quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

[3523] Faleceu ontem o professor, diplomata, jornalista e escritor bravense Viriato de Barros (notícia veiculada por Valdemar Pereira)

Teixeira de Sousa e Viriato de Barros
Ditou o destino que este nosso amigo morresse no dia do 7.º aniversário do Praia de Bote. Conhecemo-nos por vontade minha, pois sabendo da sua existência (e aqui perto) manifestei interesse em me encontrar com ele. Não me recordo da data, mas há-de ter sido aí por volta de 2000, mais coisa, menos coisa. Lembro-me sim que nesse dia fomos ver uma exposição de pintura no Seixal, para a qual eu estava convidado, e que ele deixou esquecido o telemóvel no meu carro - que lhe fui entregar a casa, também em Almada.

Encontrámo-nos depois aqui na minha, ele com a sua Laura, muitas vezes na rua e em outros locais, esses de "fundos" cabo-verdianos. Numa dessas situações foi ele orador principal, na homenagem que a Associação dos Antigos Alunos do Ensino Secundário de Cabo Verde  (Lisboa) fez ao médico e escritor Teixeira de Sousa no restaurante Caravela em Algés, em 12 de Novembro de 2005. Aí sei a data, pois fiz fotografias do evento que estão datadas e repousam no arquivo. Caso curioso, foi precisamente na altura que conheci em pessoa outro cabo-verdiano ilustre, mindelense (e do Mindelense) e praiabotista encartado... Adriano Miranda Lima - com quem, no entanto, já travara profusa correspondência electrónica. Fiquei também a saber nesse dia que o Viriato era irmão de outro amigo nosso e depois colega de escritas no mesmo jornal cabo-verdiano, o Arsénio de Pina e da Carlota de Barros, poetisa.

Entretanto, o Viriato foi escrevendo e publicou dois livros, "Identidade" (2001) e "Para Além de Alcatraz" (2005), onde convivem episódios das suas vivências da Brava, Fogo, São Vicente e Lisboa. E ofereceu-mos, autografados, como não podia deixar de ser. Curiosamente, o de 2001, em segunda edição, só me chegou em 2007, enquanto que o de 2005 aportou à minha biblioteca na hora.

Nos últimos anos vivia na Praia, vindo esporadicamente a Portugal. Sei exactamente, quando o vi pela última vez, em 15 de Abril de 2016, num dia em que fiz uma palestra sobre escultura pública de escritores, num Centro Cultural da Cova da Piedade. Ele surgiu lá com a Laura, não entraram, e ali logo lhe resolvi um problema que o afligia. Depois, ainda me telefonou e eu não atendi, por estar ocupado na altura. E pronto, ontem deixou de haver Viriato. Isto é, ficou a sua boa memória, de homem inteligente, grande conversador, intelectual culto e bom cabo-verdiano. Ficaram também os dois filhos de papel e tinta que me ofereceu e agora vão ser relidos. Não sei se foi ele quem inventou a expressão, mas foi da sua boca que a ouvi pela primeira vez: "Soncente é aquel país..." 

Boa viagem para o Céu, Viriato. Lá nos encontraremos, logo que os fados mandem!...




 




6 comentários:

  1. Que triste fiquei ao ler esta notícia!
    Antes demais um abraço sentido de pesar à Família enlutada.
    Um bom amigo, um colega gentil, portador daquela afabilidade da antiga e boa gente da Brava.

    Um breve apontamento sobre o escritor que ele foi. Na minha opinião,«Identidade» é a sua marca literário. Romance emblemático, na escrita de Viriato Barros, no reconhecimento das duas ilhas - Fogo e Brava, sobretudo esta última onde (o autor, o protagonista)viveu anos marcantes e que se continuaram na personagem "Helena,"no romance vivido pelos dois, nos EUA, terra de emigração bravense.

    Viriato, alguém de se guardam amigas memórias.

    Que a terra lhe seja leve e os querubins o levem com morabeza para o Céu.

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  2. Professor... Escritor... Diplomata de excelência...
    Deixa-nos o "Viras", meu companheiro de carteira no 2° ano no Gil Eanes, moço com quem tive boas melhores. Nos intervalos falava-me da Brava, ilha dos meus antepassados paternos que não conheço, entre outras coisas.
    Paz à tua alma, Companheiro, e que a terra te seja leve.
    Â Exma. Familia As minhas mais sentidas condolências.

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    1. Ops.:
      Quis dizer "boas relações" e, por lapso, talvez pelo estado no momento de escrever saiu coca. O certo é que custa ver partir um companheiro da mesma idade. Nem precisamos de qualquer aviso pois, neste mundo conturbado, estamos absolutamente tranquilos. Viriato deixa falta mas parou de sofrer.
      R.I.P.

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  3. Começo por enaltecer esta digna e justa homenagem que o Praia de Bote, na pessoa do seu proprietário, aqui presta ao nosso conterrâneo Viriato de Barros.
    O Djack relata aqui a ocasião em que nós os três nos conhecemos em pessoa- na homenagem ao Dr. Teixeira de Sousa promovida pela Associação de Antigos Alunos do Liceu de Cabo Verde - eu, o Djack e o Viriato de Barros. Desse evento, guardo a memória da alocução de Viriato de Barros sobre a figura do homenageado. Ele evocou a participação do Dr. Teixeira de Sousa no "Plano de Abastecimento de Cabo Verde em Época de Seca”, 1959-1960, mandado elaborar por decisão do então governador, Silvino Silvério Marques. Lembro-me de que o Viriato de Barros se comoveu visivelmente ao registar este facto. Deve ter-lhe vindo à memória a imagem dos companheiros de escola que viu morrer de fome na Brava, conforme relata no seu livro "Identidade" e é comentado pelo seu irmão Arsénio de Pina no prefácio da sua autoria.
    Paz à alma de um ilustre cabo-verdiano, um Grande Homem.

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  4. Lembrei-me agora destas palavras de Santo Agostinho:

    "A morte não é nada.
    Apenas passei para o outro lado do caminho.

    Que meu nome se pronuncie em casa como sempre se pronunciou.
    Sem nenhum exagero, sem rosto de sombra.
    A vida continua significando o que significou.
    Continua sendo o que era.

    Não estou longe,
    somente estou do outro lado do caminho.
    Seca tuas lágrimas e, se me amas, não chores mais."

    (Santo Agostinho)


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    1. Belo, sim senhor. Como eu costumo dizer, um luxo! Excelente epitáfio. O Viriato, há-de gostar.

      Braça,
      Djack

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