O livrinho tem apenas 96 páginas (Lisboa, 1984, 2.ª edição com adaptações, edição do autor - a 1.ª, de 1982, esgotou-se rapidamente), mas é um poço de qualidade. Entrou ontem na biblioteca do Pd'B e foi logo lido/devorado/mastigado em cerca de duas horas. Carreira foi nosso professor, na cadeira de Antropologia Social - que era partilhada com Mesquitela Lima. Dois cabo-verdianos, portanto, na lisboeta Avenida de Berna, numa Universidade Nova (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas) que era de facto nova, em idade e filosofia. E quem teve a sorte de frequentar as aulas deste duo de luxo, sempre cheias, não os esquece.
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António Carreira - Foto blogue Barros Brito |
Quanto ao exemplar de hoje, entre diversos motivos de interesse (vários, mesmo), possui este que diz muito da honestidade intelectual do seu autor. Apresenta-nos Carreira uma bibliografia de seis páginas, recheada de obras mais ou menos conhecidas, inclusive algumas de autores cabo-verdianos, como Dulce Almada, Jorge Morais Barbosa, Pedro Cardoso, Baltasar Lopes... Mas tem o cuidado de colocar no final desta enumeração a seguinte nota: "(X) As obras assinaladas com esta sigla não foram consultadas. Registamo-las para futura consulta, se possível." Ora o nosso homem, não tendo tido oportunidade de - por motivo que não vem ao caso - chegar a estas obras, mas sabendo da sua existência, não deixou de as assinalar, para seu futuro uso ou de outros investigadores. Pd'B que anda sempre metido em andanças deste âmbito, sabe bem que há muito bom
mnine d'nôs praça que escreve artigos de duas ou três páginas e lhes junta bibliografias de dez... com peças que não só não foram lidas pelo autor como não têm nada ou quase nada a ver com o assunto em causa.
Curiosa é a reprodução na página 77 e na contracapa, de imagens de páginas de um jornal de Curaçao (Antilhas, próximo da Venezuela) onde se pode ler o seu papiamento, próximo do nosso crioulo. Enfim, um bom livro que se consegue por preço assaz reduzido, neste momento. Mas para isso, é preciso ir à caça, obviamente... e este, nós caçámo-lo!
Um tema de extremo interesse e importância, sendo leigo na matéria. Como cidadão acho muito bem que estudiosos continuem a estudar o crioulo como se formou e as suas interacções com o português e os portugueses. António Carreira é daqueles grandes caboverdianos que deveria ser património. Enfim são tantos que até dá vertigem enumerar.
ResponderEliminarNunca tive oportunidade de ler um livro deste autor e tenho pena. Mas sei que ele ofereceu à minha avó paterna o livro "Formação e extinção de uma sociedade escravocrata" quando, numa altura, esteve hospedado numa parte da casa dela. Não sei o destino que o livro teve.
ResponderEliminarEsta é mais uma preciosidade descoberta pelo Djack.