Encerrou no passado sábado 16, a comemoração almadense dos 70 anos do lançamento do romance "Chiquinho", de Baltasar Lopes. Com organização dos portugueses Joaquim Saial, Fernando Fitas e Dina Dourado, o evento teve a colaboração da Câmara Municipal de Almada e da Embaixada de Cabo Verde. Constou de sessões de palestras, nos dias 2 e 16 de Dezembro e uma exposição de 40 livros "claridosos", pertencentes a um coleccionador particular. Todas estas actividades tiveram lugar na Sala Pablo Neruda do Fórum Municipal Romeu Correia e contaram na cerimónia de abertura com a presença da Sr.ª Presidente da Câmara Municipal de Almada e do Sr. Embaixador de Cabo Verde. Aos oradores, professores Alberto Carvalho (Baltasar Lopes), Glória de Brito (Teixeira de Sousa), João Lopes Filho (Jorge Barbosa) e Dina Dourado (Germano Almeida e o seu Sr. Napomuceno, em óbvio final não claridoso mas altamente humorístico e interessante), o Pd'B agradece, na voz do seu proprietário (que se encarregou de falar sobre capas de livros clássicos cabo-verdianos e sobre O Galo que Cantou na Baía, de Manuel Lopes), toda a disponibilidade e qualidade das intervenções feitas - que muito dignificaram a cultura cabo-verdiana e por extensão a lusíada e mais uma vez mostraram as não desmentidas boas relações (e ligações) entre os dois países e os seus intelectuais. Um abraço de agradecimento para todos.
Praia de Bote não tem conhecimento de outra iniciativa no género feita neste ano em Portugal. Mas "Chiquinho" e o seu pai mereceram-na, sem dúvida! Ficam duas imagens, de um dos expositores com 11 edições de "Chiquinho" e a intervenção de João Lopes Filho sobre o poeta Jorge Barbosa, este há três anos homenageado com placa onde faleceu na Cova da Piedade pela Câmara Municipal de Almada, com a colaboração da Associação Caboverdeana de Lisboa, Joaquim Saial e Fernando Fitas.
O Joaquim Saial, proprietário deste blogue, o nosso "Djack, não tem nada a agradecer, como faz na parte final deste post. Quem tem a agradecer é o povo cabo-verdiano, resida ele nas ilhas ou nas comunidades fora do país. Ou seja, nós é que estamos todos gratos por esta sua iniciativa cultural, e que é também cívica, de homenagear o romance Chiquinho, uma obra literária que é de um simbolismo lapidar nas letras e na história de Cabo Verde.
ResponderEliminarAinda por cima, a iniciativa realizou-se fora do país, o que não quer dizer que seja um repto aos que por dever de ofício deviam tomar a dianteira em actos desta natureza. Quer simplesmente dizer que o romance transcende as fronteiras físicas do território onde teve o seu berço para se tornar, por mérito próprio, uma referência no universo cabo-verdiano, onde quer que o povo lance a âncora da sua viagem. E a âncora tem esse desígnio, ou esse destino, de demandar todos os lugares do mundo onde o povo das ilhas se fixou e continua a fixar-se em busca de uma vida mais a contento dos seus anseios e dos sonhos que povoam o seu imaginário de não ceder ao infortúnio e às dificuldades da vida. O romance Chiquinho é um romance de todos porque foi escrito para todos, independentemente do grau de instrução escolar, porque a narrativa que contém é inteligível por qualquer um, visto que o que desfila nas suas páginas é como um palimpsesto, onde transita uma história de luta e sofrimento mas também de esperança e inconformismo. Ontem, uns foram protagonistas e deixaram nele o seu registo, hoje e no futuro outros são e outros serão. Felizmente que o protagonismo das tragédias mais dolorosas já faz parte da história. Mas que sirva o Chiquinho como bandeira de um triunfo que há-de conseguir-se em definitivo, já não com a simples força de uma resignação escatológica, mas doravante com um alento e uma força de querer que têm de ser continuamente reinventados.
Se venho tardiamente de visita a este post é porque razões de força maior não me permitiram aparecer mais cedo.
Bem-haja, Dajck!