sábado, 22 de outubro de 2016

[2681] Histórias de "Copa", um cão marinheiro

Manuel Amante da Rosa
Na minhas andanças pelas ilhas e no regresso de S. Nicolau para o porto Grande a bordo do "Ribeira de Paúl", antigo "Arca Verde I", numa jornada de 5 horas e vinte e cinco minutos, vi que o cozinheiro chamava este cão para dentro, para a cozinha, que ali permanecia impávido,  junto do portaló, apesar dos muitos passageiros que atarefados se dirigiam para a casa do leme, tendo que se desviar dele.

O "Copa", foto MARosa
Entendi a preocupação do cozinheiro de bordo para com esse animal e perguntei-lhe o porquê. Na Guiné quase todas as lanchas e embarcações tinham um cachorro que aguentava mar melhor que muitos marinheiros veteranos.

Lá me explicou o bom do homem que o "Copa" era um vadio. Tinha namorada em quase todos os portos onde iam. Até no Sal, porto de Palmeira, onde havia uma cadela que o aguardava alegremente no cais. Que o "Copa" mal colocavam o portaló era o primeiro a descer por ele.
Calhava ficar por Palmeira, apanhar boleia num outro navio, desembarcar no porto de Mindelo e ir para casa a bordo do "Ribeira de Paúl".

Que mesmo ali no porto de Tarrafal, de S. Nicolau, ele tinha descido logo de manhãzinha e voltara à hora da partida mais morto que vivo. Que não sabia o que ele andava a fazer em cada porto para onde iam.

Que episódio bonito este. Ficará para mais tarde passar isto para uma prosa mais consistente à altura do "Copa".
O "Ribeira de Paul", barco que o Pd'B conheceu em viagem de 1999 entre São Vicente e Santo Antão. Foto MARosa
Local: adivinhe o leitor. Foto MARosa

4 comentários:

  1. Cachorro danado, este! Com quem terá ele apreendido estas "artes" de marujo?!

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  2. Djack, quem é o autor do texto? É o Amante Rosa ou é o director do blogue? Está omisso, mas deduzo que é o Amante Rosa. O texto é interessante e mostra que o nosso amigo Amante Rosa, caso seja ele o autor, como suponho, tem muito para contar acerca das lides marítimas.

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  3. Caro Adriano, esta ocorrência sobre o Copa saiu ao correr da pena e logo enviada ao Djack. Foi uma viagem tranquila apesar do mar algo cavado. Até direito a um lauto almoço (ensopado de caldeirada de galinha, com batatas, caril (?) e arroz solto al dente) na pequena messe da tripulação pelo bondoso cozinheiro. Não fosse o cinquentão do "Ribeira do Paúl" um hábil bailarino e poderia pensar estar num cruzeiro. Marcou-me o profissionalismo da tripulação na amarração das cargas no convés, vigilância regular durante a viagem e conforto providencial a um ou outro passageiro a necessitar de apoio. Manobra de atracação, em espaço reduzido, com ligeiros toques na máquina. Afinal ainda temos marinheiros nestas ilhas.

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