PRAIA DE BOTE" SOBRE DANIEL DUARTE SILVA, COPIADA DA SUA BIOGRAFIA NO PARLAMENTO DE PORTUGAL
Data de nascimento
1895-12-16.
Localidade
S. Vicente / Cabo Verde.
Habilitações literárias
Curso da Marinha Militar.
Profissão
Oficial da Armada;
Administrador de empresas.
Carreira profissional
Oficial general da Armada, onde atingiu o posto de Comodoro;
Comandante da Escola Naval;
Comandante do Corpo de Marinheiros da Armada;
Presidente do Conselho de Administração da Companhia Portuguesa de Pesca;
Presidente do Conselho de Administração da Docapesca.
Carreira político-administrativa
Vogal da Comissão Central de Pescarias;
1922-1924 – Ajudante-às-ordens do Ministro da Marinha;
1924-1926 – Ajudante-de-campo do Alto-Comissário de Moçambique;
1927-1931e 1934-1936 – Capitão dos Portos de Cabo Verde;
1936-1938 - Ajudante-de-campo do Ministro da Marinha;
1941-1942 – Vice-presidente da Comissão Administrativa do Fundo de Fomento de Angola;
1941-1944 - Chefe do Departamento Marítimo de Angola;
1942 – Chefe de Gabinete do Governador-Geral de Angola;
Director do Instituto Português de Conservas de Peixe;
Delegado do Governo junto do Grémio dos Armadores de Pesca do Arrasto, de cujo Conselho Geral veio
a ser Presidente e em cuja qualidade integrou a Câmara Corporativa, pela indústria (VI Legislatura);
Presidente da Corporação da Pesca e Conservas, mantendo, por inerência do cargo, as funções de
Procurador (VIII Legislatura); nas IX e X Legislaturas, voltou a ser designado na qualidade do já referido
grémio; na última legislatura a sua permanência na Câmara Corporativa resultou da sua qualidade de
ex-Presidente da Corporação da Pesca e Conservas.
Carreira parlamentar
Legislaturas Secções
VII IV − Pesca e conservas (1.ª Subsecção – Pesca).
VIII VI − Pesca e Conservas (1.ª Subsecção – Pesca; 2.ª Subsecção − Conservas de Peixe).
IX VI − Pesca e conservas (1.ª Subsecção – Pesca).
X VI − Pesca e conservas (1.ª Subsecção – Pesca).
XI VI – Pesca e conservas (1.ª Subsecção – Pesca; 2.ª Subsecção − Conservas de peixe).
Pareceres subscritos/relatados [Total: 5]
VII Legislatura (1957-1961) [1]
3/VII – Projecto do II Plano de Fomento (1959-1964) METRÓPOLE – ANEXO II – Pesca Indústrias extractivas e transformadoras.
VIII Legislatura (1961-1965) [1]
18/VIII – Projecto de Plano Intercalar de Fomento para 1965-1967 (Continente e ilhas).
IX Legislatura (1965-1969) [2]
3/IX – Mar territorial e zona contígua.
9/IX – Projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973 − Continente e ilhas – ANEXO III – Pesca.
X Legislatura (1969-1973) [1]
56/X – Projecto do IV Plano de Fomento para 1974-1979 (Continente e Ilhas) – ANEXO V – Pesca.
XI Legislatura (1973-1974)
Não subscreveu ou relatou qualquer parecer.
Com. Daniel Duarte Silva um dos mais ilustres filhos de Cabo Verde onde exerceu durante alguns anos ao esmo tempo que os seus irmãos Raul (Capitão do Exército, Administrador do Conselho) e Adriano Duarte Silva (Advogado e Reitor da Liceu).
ResponderEliminarP.S. - Queria rectificar uma nota que não saiu bem por falta de esclarecimento: - A foto do Sporting pertence ao arquivo de Muchim Faria e foi-me cedida (atravez do Prof. Brito Semedo) para que eu a agendasse. E não foi dificil porque, entre os componentes da duas equipas, apenas dois elementos não foram identificados.
Agradecimentos então também ao B-S por esta foto que tem muito que contar, embora se refira a equipa efémera mas que ainda assim ficou para a história do desporto são-vicentino.
EliminarBraça futebolística,
Djack
E já está feito o esclarecimento na legenda da figura.
EliminarSaúdo, de forma efusiva, o post 1500 do PdB, na pessoa do seu ilustre administrador...Simultâneamente, a escolha do tema para a comemoração não podia ser mais feliz...Creio nunca ser demais trazer à luz dos holofotes da informação a vida e a obra de cabo-verdianos ilustres que, por motivos que um dia alguém esclacerá, foram votados ao ostracismo pelo regime da Pátria que ajudaram a construír
ResponderEliminarBraça festivo
Zito...
Um post 1500 merecia de facto material suculento e verdadeiramente mindelense. Escrito por um mindelense, ilustrado com ajuda fotográfica de um mindelense, referente a um mindelense e colocado no ar por um quase mindelense. Que mais se poderia desejar, para um post 1500?
EliminarBraça mil-quinhentista,
Djack
Já agora, um esclarecimento acerca da cor escura (azul) do boné do comodoro. É que a Armada tinha como norma a obrigatoriedade de uso de bonés de cor azul escura durante o período de outono/inverno e brancos durante a primavera/verão (sensivelmente metade do ano para cada cor), para oficiais, sargentos e praças. Talvez lá pelos anos 50 essa obrigatoriedade terminou e passou a usar-se boné de cor branca durante todo o ano, mantendo-se a mesma para o uso das fardas.
ResponderEliminarPara as ordenanças e para todos os elementos em altura de parada (inclusive a Banda da Armada) ainda hoje se usa por vezes o vestuário cimeiro em azul e as calças em branco.
Braça azul e branca,
Djack
Mais um ilustre Duarte Silva com obra feita em CV e um ilustre Currículo
ResponderEliminarAproveito para pedir desculpas por "águas passadas"...
ResponderEliminarSe me é permitido e bem da verdade que, julgo, histórica, a Capitania de Soncente " Torre de Belem" , começou a ser idealizada no pós IGM ( 1922) sendo que o último tijolo foi posto em 1937 ... Por acaso, pelo mesmo arquitecto que edificou os CTT ( Liceu Gil Eanes).
Predou-se-me a intromissão.
Mantenhas
É claro que sim. Estávamos a par destes dados que surgem no romance "Capitania". A data de início tem sido um pouco nebulosa para nós (que, algures, lemos como situada entre 1918 e 1921). Nesta coisa de edifícios, por vezes mistura-se a data do projecto com a da sua aprovação e com a do início de obras, o que dá enormes confusões. Mas parece certo que a história da Torre de Belém mindelense começa na realidade nesta charneira entre os últimos anos 10 e os primeiros anos 20 (1921 ou 1922).
EliminarO nosso amigo autor do texto permitiu-nos algumas emendas mas esta passou em branco, com a pressa da publicação.
Aqui vai o texto de "Capitania" (1999):
"(…) A parte baixa da Capitania, dita de anexos, exterior à parte nobre do conjunto, fora concluída em 1937; a torre, porém, era anterior, edificada entre 1918 e 21, e por isso, sem que tivesse havido restauros desde então, já nela algumas mazelas se iam fazendo sentir, com uma ou outra fissura que começava a despontar na cobertura de cimento das paredes, moldadas em simulacro de aparelho regular. O seu estilo neomanuelino grosseiro impunha-se, apesar de tudo, pela volumetria e forma invulgar, insólita naquelas paragens. A torre desenvolvia-se em quatro pisos, cada um com função distinta: (…)"