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Arsénio de Pina |
Houve um artigo teu (Joaquim Saial) em que falas num barco cujo nome me escapa agora John qualquer coisa
[NOTA do Pd'B: trata-se da escuna "John Manta" que em Março de 1920 andava na pesca da baleia sob o comando do capitão António (ou Anthony) J. Mandly e em Fevereiro de 1935, já na carreira de New Bedford - Cabo Verde, estava desaparecida] -, que fazia a carreira para os EUA, barco em que viajou o meu pai na década de vinte ou princípio de trinta para S. Vicente, onde iria fazer o serviço do Porto Grande (Sanidade Marítima e Delegação de Saúde), acompanhando o grande amigo, imediato do barco, ferido gravemente na Furna por uma corda que se rompeu e lhe decepou incompletamente o braço. Contava que o imediato, embora gravemente ferido, ia avisando a tripulação, ao longo da viagem ,“Nhôs bombâ água!” Quando chegaram a S. Vicente, ao cabo de uma noite de viagem, o porão estava cheio de água e a bagagem boiava nela. Ele ainda ajudou na cirurgia, realizada pelo Dr. Miranda (indiano).
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Zizim Figueira |
Vou contar-te uma história de que tive conhecimento pelo Zizim Figueira, com quem tive longa correspondência, por estar a tratar da publicação das suas estórias tão interessantes naquel criol de Soncente, que infelizmente se malogrou devido à sua morte súbita e pela teimosia de não me enviar as estórias selecionadas por estar sempre a revê-las e querer enviar-mas completas. Tinham até prefácio do meu irmão Viriato. Tentei recuperá-las através da viúva, o que não deu resultado.
[NOTA do Pd'B: parece que por milagre este caso está resolvido, pois entretanto uma filha do Zizim que tem os textos chegou à fala com Arsénio de Pina].
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António Aurélio "Roque" Gonçalves |
Estava o Mestre "Roque" Gonçalves conversando entretidamente com o Dr. Daniel Tavares, no passeio da Rua Lisboa, à frente do antiga Farmácia Teixeira, recostado na sua bengala, que segurava nas costas com as duas mãos, quando apareceu um
daquês menine veluntare, malcriode, de Soncente, que aplicou um pontapé à bengala do Mestre Roque Gonçalves, levando este a desequilibrar-se em ginástica de acrobacia para não se estatelar no chão. Enquanto se livrava da queda foi gritando ao Dr. Daniel, naquele seu falar lento, pronunciando arrastadamente todas as sílabas,
“Oh Nhelass, estica´m quêss canela e bô panha` m quel fi de cadelaa!!” Claro que quando acabou de falar, o miúdo já estava no passeio do Palácio, tendo passado em velocidade pelo Dr. Daniel.
Não garanto a veracidade da estória, visto a malta do liceu desse tempo ser useira e vezeira em inventar estórias jocosas, sendo vítimas o Mestre Roque Gonçalves, Damatinha, José Inocêncio (Djô fei), Bitim Sarampo, Guste Cavirinha, entre outros.
As estôrias do rapaz eram divertidas mas... não vejo Nhô Roque na lista das vitimas dos "buzode". Nem tampouco o vocabulàrio.
ResponderEliminarQue Deus tenha a sua alma no devido lugar
Há uma história parecida, com os mesmos ingredientes, uma parte é verdadeira, outra acho que é gozo da malta de S. Vicente. Pois é, recordo de um dia, que ao vir para a mesa para o café da manhã, o meu tio, voltou-se para a irmã, a minha tia, e disse-lhe: Oh Djú, ontem à noite, um cão atirou-se a mim e rasgou-me as calças literalmente até abaixo! E entregou as calças castanhas à minha tia para coser. Uns dias depois, ouvi aquela malta na Rua de Lisboa a contar que Nhô Roque, vinha com João Lopes e Dr. Daniel num passeio noturno lá pelos lados da Salina, quando um cão começa a ladrar, atira-se a Nhô Roque e descose-lhe as calças! Nhô Roque então teria solicitado ajuda ao Dr. Daniel dizendo: Oh Nhelas, esticá-me quel canela! Bô panhâ-me quel fi-de-cadela! - Esta ultima parte, claro foi acrescentada pela malta «busode de Son Cente» a uma história verdadeira! - Por Carlos Filipe Gonçalves «Kalu de Nhô Roque» - akg_mix@hotmail.com
ResponderEliminarKalu,
EliminarRegozijo-me com a tua versão para que eu não seja catalogado de mà lingua.
Ê sabido que nesse tempo havia (como sempre, aliàs) uns mnis buzode mas não vejo quem brincasse deste modo com o tão estimado e respeitado Nhô Roque.
Caro Kalu,
ResponderEliminarObrigado pela tua participação com comentário "profissional" neste post, pois sabemos da tua profunda ligação a Nhô Roque.
Um braça pa bô,
Djack
Olá caro amigo: As estórias à volta de Nhô Roque têm sempre um fundo de verdade, sobre o qual gira o humor mindelense. Depois surgem diversas versões cada vez mais apimentadas, e muitas vezes acaba numa historia diferente… porque: quem conta um conto, acrescenta um ponto! Bem satirizada na coladeira «Ponto Pontim»
EliminarEfectivamente parece-me que a versão do Calú fa mais sentido já que é sobrinho do Nho Roque, com quem partilhava a mesma casa.
ResponderEliminarEsta estória é típica de S. Vicente e parece-me mais uma daquelas que são compostas com o peso e medida certos de ingredientes hilariantes.
ResponderEliminarQuanto à veracidade da versão contada pelo Zizim, também tenho sérias dúvidas que algum mnin busod tivesse alguma vez a ousadia de cometer semelhante façanha contra o saudoso Roque Gonçalves. Para o povo, gent grand ou gent picni, nhô Roque tinha uma aura de santidade.