domingo, 22 de julho de 2018

[3801] Para o Joman, com um abraço (ver post anterior)

1.ª adenda (de 5) a este post:
Prestes a lançarmos este post, demos com a até agora única referência conhecida (excepto as duas notas do Pd'B) à morte do Joman. Ela aqui fica. É do jornal "A Nação", de dia 20 de Julho.


2.ª adenda (de 5) a este post: 
Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde reconhece a 23 de Julho importância da obra de João Manuel Nobre Ferro de Oliveira para o País.





















3.ª adenda (de 5) a este post:
Nos quatro dias que este post conta aqui exposto, já teve 204 visitas.










4.ª adenda (de 5) a este post:
Bibliografia de João Manuel Ferro Nobre de Oliveira em "Memórias de África e do Oriente", Universidade de Aveiro, Portugal














5.ª adenda a este post
Interessante texto de David Leite Ver AQUI

c.1974 - Joman (ao centro), no nariz do Monte Cara
O João Manuel Ferro Nobre de Oliveira nasceu em 10 de Agosto de 1955, no Paúl de Santo Antão e faleceu a 18 de Julho passado, em Macau (ou talvez em Hong Kong, onde foi operado pela última vez). E como este mundo é cheio de mistérios, no dia em que soube da morte do ilustre amigo (e quase à mesma hora), recebi pelo correio, proveniente de um alfarrabista de Benavente, um livro de Manuel Lopes intitulado... "Paúl".

Manuel Lopes publicou os seus primeiros dois livros no ano de 1932. "Paúl" e outro, "Monografia Descritiva Regional". Não sei qual saiu primeiro, mas, seja como for, "Paúl" está no início da carreira deste escritor cabo-verdiano que muito admiro. Obrinha de 29 páginas, relata uma viagem sua à localidade santantonense de onde durante três anos bebi água, transportada diariamente no veleiro "Carvalho" (de Santo Antão para São Vicente), propriedade do senhor Henrique Ferro, "Firrim", grande e inesquecível amigo da minha família e familiar do Joman. Em 1934 seria a vez de Lopes lançar "Horas Vagas" (poesia) e em Agosto de 1936, no n.º 2 de "Claridade", daria à estampa o conto "Um galo que cantou na baía". Seguir-se-ia uma obra longa e diversificada que não vem agora ao caso comentar mas que é ainda hoje uma das mais significativas das ilhas verdianas.

c. 2008 - No Vietname
É pela coincidência que apresentamos a capa e algumas páginas de "Paúl", para que o nosso amigo as possa ler aqui e divertir-se com elas, pois retratam uma vivência que decerto ainda conheceu, embora no seu tempo já houvesse cais do Porto Novo e algumas melhorias no Paúl, em relação a estes tempos difíceis de início dos anos 30 do século XX.

Particularidade curiosa: este exemplar de "Paúl" pertenceu a Manuel Serra (Manuel Coelho Pereira Serra), advogado e poeta satírico cabo-verdiano, pai do pianista Chico Serra, como se pode ver pela assinatura de posse existente no frontispício - que sofreu algumas inclemências em tempos incertos, pelo que alguém o retocou com esferográfica... azul. Pertenceu pelo menos ainda a outra pessoa, cuja assinatura de posse, mal apagada, estamos a tentar decifrar.

C. 2011, - Com Gilberto Gil, em Macau
Trata-se de uma edição de autor, feita na mesma tipografia onde seriam realizados os números de "Claridade". Compare-se, por exemplo, o tipo de letra do título "paúl" (em caixa baixa) com o de títulos da primeira página dos n.ºs 1, 2 e 3 de "Claridade".

Digamos que assim se faz também uma micro-aproximação à história da tipografia cabo-verdiana de que o João Manuel era bom conhecedor, por via dos seus estudos sobre a imprensa das ilhas.











quinta-feira, 19 de julho de 2018

[3800] O Joman partiu para a terra (mais) longe. João Manuel Nobre de Oliveira, um grande cabo-verdiano


Conhecemo-nos através de um fotolog que reunia alguns cabo-verdianos em divertida partilha de ideias, conversa e fotografias (primeiro objectivo desse programa da Internet). Depois, uns cansaram-se, entretanto entraram outros sem graça e a coisa mais ou menos acabou. Mas restou a amizade de alguns, como o Valdemar, o Djô Martins (que não tenho visto ultimamente), o Fernando Frusoni (que também não tem aparecido), o Necas Paris e o João Manuel Joman Nobre de Oliveira. A questão intelectual uniu-nos e ficámos amigos, trocando correspondência e livros. Lembro-me de que uma das primeiras coisas que me disse foi que numa viagem de Macau para Cabo Verde (ou vice-versa, pelo menos, acho que a viagem era entre os dois pontos), ele e outro amigo cabo-verdiano estavam a ler o meu então muito recente romance "Capitania" e quando davam por alguém conhecido de quem eu ali falava, gritavam um para o outro (não estavam sentados perto), dizendo "Olha, também entra o Pikau" ou "Também aqui vem o John Estêvão" ou ainda "Vê na página tal, o Vicente Chantre".

Depois, foram vários almoços em Lisboa e dois jantares aqui em casa, com a esposa, duas noites de grande fraternidade e, claro, imensa "morabeza". Da última, já fora operado aos pulmões mas estava em grande forma, pensando-se que a doença estava debelada por inteiro.

Em 28 de Agosto de 2009, quando nos encontrámos ao vivo pela primeira vez, oferecera-me e autografara o seu monumental "A Imprensa Cabo-Verdiana, 1820-1975", editado pela Fundação Macau - Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, em Setembro de 1998, por ocasião de uma visita a Cabo Verde do Governador de Macau, general Vasco Rocha Vieira.

Falou-me ele de todas as vezes num outro longo e desenvolvido trabalho que tinha em mãos, sobre genealogia das famílias cabo-verdianas. Não o conseguiu editar e tenho a certeza de que para além da saudade de deixar esposa e filhos muito lhe deve ter custado partir sem esse outro "filho" ter sido dado à luz. Veremos o que a família decidirá sobre esta peça fundamental da história das ilhas - a qual, como é óbvio, terá MESMO de ser editada.

Deu-me o Valdemar a tristíssima notícia, em que às primeiras nem consegui acreditar, de tão inesperada que foi. Estou (e estarei) ainda atordoado, pois pensava que a maldita doença tinha sido debelada. Assim não aconteceu. Resta-nos a memória de um bom amigo e de um excelente historiador. Esperemos que as autoridades cabo-verdianas também tenham o João Manuel na boa conta que ele mais que merece...

Um braça pertóde pa bô, Joman,
Djack