segunda-feira, 11 de maio de 2015

[1500] Post 1500 comemora-se condignamente com artigo do nosso amigo Daniel Bartolomeu Gomes e fotos do Arquivo Valdemar Pereira sobre Daniel Duarte Silva

1500 posts do Praia de Bote
Quando o passado vale a pena, quase inevitavelmente ele volta ao presente para se continuar como futuro. É este o caso do reaparecimento do Daniel Bartolomeu Gomes nosso colega da escola da 4.ª classe (Rua de Coco e Rua do Sol, no Lombo), no já distante ano lectivo de 1962-63.

Acontece que a escola da Rua de Coco (no topo mais próximo da Praça do Dr. Regala) fechou por volta de meados do ano lectivo, devido a questões de saúde de uma familiar da nossa professora (e por via disso, dela própria também) e os alunos foram distribuídos por outros estabelecimentos de ensino. A mim e ao Daniel coube-nos a escolinha do Lombo, onde era professora a D. Mariazinha Brito, depois (nas últimas três largas décadas) moradora aqui muito perto de mim e falecida há uns dois anos.

Foi portanto assim que nos conhecemos e há dias o Daniel reatou o contacto comigo e mandou-me um texto que tenho todo o gosto de publicar como post 1500, homenagem ao meu amigo de infância, à D. Mariazinha que nessa parte do ano ainda nos deu muito bons ensinamentos e à figura que este artigo homenageia.

DANIEL DUARTE SILVA NA HISTÓRIA DO MAR (por Daniel Bartolomeu Gomes)

Daniel Duarte Silva - Foto Parlamento Portugal
Ao longo de anos a percorrer os sete mares a conquistar posições de grandes méritos, sem dúvida, Daniel Duarte Silva, é um dos mais ilustres nomes cabo-verdianos destacados na História do Mar. Nascido em São Vicente de Cabo Verde, no dia 16 de Dezembro de 1895, sobrinho-neto do cientista cabo-verdiano Roberto Duarte Silva e com pai do mesmo nome e era filho da senhora Teresa Nobre Duarte Silva. A partir de 1910, começa estudos liceais em Coimbra, ingressando depois na Faculdade de Ciências, onde fez dois anos de preparatórios de Engenharia. Veio por essa altura para Lisboa, para o Instituto Superior Técnico. Só que, em Lisboa, foi mais forte a atracção pelo mar, tendo ingressado na Escola Naval, como aspirante, em 29 de Julho Começa o seu brilhante percurso: Guarda-Marinha (1919), 2º. Tenente – (1921), 1º. Tenente (1924) e Capitão-Tenente (1935).

Desde que em 1928 esteve nos Açores, no desempenho de uma comissão de estudos das condições geográficas, geológicas, e hidrográficas dos Ilhéus das Formigas o que lhe valeria o seu primeiro louvor pelo valioso auxílio prestado ao Director do Serviço Meteorológico daquele arquipélago, foi um nunca mais acabar de assinalados e prestimosos serviços, dos quais, como homem do mar, destacamos de modo especial os serviços prestados em Cabo Verde, entre os anos de (1927-31) e (1934-36).

A construção da sede da Capitania dos Portos de Cabo Verde (modelo Torre de Belém), inicia em Mindelo, a partir do ano de 1907. No ano de 1927, o Governo colonial português nomeia o 1º. Tenente da Marinha, Daniel Duarte Silva, Capitão dos Portos de Cabo Verde. Chega numa altura em que a colónia passa por situações difíceis, do ponto de vista económico: estiagem prolongada e falta de infra-estruturas de base que provoca o decrescimento de navios no Porto Grande, resultando daí falta de trabalho.

Nos anos trinta, a vida é difícil. De ano para ano a falta de trabalho aumenta por todo o arquipélago. Não há perspectiva de melhoramentos. Em Mindelo, as classes sociais, intelectuais, estivadores do Porto e outros, preocupados com a situação, reivindicam melhoramentos. O Movimento Bandeira Negra, liderado pelo Capitão Ambrósio, em protesto contra a fome sai à rua no dia 7 de Junho de 1934. Manuel Ribeiro de Almeida, impulsionador da indústria e comércio, como director, no jornal “Notícias de Cabo Verde”, em Mindelo, denunciava o Governo, por pouco ou nada fazer para melhorar a situação. O Movimento “Claridade” surgirá no ano de 1936.

A efémera equipa do Sporting de São Vicente - Foto Arquivo Valdemar Pereira (ver comentário que VP entretanto colocou e esclarece a propriedade desta foto). Em baixo, à direita, o Dádá, marinheiro mais velho da Capitania em 1962, que conheci muito bem (eu, Djack e decerto o autor do texto), grande e inesquecível amigo
Daniel Duarte Silva, para além de ser Comandante dos Portos de Cabo Verde, desempenha diversos cargos em Mindelo, tais como: os de Presidente da Câmara Municipal de São Vicente e reitor do Liceu Infante D. Henrique. Deu um grande incremento ao desporto, tendo fundado o Sporting Clube de São Vicente, em 14 de Maio de 1928. Foi Presidente do Clube Mindelo e era sócio Honorário do Clube Sportivo Mindelense. Impulsionou o remo, atletismo, (peso, disco e dardo), ténis e futebol.

O "28 de Maio" - Foto Arquivo Valdemar Pereira
Foi escolhido para se deslocar à Europa para comprar o navio rebocador de nome “Vinte e Oito de Maio”, para operar no Porto Grande e noutras ilhas do arquipélago.

O comodoro Daniel Duarte Silva, pelo valioso contributo prestado a Cabo Verde, e por mais de cinquenta anos ligado à Marinha, na qualidade de filho amado deste chão pátrio, é nome que merece ser destacado na galeria do Museu do Mar, inaugurado em Mindelo, no dia 16 de Abril de 2014. A cerimónia foi presidida por Sª Excelência Sr. Ministro da Cultura, Mário Lúcio Sousa e por Sª Excelência Sr. Presidente da Câmara Municipal de São Vicente, Dr. Augusto César Neves, acompanhado do Sr. Vereador Humberto Lélys e outras entidades.

Daniel Gomes

Fontes: Arquivo da Câmara Municipal de São Vicente 
e Arquivo Histórico Nacional

ADENDA DO "PRAIA DE BOTE" SOBRE DANIEL DUARTE SILVA, COPIADA DA SUA BIOGRAFIA NO PARLAMENTO DE PORTUGAL

Data de nascimento
1895-12-16.

Localidade
 S. Vicente / Cabo Verde.

Habilitações literárias
 Curso da Marinha Militar.

Profissão
 Oficial da Armada;
 Administrador de empresas.

Carreira profissional
 Oficial general da Armada, onde atingiu o posto de Comodoro;
 Comandante da Escola Naval;
 Comandante do Corpo de Marinheiros da Armada;
 Presidente do Conselho de Administração da Companhia Portuguesa de Pesca;
 Presidente do Conselho de Administração da Docapesca.

Carreira político-administrativa
 Vogal da Comissão Central de Pescarias;
 1922-1924 – Ajudante-às-ordens do Ministro da Marinha;
 1924-1926 – Ajudante-de-campo do Alto-Comissário de Moçambique;
 1927-1931e 1934-1936 – Capitão dos Portos de Cabo Verde;
 1936-1938 - Ajudante-de-campo do Ministro da Marinha;
 1941-1942 – Vice-presidente da Comissão Administrativa do Fundo de Fomento de Angola;
 1941-1944 - Chefe do Departamento Marítimo de Angola;
 1942 – Chefe de Gabinete do Governador-Geral de Angola;
 Director do Instituto Português de Conservas de Peixe;
 Delegado do Governo junto do Grémio dos Armadores de Pesca do Arrasto, de cujo Conselho Geral veio
a ser Presidente e em cuja qualidade integrou a Câmara Corporativa, pela indústria (VI Legislatura);
 Presidente da Corporação da Pesca e Conservas, mantendo, por inerência do cargo, as funções de
Procurador (VIII Legislatura); nas IX e X Legislaturas, voltou a ser designado na qualidade do já referido
grémio; na última legislatura a sua permanência na Câmara Corporativa resultou da sua qualidade de
ex-Presidente da Corporação da Pesca e Conservas.

Carreira parlamentar
Legislaturas Secções
VII IV − Pesca e conservas (1.ª Subsecção – Pesca).
VIII VI − Pesca e Conservas (1.ª Subsecção – Pesca; 2.ª Subsecção − Conservas de Peixe).
IX VI − Pesca e conservas (1.ª Subsecção – Pesca).
X VI − Pesca e conservas (1.ª Subsecção – Pesca).
XI VI – Pesca e conservas (1.ª Subsecção – Pesca; 2.ª Subsecção − Conservas de peixe).
Pareceres subscritos/relatados [Total: 5]

VII Legislatura (1957-1961) [1]
 3/VII – Projecto do II Plano de Fomento (1959-1964) METRÓPOLE – ANEXO II – Pesca Indústrias extractivas e transformadoras.

VIII Legislatura (1961-1965) [1]
 18/VIII – Projecto de Plano Intercalar de Fomento para 1965-1967 (Continente e ilhas).

IX Legislatura (1965-1969) [2]
 3/IX – Mar territorial e zona contígua. 
 9/IX – Projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973 − Continente e ilhas – ANEXO III – Pesca.

X Legislatura (1969-1973) [1]
 56/X – Projecto do IV Plano de Fomento para 1974-1979 (Continente e Ilhas) – ANEXO V – Pesca.

XI Legislatura (1973-1974)
Não subscreveu ou relatou qualquer parecer. 

9 comentários:

  1. Com. Daniel Duarte Silva um dos mais ilustres filhos de Cabo Verde onde exerceu durante alguns anos ao esmo tempo que os seus irmãos Raul (Capitão do Exército, Administrador do Conselho) e Adriano Duarte Silva (Advogado e Reitor da Liceu).

    P.S. - Queria rectificar uma nota que não saiu bem por falta de esclarecimento: - A foto do Sporting pertence ao arquivo de Muchim Faria e foi-me cedida (atravez do Prof. Brito Semedo) para que eu a agendasse. E não foi dificil porque, entre os componentes da duas equipas, apenas dois elementos não foram identificados.

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    1. Agradecimentos então também ao B-S por esta foto que tem muito que contar, embora se refira a equipa efémera mas que ainda assim ficou para a história do desporto são-vicentino.

      Braça futebolística,
      Djack

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    2. E já está feito o esclarecimento na legenda da figura.

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  2. Saúdo, de forma efusiva, o post 1500 do PdB, na pessoa do seu ilustre administrador...Simultâneamente, a escolha do tema para a comemoração não podia ser mais feliz...Creio nunca ser demais trazer à luz dos holofotes da informação a vida e a obra de cabo-verdianos ilustres que, por motivos que um dia alguém esclacerá, foram votados ao ostracismo pelo regime da Pátria que ajudaram a construír
    Braça festivo
    Zito...

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    1. Um post 1500 merecia de facto material suculento e verdadeiramente mindelense. Escrito por um mindelense, ilustrado com ajuda fotográfica de um mindelense, referente a um mindelense e colocado no ar por um quase mindelense. Que mais se poderia desejar, para um post 1500?

      Braça mil-quinhentista,
      Djack

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  3. Já agora, um esclarecimento acerca da cor escura (azul) do boné do comodoro. É que a Armada tinha como norma a obrigatoriedade de uso de bonés de cor azul escura durante o período de outono/inverno e brancos durante a primavera/verão (sensivelmente metade do ano para cada cor), para oficiais, sargentos e praças. Talvez lá pelos anos 50 essa obrigatoriedade terminou e passou a usar-se boné de cor branca durante todo o ano, mantendo-se a mesma para o uso das fardas.

    Para as ordenanças e para todos os elementos em altura de parada (inclusive a Banda da Armada) ainda hoje se usa por vezes o vestuário cimeiro em azul e as calças em branco.

    Braça azul e branca,
    Djack

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  4. Mais um ilustre Duarte Silva com obra feita em CV e um ilustre Currículo

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  5. Aproveito para pedir desculpas por "águas passadas"...
    Se me é permitido e bem da verdade que, julgo, histórica, a Capitania de Soncente " Torre de Belem" , começou a ser idealizada no pós IGM ( 1922) sendo que o último tijolo foi posto em 1937 ... Por acaso, pelo mesmo arquitecto que edificou os CTT ( Liceu Gil Eanes).

    Predou-se-me a intromissão.

    Mantenhas

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    1. É claro que sim. Estávamos a par destes dados que surgem no romance "Capitania". A data de início tem sido um pouco nebulosa para nós (que, algures, lemos como situada entre 1918 e 1921). Nesta coisa de edifícios, por vezes mistura-se a data do projecto com a da sua aprovação e com a do início de obras, o que dá enormes confusões. Mas parece certo que a história da Torre de Belém mindelense começa na realidade nesta charneira entre os últimos anos 10 e os primeiros anos 20 (1921 ou 1922).

      O nosso amigo autor do texto permitiu-nos algumas emendas mas esta passou em branco, com a pressa da publicação.

      Aqui vai o texto de "Capitania" (1999):

      "(…) A parte baixa da Capitania, dita de anexos, exterior à parte nobre do conjunto, fora concluída em 1937; a torre, porém, era anterior, edificada entre 1918 e 21, e por isso, sem que tivesse havido restauros desde então, já nela algumas mazelas se iam fazendo sentir, com uma ou outra fissura que começava a despontar na cobertura de cimento das paredes, moldadas em simulacro de aparelho regular. O seu estilo neomanuelino grosseiro impunha-se, apesar de tudo, pela volumetria e forma invulgar, insólita naquelas paragens. A torre desenvolvia-se em quatro pisos, cada um com função distinta: (…)"

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