sábado, 2 de abril de 2016

[2095] Mindelo é sabe, sabim, ca é dvera?

O N.R.P. Fogo (foto do site da Armada portuguesa)
A história é curta, mas muito saborosa e assaz significativa, retirada do meu arquivo cabo-verdiano, o qual já deu outras boas pérolas ao Pd'B. O protagonista é um segundo-sargento da Armada, já na altura em que a stóra se passa amigo e colega de muitos anos do meu pai (se não estou em erro, estiveram ambos ao mesmo tempo na antiga "Sagres") e vizinho nosso da Cova da Piedade. Ali residia com a esposa e uma filha um pouco mais velha que eu, curiosamente, em casa mesmo ao lado da escola primária que frequentei até à data de partida para São Vicente. 

Um dia, o patrulha "Fogo" (ver AQUI), de cuja guarnição fazia parte, passou por São Vicente e ali ficou uma temporada, estávamos nós no Mindelo há pouco mais de dois meses. Lembro-me bem de ele ter ido algumas vezes almoçar e jantar a nossa casa, de outras em que fui com o meu pai a bordo fazer o mesmo com ele, de grandes passeatas pela ilha e de inúmeras voltas à Praça Nova... E como era pessoa comunicativa, fez intensa vida de Mindelo, convivendo com as gentes e fazendo amigos. 

O N.R.P. Fogo, em imagem do blogue "Pelos confins do Mundo"
O resto da história está neste aerograma de Boas Festas que pouco após ter partido endereçou ao meu pai, com pedido que este obviamente concretizou. Quanto à frase "um tipo aí desses da Capitania", não tem nada de desprestigiante nem para ele nem para eles, como se pode ver pela solicitação que fez. É jargão de militar, apenas. Excelente pessoa, já não está entre nós, mas aqui fica esta sua memória, sem nome, como se impõe, em geral, nestes casos internéticos. Ampliei a parte onde está o texto, para facilidade de leitura. Se clicar nas imagens, poderá vê-las ainda mais ampliadas, como sempre acontece quando se faz isso. Fica também a "Xandinha", num vídeo cujas imagens estão deslocadas mas que serve para se ouvir a grande morna, uma das mais estimadas de Cabo Verde. Não é o Zito a pôr o disco mas vamos imaginar que sim...





 

6 comentários:

  1. Um gesto de simpática lembrança do nosso militar e que só vem reforçar a ideia que o povo de S. Vicente granjeou de bem receber o forasteiro que visitava a sua ilha. Aliás, é minha opinião, que as duas ilhas que mais bem-recebem ou, recebiam são exactamente S. Vicente e Brava.

    Abraços

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  2. Joaquim, este é um post cinco estrelas, por razões que são muito óbvias. Vê-se que este militar da marinha era um homem sensível e agradecido a quem o tratava bem. Esta evocação vem lembrar-nos que o povo das ilhas, sobretudo a nossa, sabia receber e que os laços entre o povo das ilhas e o povo da metrópole não eram produto do acaso. Foram tecidos pela História e por um passado comum que jamais se poderá apagar ou esquecer. Emociono-me ao frisar isto.
    O aerograma vem também trazer-me saudades dos tempos que já lá vão em que foram portadoras das minhas notícias para familiares e amigos em Cabo Verde e em Portugal. E até para outras paragens. É fantástico, Djack, como conseguiste preservar estas peças do afecto humano. Um abraço de reconhecimento.

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    1. É de facto um belo post, porque o conteúdo é bom. Quanto ao guardar estes materiais, foi coisa da família toda. Nada do que veio de Cabo Verde foi deitado ao lixo e assim continuará. Sorte a do Praia de Bote, que pode contar com eles. E há mais coisas interessantes, que a seu tempo aparecerão.

      Braça mindelense,
      Djack

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  3. Faltou-me dizer que esta morna é esplêndida e nos põe as emoções ao rubro. É realmente das minhas preferidas.

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  4. A morna bem cantada com uma maravilhosa voz tal como a da Cesária é mesmo um tónico à alma. Nostalgia de CV dos bons tempos de inocência

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  5. Pois é, meu caro: não é por acaso que a "morabeza" é uma coisa séria e não, apenas, um atractivo turístico... O que, agora, é necessário saber é se ainda é o que era ou sofreu a erosão de tantos a anos de desassossego social...
    Braça morabe
    Zito

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