ZITO, SEMPRE!
O Zito era mais da Rua de Lisboa; eu vadiava sobretudo pela Ponta-de-Praia, base de marinheiros, pescadores, deserdados e patifórios de toda a espécie. Mas o Mindelo é só um e assim podemos juntar o mar da Praia de Bote e a calçada da rua mais cosmopolita da nossa cidade na homenagm que hoje prestamos (por não sabermos se no dia certo teremos oportunidade de o fazer) ao não substituído amigo Zito Azevedo, que a 12 de Fevereiro nos deixou.
Fiquemos com um poema do livro "Cântico da Manhã Futura" (o mais recente a entrar na nossa biblioteca cabo-verdiana), do sempre lembrado e estimado Osvaldo Alcântara / Baltasar Lopes. A grafia é a exacta, nomeadamente os pontos finais seguidos de letra minúscula.
Por outro lado, sabemos que pelo seu especial conteúdo este poema também agradará ao nosso vice-cônsul em Tours...
Por outro lado, sabemos que pelo seu especial conteúdo este poema também agradará ao nosso vice-cônsul em Tours...
Rapsódia da Ponta-de-Praia
Sigo o Espiritismo,
vou às sessões do Centro,
bebo água fluídica,
vou às sessões de limpeza.
não vou ficar
avassalado
pelo Astral Inferior.
vou fugir
naquele Grande
ou naquele suíço.
vou ser
chegador,
zeitador,
fogueiro,
criado de bordo
ou taifeiro.
Daqui a seis meses
tocarei no porto
irei
ao Farol do Viajante,
apanharei uma bebedeira
e embarcarei novamente
naquele Grange
ou naquele suíço.
Huve dissidência
no Bloco Original,
havia injustiça
no regulamento,
fundámos o Bloco Oriundo.
o baile do bloco
vai ser
um colosso universal.
Vai haver pancada,
vou brigar com polícia
porque polícia não sabe ainda
que eu sou homem macho.
Vou passar contrabando,
vou ao Porto Novo,
enganarei
os guardas de alfândega,
atravesso o Canal,
desembarco em Salamansa,
e se eu for descoberto
pelos gurdas do Comissarido
vou ter com advogado
para advogar minha sentença.
Vou fazer serenata,
vou tocar violão,
cavaquinho,
farei chocalho
de uma lata
de cigarro inglês,
vou pedir para o Rio,
Ladeira de João Homem,
uma cuíca e um reco-reco,
vou namorar,
vou cantar o samba,
vou revelar
que ela devorou meu coração,
vou ser
advogado no tribunal da tua consciência.
Não vou tirar
licença de alambique,
vou enganar o Governo,
vou fazer mel
e depois
de mel farei aguardente
em potes da Boa Vista.
Se eu for denunciado
o fiscal verá
que os ratos comeram
o lacre do meu alambique.
Vou meter melhoramentos
na minha fazenda,
dou hipoteca à Caixa,
todos os meses haverá desconto
na minha folha.
Vou fazer letra bonita,
vou escrever uma carta
ao Presidente Roosevelt
para ele distratar os meus papéis,
vou trabalhar em Bew Bedford,
vou ser tripulante de light-ship.
Eu vou-me embora,
não vou ficar mais
avassalado naquele Grange
ou naquele suíço.
Como nos faz tanta falta o Zito. Em CV estive na Rua da Moeda onde morou e de onde saiu definitivamente de CV e tive um pensamento para ele. SE visse a Rua da Moeda...
ResponderEliminarSaudades do Zito !
ResponderEliminarDo seu AcA e de todos os ingredientes que ali encontràvamos. Dos cozinheiros e dos manhentos que por ali passavam, uns para dar o seu tempêro e outros "chaleirando" saburas de todos os Continentes.
Tristeza pelo enterro sem aviso de uma "cozinha" de excelência, de paladares diversos, que deixa saudades.
Não vamos esquecer tudo isso tão cedo.
As saudades do Zito são daquelas que emolduramos e trazemos sempre penduradas na ilharga da vida porque ele era efectivamente um companheiro completo, leal e de todas as horas, as boas e as más. Já não há muitos como ele e por isso a nossa consolação é que ele viverá sempre connosco, porque assim compensaremos a a carência cada vez maior de almas grandes como a dele.
ResponderEliminarÉ a primeira vez que leio este poema. Grande poeta, o nosso também saudoso e insubstituível Baltasar Lopes.