quinta-feira, 19 de julho de 2018

[3800] O Joman partiu para a terra (mais) longe. João Manuel Nobre de Oliveira, um grande cabo-verdiano


Conhecemo-nos através de um fotolog que reunia alguns cabo-verdianos em divertida partilha de ideias, conversa e fotografias (primeiro objectivo desse programa da Internet). Depois, uns cansaram-se, entretanto entraram outros sem graça e a coisa mais ou menos acabou. Mas restou a amizade de alguns, como o Valdemar, o Djô Martins (que não tenho visto ultimamente), o Fernando Frusoni (que também não tem aparecido), o Necas Paris e o João Manuel Joman Nobre de Oliveira. A questão intelectual uniu-nos e ficámos amigos, trocando correspondência e livros. Lembro-me de que uma das primeiras coisas que me disse foi que numa viagem de Macau para Cabo Verde (ou vice-versa, pelo menos, acho que a viagem era entre os dois pontos), ele e outro amigo cabo-verdiano estavam a ler o meu então muito recente romance "Capitania" e quando davam por alguém conhecido de quem eu ali falava, gritavam um para o outro (não estavam sentados perto), dizendo "Olha, também entra o Pikau" ou "Também aqui vem o John Estêvão" ou ainda "Vê na página tal, o Vicente Chantre".

Depois, foram vários almoços em Lisboa e dois jantares aqui em casa, com a esposa, duas noites de grande fraternidade e, claro, imensa "morabeza". Da última, já fora operado aos pulmões mas estava em grande forma, pensando-se que a doença estava debelada por inteiro.

Em 28 de Agosto de 2009, quando nos encontrámos ao vivo pela primeira vez, oferecera-me e autografara o seu monumental "A Imprensa Cabo-Verdiana, 1820-1975", editado pela Fundação Macau - Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, em Setembro de 1998, por ocasião de uma visita a Cabo Verde do Governador de Macau, general Vasco Rocha Vieira.

Falou-me ele de todas as vezes num outro longo e desenvolvido trabalho que tinha em mãos, sobre genealogia das famílias cabo-verdianas. Não o conseguiu editar e tenho a certeza de que para além da saudade de deixar esposa e filhos muito lhe deve ter custado partir sem esse outro "filho" ter sido dado à luz. Veremos o que a família decidirá sobre esta peça fundamental da história das ilhas - a qual, como é óbvio, terá MESMO de ser editada.

Deu-me o Valdemar a tristíssima notícia, em que às primeiras nem consegui acreditar, de tão inesperada que foi. Estou (e estarei) ainda atordoado, pois pensava que a maldita doença tinha sido debelada. Assim não aconteceu. Resta-nos a memória de um bom amigo e de um excelente historiador. Esperemos que as autoridades cabo-verdianas também tenham o João Manuel na boa conta que ele mais que merece...

Um braça pertóde pa bô, Joman,
Djack


3 comentários:

  1. Pena partiu muito cedo quando ainda tinha muito para dar ao Mundo da lusofonia.
    Cabo Verde ficou mais pobre

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  2. Além de tudo aquilo que o Joaquim Saial relembra e enaltece, com que me identifico totalmente, o João Manuel era meu parente pelo lado paterno, pois que a minha bisavó Ana Oliveira era tia-bisavó dele. Há alguns anos, ele forneceu-me importantes elementos sobre a genealogia familiar mais remota do lado Lima e Oliveira. E da minha parte dei-lhe elementos sobre as gerações mais actuais.
    É uma grande perda para Cabo Verde. Associo-me ao luto de toda a família. Paz à sua alma!

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  3. Depois de uma dezena de dias numa aldeia da Auvergne, vim, com saudades de todos, dar uma falinha e vejo que o bote não saiu da praia desde que perdemos o João Manuel.
    Nunca tive a oportunidade de o encontrar, apesar de me avisar sempre das chegadas a Lisboa. Fico ainda com mais pena pois tinhamos a dizer para o seu livro sobre a genealogia.
    Poucos meses antes da infausta noticia, a meu pedido, ele me mandou a minha biografia pois não queria outra diferente do que ele escreveu. Falamos da publicação da obra e disse-lhe que gostaria de a ter antes de chegar a minha hora.
    Espero que os seus familiares publiquem o(s) livros(s) quanto antes em memôria do autor.
    R.I.P Joman.

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