terça-feira, 15 de março de 2016

[2024] Grogue de barril...

A história do grogue e da garrafa que o contém data de há uma remessa de anos. Não sei bem se a coisa aconteceu em 1999 se em 2002, num dos meus dois regressos à ilha de São Vicente mas inclino-me mais para a segunda possibilidade. Seja como for, consubstancia dádiva do Germano Almeida que tinha lá em casa o barrilim que alguém lhe oferecera e me encheu com o precioso líquido uma garrafa que fora de vinho do Porto da marca Poças, com rótulo pintado, de 1983.

O grogue tem sido bebido por mim com parcimónia (coisa rara é de estimar, claro). Realmente, uma vez por outra, lá marcha um cálice, esteja eu sozinho ou quando surge companhia que o mereça. Acontece, porém, que o nível do grogue parece nunca diminuir ou diminuir pouco. Uma dessas provas teve lugar com o Alfredo Tinoco, colega e amigo de muitos anos (e tão dedicado à Guiné como eu a Cabo Verde). Por altura da morte deste em 2010, o momento libatório acabou no livro "In Memoriam", que pouco depois organizei. O texto, significativamente intitulado "Grogue" (um dos onze que escrevi no dito memorial), aqui fica, curto e sentido. Para que se enquadre melhor o texto, cabe dizer que lhe dei centenas de boleias no meu automóvel, porque ele não conduzia e também que só desta vez grogal estivemos juntos na minha casa, apesar de um convívio quase diário (ou por causa disso) de cerca de 25 anos.

De modo que o grogue cabo-verdiano metido em garrafa portuguesa tem sido para mim uma das melhores maneiras de homenagear a amizade entre ambos os povos e tanto cá em casa como em saídas de almoçaradas alheias para as quais sou convidado (onde haja cachupa) lá tem ido a bendita garrafa atrás – que volta sempre mais vazia mas inexplicavelmente pouco mais vazia. Ontem, pelo menos umas oito pessoas beberam parte do que ela continha (umas servi-as eu mas outras serviram-se a si próprias, sem restrições) e quando olhei para o nível não notei diferença significativa. Não percebo este mistério, pois passados estes anos ainda lá está cerca de metade do que no início havia, talvez um pouco menos. Ou seja, por este andar, terei grogue (e os meus amigos também) até ao dia em que por via das maravilhas da geologia as dez ilhas de Cabo Verde se juntarem numa só…


1 comentário:

  1. Djack, já sei porque é que se esse grogue se mantém estacionário, por mais que se beba da garrafa. É uma espécie de milagre de multiplicação, em que Nosso Senhor Jesus Cristo se faz presente para salvar a honra e o prestígio do bom grogue. Ora, Nosso Senhor tem conhecimento da muita “matchona” que há hoje em dia em Cabo Verde. E então Ele decidiu que, sempre que houver cabo-verdianos de boa vontade à volta dessa garrafa, o nível será reconstituído.
    Mais, Ele tem conhecimento de que o Djosa de nha Bia anda a dar má imagem ao bom grogue, não só embriagando-se constantemente com “matchona”como traficando garrafões dessa mistela por todo o lado. Ele está a pensar em pôr o gajo de quarentena por toda a eternidade, porque lhe chegou aos ouvidos que o Djosa disse que mesmo no outro mundo vai continuar a tomar o seu caco de manhã à noite.

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